Ciro Gomes lembrou do crescimento econômico de 50 anos, com um índice de 6,7%, a partir da Revolução de 1930, quando se deu um rompimento com o Brasil agro-exportador. O país triunfou com sua cultura e avanço na distribuição de renda, consolidando um Estado nacional-desenvolvimentista que poderia conciliar crescimento econômico com justiça social. Tal trajeto é rompido a partir de 1990, quando se inicia um processo de desindustrialização, com um modelo econômico neoliberal e rentista, que não enfrentou a complexidade dos problemas históricos da nação.
“Se o Brasil não cresce há uma década, quais são as sequelas? Quarenta milhões de brasileiros vivendo de bico. Nunca antes na história desse país houve um tamanho tão grande de precarização do trabalho. É o tal empreendedorismo neoliberal, que condena o povo a viver sem nenhuma proteção de direitos trabalhistas”, apontou Ciro.
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Há ainda mais de 14 milhões de desempregados e 18 milhões desalentados: aqueles que, de tanto procurar, desistiram de conseguir um emprego para que pudessem colocar comida na mesa de suas famílias.
“Tudo que está errado no Brasil está irrigando muita gente. Lembra dos milionários? Eles estão satisfeitos com isso”. Nenhuma nação do planeta construiu com o tapar de buracos. Todos obedeceram um projeto nacional de desenvolvimento. Significa o que? Um plano. Saúde por exemplo: quando a pandemia começou, o Brasil estava importando máscaras da China. Destruíram a produção industrial brasileira e estamos dependendo de importações de quase tudo. Um projeto se faz a partir de um plano que define diagnósticos e para onde queremos ir e qual prazo”, em todas as áreas.
Ciro chamou atenção para definir de onde vem o dinheiro e colocar o povo a par dessas informações, para não encantar nossa população e não resolver os problemas. É preciso que um projeto nacional tenha tarefas de grande fôlego, como elevar o nível de poupança nacional, já que o dinheiro que paga o nosso desenvolvimento não deve vir de fora, às custas do endividamento externo. Há 30 anos se mente ao povo brasileiro que se seguirmos uma cartilha internacional e neoliberal: “isso é mentira, nunca aconteceu na história do planeta terra um país que se desenvolvesse às custas dos outros”.
“Capital se constrói em casa desenhando um sistema tributário que seja estimulante da formação de poupança para investimento, desenhando um mercado de capitais que seja democratizado, desenhando um sistema previdenciário sob o controle dos trabalhadores, e necessariamente público, para garantir a justiça na distribuição de renda em uma sociedade tão injusta como a nossa, além do investimento em gente. São as pistas para elevar o capital nacional”, avaliou.
Quanto ao mundo do trabalho, Ciro falou que “não tem a ingenuidade de que a aliança entre capital e trabalho seja uma coisa simples de ser resolvida. Isso será feito mediante regulação, proteção do mundo do trabalho, combate intransigente à informalidade e reforçamento da estrutura sindical brasileira. Inclusive especialmente em seu financiamento. Fortalecimento da comunidade de trabalhadores não sindicalizados, dando ao sindicato o poder de projeção das conquistas que tiverem para os outros setores. Tenho discutido com Antonio Neto para formalizarmos com clareza uma reforma trabalhista que, compreendendo a necessidade de alguma flexibilidade no mundo do trabalho em função das inovações tecnológicas, não transforme essa flexibilidade em precarização do trabalho, que nunca levou nenhum país para frente”.