Central dos Sindicatos Brasileiros

Após Bolsonaro, é preciso reconstruir o pacto social brasileiro

Após Bolsonaro, é preciso reconstruir o pacto social brasileiro

“Após Bolsonaro, é preciso reconstruir o pacto social brasileiro”

Por Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros

Nos últimos dias, ganhou destaque nos jornais mais um caso que nos embrulha o estômago. Em Ribeirão Preto (SP), o Ministério Público do Trabalho (MPT) libertou uma mulher de 82 anos que estava há quase três décadas sendo submetida a condições de trabalho análogas à escravidão.

Uma pediatra (!) e um empresário exploraram a idosa por 27 anos sem pagar-lhe qualquer salário ou remuneração. Pior, chegaram a inscrever a mulher para receber cerca de mil reais do Benefício Previdenciário Continuado (BPC), concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), valor o qual retinham quase que na totalidade. Este benefício é concedido apenas a quem não possui emprego e, portanto, foi requerido de maneira ilegal.

Em pleno final de 2022, a escravidão moderna no Brasil ocorre aos olhos de uma sociedade que, nos últimos quatro anos, chegou ao fundo do poço moral e humano. O bolsonarismo arrancou o que restava de empatia em muitas pessoas, ou em outros casos, empoderou racistas e exploradores profissionais. No campo e na cidade, em casas e empresas.

Esta é a realidade de um país sob um regime de destruição completo do seu tecido social e de seu patrimônio natural e humano. Só para se ter uma ideia, mais de 1.500 brasileiros que trabalhavam em condições análogas à escravidão ganharam a liberdade este ano após a atuação dos órgãos de fiscalização.

Nos últimos dez anos, foram mais de 13 mil irmãos e/ou irmãs libertados do trabalho análogo à escravidão. As coisas, vale dizer, pioraram muito desde os ataques sistemáticos aos direitos dos trabalhadores, o que se agravam a partir de 2016. Alguns dizem que os cabelos brancos trazem consigo uma porção de sabedoria, mas confesso que jamais conseguirei compreender o que leva uma pessoa a escravizar outro ser humano para ganhar mais dinheiro.

Não é de espantar que num país racista e que elegeu, em 2018, um presidente racista, que cerca de 85% das vítimas de crime contra a humanidade cometido em nosso solo nada gentil sejam de irmãos e irmãs com a pele escura.

Carregam na pele a chaga e a ferida profunda de viver em um país construído com base na exploração de seus antepassados. E que ainda hoje, os relegam à invisibilidade social e material.

É hora de dar um basta. É preciso reconstruir esse país saqueado desde sempre, mas que nos últimos anos assistiu seu período mais cruel e desumano entrar em cena, como em um filme de terror que demorou para acabar.

Dia primeiro de janeiro, ele acaba. E é da responsabilidade de todos promovermos um novo pacto social, com a união de todos os brasileiros em nome da recriação de um país desenvolvimento e JUSTO.

Ora, comigo nunca foi diferente. Onde houver gente lutando o bom combate, o combate contra a miséria, a exploração, o entreguismo e a brutalidade, eu estarei lá, cerrando fileiras.

Conto com cada um de vocês nessa luta, que pode nunca acabar, mas que jamais verá nos meus cabelos brancos um fio que seja de desânimo ou desistência.

É preciso reestabelecer os direitos retirados dos trabalhadores, que sofreram sistemáticos ataques nos últimos anos. É necessário recolocar as relações de trabalho novamente no centro da discussão nacional.

Isso só será possível com a recriação do Ministério do Trabalho, confirmada hoje (16) pelo presidente eleito Lula, após a destruição feita pelo terrível governo atual, e pela reconstrução dos órgãos de fiscalização e de controle, como o MPT e outros, que foram sucateados e inviabilizados durante o governo Bolsonaro.

Vamos à luta, pois só conhece a derrota aquele que desistiu de lutar.

Leia também: Sindicatos fortes, Brasil mais justo