As críticas vem após o governador Renato Casagrande anunciar uma gradual reabertura
Na última segunda-feira (11), as centrais sindicais lançaram uma nota contra a reabertura do comércio no estado do Espirito Santo. A medida foi anunciada pelo governador Renato Casagrande, que realizou uma transmissão ao vivo no último dia 8.
Na nota, as centrais alertam sobre os enormes riscos dessa ação, que surge em meio a números alarmantes de diagnósticos e óbitos por coronavírus. No caso do estado capixaba, cerca de 6 mil casos diagnosticados e 250 mortes.
Outro ponto lembrado pelo texto, foi o fato do Espirito Santo ser a unidade federativa com os índices mais baixos de isolamento do sudeste. Dessa forma, a reabertura do comércio agravará uma situação que já estava longe do recomendado, verticalizando ainda mais a curva das contaminações.
Por fim, ressalta a contradição lançada pelo governo do estado que, ao mesmo tempo incentiva o isolamento individual, cria condições que levam a população para fora de suas casas.
Confira abaixo o texto na íntegra:
Reabertura do comércio no ES ameaça vidas
Na contramão das ações e medidas contra a covid-19, o Governo do Estado decretou a reabertura do
funcionamento do comércio capixaba. O movimento social e sindical vem a público alertar sobre o
risco desta ação, num momento em que Espírito Santo registra 4.599 casos confirmados e 181 óbitos
pelo coronavírus, segundo balanço de domingo, 10. Uma pergunta se impõe: é hora de relaxar o isolamento social, medida mais eficaz para controlar o avanço da pandemia?
Com a curva de contaminação crescente, não podemos prever que a vida social e econômica seguirá seu
curso natural com a volta do comércio. Pelo contrário. De acordo com o estudo feito pelo Imperial College
de Londres, o Brasil é o país com a maior taxa de contágio pelo novo coronavírus no mundo. Neste sentido,
os movimentos sociais e sindicais reafirmam seu compromisso com a vida dos trabalhadores, das trabalhadoras e a da população em geral e se posicionam contra o relaxamento das medidas de isolamento.
No dia 7 de abril, a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, importante periódico científico, publicou uma previsão de pico da covid-19 entre os meses de abril e durante todo o mês de maio.
A previsão alerta para a necessidade de reforçar o distanciamento e o isolamento como medidas
preventivas, assim como o uso dos equipamentos de proteção, como máscara e álcool gel – recomendações unânimes entre as autoridades de saúde para conter a pandemia.
Vimos exemplos recentes de países ou cidades que liberaram o comércio e tiveram que voltar atrás em
decorrência do aumento de casos, como a Itália, cujas autoridades tiveram que se retratar após enfrentar milhares de mortes. Também o estado de Santa Catarina, no final de abril, teve que rever sua decisão de acabar com o isolamento social após ter os casos triplicados com a reabertura do comércio.
O Espírito Santo já possui o 6ª pior índice de isolamento social do País e o mais baixo da região sudeste,
segundo pesquisa divulgada na imprensa. São 53,3% da população em quarentena, ante os 70% indicados por especialistas como índice ideal para reduzir a velocidade de contaminação. A própria Secretaria Estadual de Saúde já avalia a possibilidade de lockdown, ou seja, de bloqueio completo da circulação de pessoas, caso o isolamento social não seja cumprido. Mas ao mesmo tempo que o Governo do Estado cobra a adesão individual ao isolamento, ele não cria as condições para que o mesmo seja cumprido. Entendemos que a manutenção do fechamento do comércio é indispensável para que as pessoas permaneçam em suas casas, tomando todos os cuidados possíveis para evitar o contágio da doença.
Estamos vivendo algo atípico e com consequências ainda difíceis de serem estimadas. Todas as esferas da
nossa sociedade estão sendo atingidas. Reconhecemos as dificuldades enfrentadas por lojistas e empresários, porém, o governo não pode ceder às pressões. A vida das pessoas deve estar acima do lucro.
Exigimos que o governador Renato Casagrande revise a decisão de reabertura do comércio e só o faça
quando tivermos condições mais seguras para tal, observando o achatamento da curva de contaminação. Além disso, cobramos do governador a participação dos movimentos sociais e sindicais nos espaços de decisão para garantir os direitos de trabalhadores e trabalhadoras e da população em geral durante a pandemia.