Presidente do Chile deseja implementar uma política retratação aos povos indígenas, por causa da colonização e invasão dos povos europeus
Com um gesto inédito na história política do Chile, a presidente recém-empossada, Michelle Bachelet, endossou o pedido de perdão ao povo Mapuche, feito na semana passada pelo novo governador da Araucânia, Francisco Huenchumilla, devido ao “despojamento e a ocupação” de suas terras por parte do Estado chileno. Mas Huenchumilla também pediu perdão aos descendentes dos colonos estrangeiros “porque o Estado chileno os trouxe a um lugar inadequado”.
A alusão de Huenchumilla – advogado descendente de Mapuches, ex-deputado do Partido Democrata-Cristão por três legislaturas, ex-prefeito de Temuco e ex-Ministro da Casa Civil do Governo Ricardo Lagos – aos emigrantes, diz respeito aos alemães, suíços, ingleses e franceses que a partir de 1880 foram assentados na Araucânia com títulos de “terras devolutas”, que na realidade tinham sido usurpadas aos Mapuches pelo Estado chileno após a eufemística “Pacificação da Araucânia” – guerra sangrenta que durou de 1861 a 1883, mediante a qual a nova elite burguesa chilena violou o Tratado de Soberania Territorial Araucana, respeitado tanto por espanhóis e libertadores, e que estabelecia o Rio Biobio como fronteira norte da Nação Araucana.
Huenchumilla deu dois passos na direção de seus irmãos de sangue: leu um documento de cinco laudas escritas de próprio punho, por ele definido como “carta náutica” das negociações que o aguardam. Depois foi reunir-se com as lideranças da Comunidade Autônoma de Temucuicui, epicentro, há alguns anos, do assim chamado “Conflito Mapuche”.
Por sua vez, em entrevista que foi ao ar pela CCN Chile, Bachelet indicou que o roteiro da autoridade regional está afinado com o programa que seu governo pretende implementar, e reconhecendo que, “se bem houve avanços durante os anos de regime democrático, há uma dívida pendente”.
Huenchumilla e Bachelet têm consciência que a Araucânia quinhentista cantada no poema de gesta de Alonso de Ercilla é hoje território devastado, do Pacífico à Cordilheira com suas matas aniquiladas por fazendas de europeus e megafúndios de monoculturas de eucalipto e pinus, que promoveram literal cerco dos seus habitantes originários e, apesar de localizado na franja subtropical-patagônica, já se ressente de secas prolongadas e e falta de água.
Foi sob os governos democráticos, pós-pinochetistas, que uma nova geração retomou a bandeira da Autonomia Territorial Mapuche, cujo setor mais radicalizado – como a “CAM- Coordinadora Arauco-Malleco” – passou à clandestinidade, cobrando a “guerra de libertação nacional”, com atos de invasão e incêndio de fazendas. Os serviços de inteligência conseguiram infiltrar o movimento com jovens Mapuches e perpetrar atos de sabotagem e atentados depois atribuídos à CAM, que têm aproximadamente dez líderes presos, processados em base à Lei Anti-Terrorista de Pinochet, um anacronismo ainda em vigor.
Por isso, durante sua reunião em uma fazenda ocupada pelos Mapuches, em Temucuicui, Huenchumilla foi enfático ao afirmar que na zona do conflito “no hay terroristas!” nem delinquentes, como quiseram fazer crer durante os últimos anos, fazendeiros, o Ministério Público e setores da imprensa.
Humildemente, Huenchumilla tomou nota das reivindicações da comunidade, que se apresentou muito determinada, dando ao governador quinze dias de prazo para retirar da zona a polícia militarizada “Carabineiros” e iniciar a distribuição de terras.
O governador aceitou as reivindicações e o prazo..
O “Conflito Mapuche” dá seus primeiros sinais de distensão.
Fonte: Jornal GGN