Central dos Sindicatos Brasileiros

Audiência Pública debate interferências do Ministério Público do Trabalho no movimento sindical

Audiência Pública debate interferências do Ministério Público do Trabalho no movimento sindical

CSB participou do evento que aconteceu na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados e defendeu o fortalecimento e a independência de atuação dos sindicatos

A CSB e demais centrais sindicais participaram, nesta quinta-feira, 18 de junho, da audiência pública “A Relação entre o Ministério Público do Trabalho e as Entidades Sindicais”, na Câmara dos Deputados. O encontro  realizado pela Comissão de Legislação Participativa da Casa foi proposto pelo Observatório Sindical e pela Agência Social com base em denúncias do movimento sindical de que alguns membros do Ministério Público do Trabalho (MTP)  têm praticado abusos ao submeter os sindicatos a Termo de Ajuste de Conduta (TAC), além de interditos proibitórios e intervenções nas entidades.

Os dirigentes sindicais tiveram a oportunidade de expor e debater a judicialização e criminalização dos sindicatos pelo MPT. Outro ponto defendido pelas centrais foi a manutenção da contribuição assistencial, que tem sido contestada pelo Ministério Público do Trabalho.

O presidente da CSB, Antonio Neto, participou da mesa de debate e defendeu o direito de liberdade sindical, o fim da interferência do MPT nas eleições sindicais e a conservação da contribuição assistencial. “O Ministério Público tem contestado os mandatos de presidentes sindicais que estão no cargo há mais de uma década, e eu pergunto: “Qual o problema de um dirigente presidir por 20 anos uma entidade? Há eleições a cada 4 anos e todos os sindicatos que aqui estão possuem eleições. O MPT tem que respeitar a democracia dentro dos sindicatos. Se os sócios elegeram aquela diretoria, é porque é vontade da categoria”, afirmou.

MPT7Neto também defendeu o posicionamento da Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical (CONALIS), que garantiu a cobrança da contribuição assistencial dos trabalhadores, tanto para aqueles filiados aos sindicatos quanto para os não filiados, desde que aprovada em assembleia geral. “A contribuição assistencial estendida a toda categoria representa o combate ao ‘chupim’. O trabalhador que não é associado também se beneficia das conquistas da entidade, como o valor das horas extras, a PLR, o dissídio, entre outros benefícios.  Aquele que não contribui não pode se beneficiar dos mesmos direitos do que é associado”, disse.

“O Brasil é um estado democrático. Vocês, do MPT, acham que todos os trabalhadores são autoinsuficientes, que não podem lutar por eles mesmos caso considerem que o sindicato não os está representando de forma correta? O trabalhador é capaz de lutar por si. Precisamos encontrar um meio termo nas ações do MPT dentro dos sindicatos. O direito à liberdade sindical precisa ser respeitado, e as exceções de maus dirigentes precisam ser punidas”, avaliou o presidente da CSB.

Ações abusivas

Alvaro Egea, secretário-geral da Central, contestou as ações abusivas do Ministério Público do Trabalho dentro dos sindicatos. “Sabemos que a ações do MPT, ao contrário do que se pode supor, não se restringem às questões da contribuição e aos estatutos. Os representantes  do órgão interferem nas eleições sindicais, nas convenções e instrumentos, nas soberanias das assembleias, para deixar de inserir cláusulas de contribuições. Ações do MPT contra a autonomia sindical têm sido amplas, gerais e irrestritas. Cometem-se todo o tipo de abuso. Qual é o limite da ação do MPT? Teremos de fazer uma alteração na Constituição?”, indagou.

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Para Nilton da Silva Correia, Conselheiro Federal da OAB/DF, a Constituição garante a ampla liberdade de associativismo. “O povo tem de ser ouvido. Ele não é detalhe. A atividade plural que a Constituição pediu foi isso, o ambiente de unitário para plural. Isso se faz tirando a força interventiva do Estado. Por isso a Constituição usa a expressão ‘é vedada a interferência no funcionamento, na organização, na atividade’. O MPT não tem nada a ver com a atividade de sindicato”, argumentou.

Segundo Correia, o Ministério Público alega que tem como objetivo  assegurar que a representação sindical se dê por representantes da categoria, e que a administração do sindicato seja transparente e que busque atingir os interesses dos trabalhadores. “Isso tudo quem tem de fazer é a categoria. O MPT não pode decidir isso só porque eles têm esses desejos. Os sindicatos têm de ser éticos e zelar pelos interesses das categorias, mas quem tem de cobrar isso são os trabalhadores. O que MPT tem a ver com eleição sindical? O Estado não pode dizer a hora em que o dirigente deve sair. Não há uma delegação normativa que dê esse direito ao MPT. Por que o MPT pediu a anulação das eleições e estatuto do sindicato? Isso tudo não pode acontecer”, concluiu.

Paulo Oliveira, presidente do Sindicato dos Empregados de Agentes Autônomos do Comércio de Presidente Prudente e Região (SEAAC), criticou a forma bruta com que o MPT atua nos sindicatos. “Muitas vezes o ministério coloca a assinatura do TAC, que é uma opção para o sindicato, como uma obrigação, e passa ser uma forma de coação praticada pelo órgão. Outra questão refere-se ao fato de que o MPT recebe denúncia contra empresas em práticas contra os trabalhadores, e ele a recusa. Precisa haver um debate amplo sobre alguns critérios adotados pelo MPT e os interesses que há por trás das denúncias contra os sindicatos”, afirmou.

Para o deputado Glauber Braga (PSB/RJ), relator da Comissão de Legislação Participativa, a transformação social que a sociedade almeja começa pela participação da sociedade na política e pela organização do movimento sindical. “Existe uma tentativa permanente de políticos e de empresas de criminalizar e tirar a legitimidade dos sindicatos e centrais sindicais. Não aceitaremos a criminalização do movimento sindical. Temos que lutar pelo fortalecimento das entidades que representam os trabalhadores”, disse.