Ato em homenagem às vítimas da ditadura evidencia o financiamento estrangeiro ao Golpe de 1964

Evento promovido pelas centrais condenou a dominação do capital e a participação das empresas no esquema de repressão aos trabalhadores

O dia 1º de fevereiro foi marcado pelo Ato Sindical Unitário “Unidos, Jamais Vencidos”, em São Bernardo do Campo. Promovido pelas centrais sindicais, o evento homenageou os trabalhadores e sindicalistas perseguidos pela repressão da ditadura e das empresas.

Mais de 500 pessoas acompanharam a cerimônia que evidenciou a participação estrangeira, em especial dos Estados Unidos, como agente financiador do Golpe de 1964. O presidente à época, João Goulart – o Jango ‑, assumiu após a renúncia de Jânio Quadros. Jango desenvolvia no Brasil uma série de avanços nas áreas econômicas e sociais, como as reformas de base, a luta contra a remessa de lucros ao exterior e pela nacionalização de vários setores da economia. Estes e outros avanços que o governo pretendia implementar, como no sistema agrícola ‑ com a reforma agrária ‑, e no judiciário, foram destruídos com a tomada do poder pelos militares.

A mesa formada por representantes das centrais sindicais, pelo prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, e por Rosa Cardoso, presidente do Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade (CNV), lembrou o caráter de dominação do capital promovido pelo Golpe.

Ato Sindical Unitário“É importante ressaltar também o que as empresas fizeram naquela época. Essas corporações tiveram imensa participação no processo, com a colaboração e atuação, de certa forma, para funcionar como um apêndice da repressão para punir os trabalhadores, impedir sua organização e destruir a luta do movimento sindical e a ampliação dos direitos”, ressaltou o presidente da CSB, Antonio Neto, um dos integrantes da mesa.

Mesmo após a redemocratização, conquistada por meio da luta dos trabalhadores e do movimento sindical, os aspectos de dominação do capital ainda hoje sobrevivem na sociedade brasileira. Os dirigentes lembraram a tentativa do capital estrangeiro de dominar setores econômicos do País para manter a remessa de lucros e extrair as riquezas naturais ‑ como minerais e petróleo ‑ e aquelas que são fruto do trabalho da classe operária.

Luiz Marinho criticou o caráter opressor do sistema para defender seus interesses, tanto no judiciário, como na ditadura de alguns setores da imprensa, na tentativa de criminalização do movimento sindical.

Ato Sindical Unitário“É fundamental olharmos as ditaduras vigentes, porque somos vítimas de uma ditadura da comunicação. Não é possível dar continuidade a um monopólio tão grande em nosso país. Outro segmento que precisa passar por um processo de democratização é o judiciário brasileiro, que determina ao Congresso Nacional e aos partidos políticos como agir, e impõe barreiras ao movimento sindical por meio de penalidades e multas, como forma de impedir a luta”, ressaltou o prefeito de São Bernardo.

Ato Sindical UnitárioPara Rosa Cardoso, a ditadura tentou destruir o conjunto das lutas dos trabalhadores. “O que a ditadura fez foi desmantelar a vida sindical brasileira, intervindo nos sindicatos. Isso foi uma ação contra a classe trabalhadora como um todo. Estamos aqui para lembrar que a Comissão da Verdade tem um trabalho importante na construção da reparação das empresas. Lutamos por um processo de justiça. Precisamos fazer uma construção especial, como Argentina e Chile, para buscar a reparação dessas corporações”, defendeu a presidente da CNV.

A presença do filho de Jango, João Vicente Goulart, foi marcante para que o Ato Sindical Unitário tivesse o caráter de preservação da memória histórica brasileira. Para ele, é preciso refletir sobre esses últimos 50 anos de história do Brasil.

Ato Sindical Unitário“Além de um golpe contra o João Goulart, foi um golpe contra um sistema de governo vigente. Então, é necessário que exumemos as reformas de base para que possamos avançar pelos trabalhadores e por aqueles que ainda são marginalizados. A democracia venceu, mas ainda falta justiça social”, afirmou João Vicente Goulart.

O presidente da CSB destacou ainda que o mecanismo de ação do capital e das empresas ­‑ de explorar os trabalhadores e da afronta aos direitos para garantir a ampliação do lucro ‑ precisa ser derrotado.

“A criminalização feita naquela época, na qual todos aqueles contra o regime eram chamados de comunistas, hoje é feita de outro modo, com a exploração dos trabalhadores e a criminalização do movimento sindical”, concluiu Antonio Neto.

Para as personalidades e autoridades presentes ao evento, o sentimento é unânime sobre a necessidade de investigação dos crimes cometidos, a necessidade do resgate dos fatos e a exigência de justiça, punição e reparação para todos os responsáveis pelo período mais sombrio da história do Brasil.

Aos torturados, o reconhecimento

Na entrada do Teatro Cacilda Becker, local da realização do Ato Sindical, os trabalhadores e sindicalistas vítimas da ditadura foram homenageados com um diploma assinado por todas as centrais como forma de destacar a importância desses combatentes para a história da luta pela democracia no Brasil.

Representantes da CSB, políticos e personalidades que combateram o regime militar tiveram destaque durante o evento e foram saudados pela plateia ao final do ato. Clique aqui e leia a matéria sobre as homenagens do Ato Sindical Unitário.

Ato Sindical Unitário

Arte como instrumento de luta e representatividade de uma época

Para ilustrar e reavivar a memória dos anos de repressão, o evento contou também com as apresentações teatrais do Grupo Solano Trindade, que – ao som de músicas de protestos ­– relembrou o sentimento de clausura da época, e do ator Tin Urbinatti – com a encenação “O Operário em Construção”, texto de Vinicius de Moraes, que retrata a realidade da classe operária.

Ato Sindical Unitário

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