Queda de 0,75 ponto já era esperada, mas autoridade surpreende e indica que ainda pode haver novos cortes
Ainda sem sinais visíveis de recuperação da economia, o Banco Central decidiu reduzir seus juros para a menor taxa real -descontada a inflação esperada- já medida pelas estatísticas disponíveis, desde o Plano Real.
O comunicado divulgado ontem à noite pelo Comitê de Política Monetária suscitou ainda a leitura de que novas reduções podem acontecer.
Conforme o documento, os juros do BC, que servem de base para aplicações financeiras e empréstimos bancários, cairão de 9,75% para 9% ao ano, em decisão unânime e amplamente esperada.
O dado menos evidente é que o novo patamar significa um recorde histórico para um país notório pela convivência, desde a década retrasada, com os juros mais elevados do mundo.
A Selic, como é chamada a taxa do BC, ainda está acima dos 8,75% fixados em julho de 2009, quando a indústria e os investimentos ainda sofriam os impactos mais drásticos da crise internacional.
No entanto, quando se leva em conta a alta da inflação, a taxa real de hoje, de 3,3%, está abaixo dos 3,9% daquele período.
Em outras palavras, o estímulo monetário aplicado hoje pelo BC para reanimar a atividade econômica já supera o da crise de 2009.
Desde que o fim da superinflação, em 1994, permitiu estatísticas mais confiáveis e comparáveis, a Selic chegou a ultrapassar os 40% no governo FHC, e a taxa real superou os 16% ao ano no início da administração petista.
Apesar do atual ciclo de redução, o Brasil continua com a segunda maior taxa de juros reais do mundo, atrás apenas da Rússia (4,2%), de acordo com ranking da corretora Cruzeiro do Sul.
LIMITES DA QUEDA
As perspectivas de novas reduções dos juros são incertas. Até anteontem, as projeções mais consensuais eram de que o ciclo de queda da Selic seria encerrado ontem.
O comunicado do BC, porém, deixou dúvidas ao considerar “limitados os riscos para a trajetória da inflação” e afirmar que a medida está “dando seguimento ao processo de ajustes das condições monetárias”.
“Esperava-se uma parada nos cortes, mas o comunicado trouxe um leve viés de baixa”, disse Flávio Serrano, do Banco Espírito Santo.
Em nota, a Rosenberg Consultores afirmou continuar acreditando no fim da trajetória de baixa, mas com a ressalva de que é prudente aguardar a divulgação da ata da reunião do BC.
Para o economista Roberto Troster, “poucas vezes o BC foi tão explícito” ao prever novos cortes. Já Silvia Matos, da Fundação Getulio Vargas, entende que o texto do documento apenas justifica a medida.
Fonte: Folha