Avanço da informalidade mascara verdadeira situação do emprego no Brasil

Segundo o IBGE, crescimento de vagas informais causou a redução do desemprego para 11,9% no terceiro trimestre do ano

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça-feira (30) que o desemprego no Brasil recuou para 11,9% no terceiro trimestre de 2018; de abril a junho, o índice ficou em 12,4%.

Segundo o órgão, este novo patamar foi atingido com o avanço do trabalho informal, que apresentou crescimento de 4,7% em relação ao trimestre anterior. Hoje, de acordo como IBGE, são 11,5 milhões de pessoas trabalhando sem registro em carteira. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o aumento é ainda maior, chegando a 5,5%.

A falsa sensação de queda no desemprego causada pelo crescimento da informalidade mostra como o País reagiu aos efeitos da Lei 13.467/2017, que regulamentou a reforma trabalhista, e, ao contrário que afirmava o governo de Michel Temer e parte do Legislativo, a sanção da reforma não trouxe o crescimento dos postos formais de emprego.

O que se apresenta é um cenário de precarização do mercado de trabalho, no qual a população – na luta para conseguir sobreviver – é jogada na informalidade, sem a proteção e os direitos previstos na CLT.

Leia a íntegra de matéria do jornal Folha de S.Paulo sobre o assunto.

 

Com avanço de informais, desemprego recua para 11,9%

Informalidade recorde puxou contingente de brasileiros ocupados

O crescimento da mão de obra informal a níveis recordes empurrou para baixo a taxa de desemprego brasileira para 11,9% no terceiro trimestre, ante 12,4% de abril a junho, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (30).

A população ocupada aumentou 1,5% no período, somando 92,6 milhões de brasileiros. O número de desocupados, por sua vez, caiu 3,7% (-474 mil), para 12,5 milhões.

Os trabalhadores na informalidade, contando funcionários do setor privado sem carteira e por conta própria, no entanto, superam os empregados formais.

“Tem uma retirada de pessoas da fila da desocupação, uma queda de quase meio milhão de pessoas. O problema maior desse avanço é que isso se deu em emprego sem carteira e por conta própria. É um resultado favorável, mas voltado para informalidade e aumento da subocupação”, disse o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

A quantidade de funcionários sem registro cresceu 4,7% em relação ao trimestre anterior, chegando a 11,5 milhões de pessoas, volume recorde na série histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua iniciada em 2012.

Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve alta de 5,5%.

Já os trabalhadores por conta própria cresceram 1,9% na comparação trimestral, alcançando 23,5 milhões de pessoas, também o maior contingente da série. Na base anual, o avanço foi de 2,6%.

Enquanto isso, o total de empregados com carteira assinada se manteve praticamente estável na comparação com o trimestre anterior –variou de 32,8 milhões de trabalhadores para 32,97 milhões– e com o mesmo trimestre do ano passado (33,3 milhões).

“A taxa de desemprego vem caindo lentamente e a porta de entrada do mercado segue por vagas informais”, diz Thiago da Xavier, da consultoria Tendências.

Ele destaca, no entanto, que há sinais de aceleração na criação de postos de trabalho no segundo semestre do ano e de retorno de pessoas à PEA (População Economicamente Ativa), a partir de um contexto de menor incerteza política no país e sinais de avanço na economia.

O IBC-Br, índice de atividade do Banco Central, aponta para crescimentos de 0,65% em julho e 0,47% em agosto.

O último trimestre foi também o primeiro em 13 móveis em que não houve queda significativa na geração de vaga com carteira, na comparação anual, pondera Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

SEM ÂNIMO

Apesar da melhor no contingente de ocupados, o volume de mão de obra subutilizada —desempregados, pessoas que gostariam de trabalhar mais e aqueles que desistiram de buscar emprego— permaneceu estável em 27,3 milhões, na comparação com o trimestre anterior. Em relação a 2017, porém, subiu 2,1%.

Azeredo ressalta que o contingente de 6,9 milhões de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas é recorde.

Segundo ele, a situação pode ser explicada tanto pela fraqueza do mercado de trabalho quanto por formas de contratação reguladas pela nova lei trabalhista, como o contrato intermitente (firmado por dias ou horas).

Os desalentados (pessoas que desistiram de buscar uma colocação) permaneceram estáveis na comparação trimestral, mas saltaram 12,6% em relação ao mesmo período de 2017, chegando a 4,8 milhões de pessoas. Agora, representam 4,3% da força de trabalho.

O rendimento médio real habitual também não refletiu a melhora na ocupação. Ele foi estimado em R$ 2.222, similar ao trimestre anterior e também a 2017.

“As vagas que estão sendo geradas são de baixo impacto salarial”, diz Azeredo.

Os especialistas apontam que o próximo governo deverá olhar não apenas para os 12,5 milhões de desempregados no Brasil, mas também para essas 27 milhões de pessoas subutilizadas.

“Estar trabalhando é importante, mas o salário e as condições também são. Se queremos melhorar o quadro do mercado de trabalho brasileiro, precisamos pensar de forma ampla”, diz Xavier.

 

Fonte: Anaïs Fernandes – Folha de S.Paulo

Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress

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