Projeto propõe taxa de juros baixa, câmbio competitivo e reforma tributária para o desenvolvimento econômico do País
Com uma proposta constituída por estratégias e uma linha de pensamento nacionalista e progressista ao debate sobre o desenvolvimento econômico do País, foi apresentado às centrais sindicais, na última quinta-feira (10), o manifesto Brasil Nação. Redigido pelo economista e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, e assinada por mais 177 personalidades brasileiras, o projeto tem como objetivo conscientizar e ampliar o debate a respeito da soberania nacional com a sociedade. O evento, que reuniu autoridades acadêmicas, políticas e sindicais, aconteceu no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo.
Sob o lema de resgatar o Brasil e a construção nacional, o manifesto lista cinco pontos essenciais à retomada do crescimento econômico – estacionado desde a década de 1980 segundo Bresser-Pereira. Questões que a CSB e a unidade das centrais sindicais também já haviam apontado, em 2010 e 2015, como fundamentais para o País voltar a crescer mais do que os atuais 0,7% estimados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) este ano.
De acordo com o documento, uma regra fiscal que permita a atuação contracíclica do gasto público, e assegure a prioridade à educação e à saúde; uma taxa básica de juros em nível mais baixo, compatível com o praticado por economias de estatura e grau de desenvolvimento semelhantes aos do Brasil; um superávit na conta corrente do balanço de pagamentos que é necessário para que a taxa de câmbio seja competitiva; a retomada do investimento público em nível capaz de estimular a economia e garantir investimento rentável para empresários e salários que reflitam uma política de redução da desigualdade e uma reforma tributária que torne os impostos progressivos são os caminhos ao desenvolvimento.
Secretário-Geral da CSB, Alvaro Egea participou do debate e destacou que os principais beneficiários das políticas propostas pelo manifesto são os trabalhadores, a classe média e os empresários do setor produtivo. De acordo com o sindicalista, o projeto “é um ato inaugural para formar uma nova consciência e juntar forças que possam constituir uma nova nação”.
“A ausência de um crescimento econômico sustentável tem gerado na população uma sensação muito ruim de desconsolo, de desespero. A política do governo federal é uma política de destruição dos direitos sociais, do Estado, da nossa economia e é absolutamente contrária aos interesses do povo brasileiro. Por este motivo, nós, da CSB e das centrais, entendemos que há muita coincidência entre o manifesto e o que propomos, como: restabelecer a soberania, o fortalecimento do Estado e um desenvolvimento com forte impulso à industrialização. E tudo isso com vistas a gerar empregos, renda e a combater a desigualdade social e o rentismo”, analisou Egea.
Durante a discussão, coordenada pela jornalista Eleonora De Lucena, Bresser-Pereira afirmou que apesar de a indústria representar, hoje, 9% do PIB contra os 25% de 1980, o País tem condições de investir 25% de suas riquezas com o social, principalmente. O que o economista defende é o fim da predominância do pensamento neoliberal nas tomadas de decisões.
“Desde 2001, quando saí do governo Fernando Henrique Cardoso, vi que a política econômica era o liberalismo puro. No governo FHC, tive a sensação que o governo resolvia bem a questão dos direitos humanos, do combate à pobreza, mas sua política econômica era liberal. [Então], formulei uma nova teoria, do novo desenvolvimentismo, que tem poucos economistas seguidores. Aliás, os economistas e os jornalistas econômicos são todos ideólogos do liberalismo, do neoliberalismo e do rentismo. E os rentistas defendem ajuste fiscal e reforma trabalhista com desemprego, queda de renda e consumo”, explanou o cientista político e social, que angariou apoio do movimento sindical.
Segundo Alvaro Egea, a CSB e as demais centrais se comprometeram a disseminar e participar ativamente do debate para impulsionar as propostas do manifesto junto com outros setores da sociedade. O objetivo é “elaborar uma nova política econômica para o Brasil”.
“Nós, trabalhadores, queremos uma política fiscal responsável, mas não para acumular dinheiro e dar aos banqueiros, e sim para que o Estado seja saudável financeiramente e um agente de fomento ao desenvolvimento. Não somos a favor da alta inflação, dos altos juros e do sucateamento do Estado. Nós defendemos um câmbio que favoreça o crescimento das indústrias nacionais e um controle do déficit, concluiu o dirigente.
Lançado em abril deste ano, o manifesto também foi assinado originalmente pela jornalista Eleonora De Lucena; pelo embaixador Celso Amorim; pelo músico e escritor Chico Buarque; pela cartunista Laerte; pelo ator e cineasta Wagner Moura; pelo escritor Marcelo Rubens Paiva; pelo político Ciro Gomes; pelo economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo; pelo filósofo Renato Janine Ribeiro; pela psicanalista Vera Bresser-Pereira e pelos jornalistas Paulo Henrique Amorim e Mino Carta.