“Bonifácio já pensava em industrialização, e Vargas foi o grande construtor da indústria nacional”, afirma Embaixador Carlos Henrique Cardim

No Seminário Nacional de Formação Política da CSB, cientista político expôs a vida e obra de José Bonifácio, o Patriarca da Independência

Soberania nacional, desenvolvimento industrial e relevância de personalidades políticas brasileiras deram o tom da quinta palestra do Seminário Nacional de Formação Política da CSB, realizado nesta segunda-feira (06/07). Para falar sobre a “Vida e obra de José Bonifácio, o Patriarca da Independência”, subiu ao palco o embaixador e chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) Carlos Henrique Cardim.

Cientista político e doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), o embaixador abriu a palestra com a expressão “dia-séculos”, uma alusão à obra do historiador João Capistrano de Abreu para definir o histórico 7 de setembro de 1822, Dia da Independência do Brasil. Segundo o também professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), há mais de trinta anos, a data concentrou todas as aspirações brasileiras acumuladas em três séculos.

“A independência foi um grande movimento social de cunho revolucionário e libertário; uma revolução de mudança rápida. Esse momento foi de afirmação da nacionalidade, que teve nas figuras de D. Pedro I e José Bonifácio seus principais líderes”, afirmou Cardim.

Reavivada durante todas as exposições e debates do Seminário de Formação Política da Central, a importância do sentimento nacionalista também foi ressaltada por Carlos Henrique Cardim ao dissertar sobre a trajetória de vida do primeiro ministro brasileiro.

José Bonifácio de Andrada e Silva, nascido na segunda metade do século XVIII em Santos, cidade da antiga capitania de São Paulo, foi além de um cientista, estudioso das áreas de mineralogia, engenharia e metalurgia, um homem político. Filho de uma família de aristocratas portugueses – parentes dos condes de Amares e marqueses de Montebelo –, Bonifácio explorou o continente Europeu por anos, mas, “nunca perdeu seu sentido de brasilidade e sempre pensou em um dia voltar ao Brasil”.

“Ele pensava em retornar e idealizar aquele que seria seu País de origem. Quando ele chegou ao Brasil, José Bonifácio tinha um projeto montado do que ele queria que fosse a nação”, explica o embaixador. De acordo com Cardim, apesar do patriarca da independência ter defendido uma ativa participação do País no cenário internacional e possuído uma personalidade formada por dicotomias, ele ainda “é um exemplo concreto do brasileiro autoexilado que nunca perdeu o espírito Brasil”.

Conservador e liberal, idealista e pragmático, patriota e cosmopolita, o perfil múltiplo de José Bonifácio conquistou a confiança do príncipe regente D. Pedro I ao retornar para o País, e o fez se tornar ministro do Reino/Interior e dos Negócios Estrangeiros após o início de sua carreira política em São Paulo. Durante seu mandato, algumas causas protagonizaram sua agenda como homem público. A abolição gradativa da escravidão, a miscigenação étnica e a preservação das florestas foram algumas delas, porém construir uma nação homogênea e soberana foi seu principal compromisso.

Em entrevista, o chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do MCTI, Carlos Henrique Cardim, afirmou que José Bonifácio deixou uma mensagem clara a qual pode oferecer uma alternativa de raciocínio para solucionar até os desafios da atual conjuntura política brasileira: a importância de pensar no País como um todo.

“Hoje, o que vejo no Brasil é uma fragmentação de visões e uma perda de perspectiva nacional. A superação do [chamado pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek] arquipélago Brasil – físico e mental – é uma contribuição do Bonifácio, que tinha uma visão do País como inteiro”, expôs o embaixador. De acordo com Cardim, “o Estado nacional tem um papel importantíssimo na própria estruturação da sociedade e continua imprescindível para que o sistema Brasil (Estado + Nação) progrida”.

Ainda segundo o embaixador e cientista político, existe um nome para a causa de o Brasil ter mantido sua unidade territorial em uma América Latina fragmentada: José Bonifácio. “Temos que ter mais consciência sobre essa extensão geográfica. O Brasil é um País continental, o quinto em extensão territorial no mundo e tem uma expressão internacional muito grande, independente se for monarquia ou república. Esse Brasil continental é o País de José Bonifácio”, declarou Cardim.

Industrialização e Getúlio Vargas

O embaixador Carlos Henrique também destacou a influência de José Bonifácio e do ex-presidente Getúlio Vargas na industrialização do Brasil. De acordo com Cardim, “tanto Getúlio quanto Bonifácio foram homens de ciência. Bonifácio já pensava em industrialização e Vargas foi um grande construtor da indústria nacional”. “Portanto, eu vejo uma aproximação, uma continuidade, uma realização de muitos ideais do patriarca na gestão do presidente Vargas. Se o Brasil não fosse industrial, não seria uma nação democrática”, completa o embaixador.

Para o cientista político e doutor em sociologia, ambas as personalidades compreenderam que existe no Brasil um destino de progresso. “Se há um nome que engrandece o País, é José Bonifácio. Pela sua profunda percepção dos anseios nacionais e de nossas potencialidades, ele vislumbrou naquele momento uma grande nação e Getúlio também percebeu isso. A fé de ambos não era uma fé cega, mas uma grande intuição”, elucidou o embaixador.

Consciência Política

Outro tema destacado por Carlos Henrique Cardim durante a palestra foi a importância do desenvolvimento de uma consciência politizada, objetivo do Seminário de Formação Política da CSB. Segundo o embaixador, “o quadro político não se resolve com uma fórmula eleitoral e uma legislação partidária”. “A democracia precisa de uma cidadania viva na qual todos nós nos reconhecemos políticos e democratas”, afirmou Cardim.

Para finalizar a apresentação, o chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do MCTI declarou que acredita que o Brasil possui um destino de grandeza e citou um trecho do poema “Ode aos Baianos”, de José Bonifácio de Andrada e Silva:

“Amei a liberdade, e a independência

da doce cara pátria, a quem o Luso

oprimia sem dó, com riso e mofa –

eis o meu crime todo”

Veja a galeria de fotos do Seminário Nacional de Formação Política da CSB

Assista à integra da palestra de Carlos Henrique Cardim no vídeo abaixo:

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