Antonieta de Faria: “Há muito o que se lutar pela igualdade, pelo direito de trabalho e dignidade da mulher como motor econômico do País”

Secretária da Mulher Trabalhadora da CSB é a primeira entrevistada da série especial que a CSB prepara para o mês da mulher

Em março, mês dedicado às mulheres, a CSB apresenta uma série de entrevistas exclusivas com dirigentes da Central. Temas como a luta pela igualdade, o empoderamento feminino, as consequências das reformas trabalhista e da Previdência para as brasileiras e o trabalho das dirigentes da CSB nas Seccionais da Entidade pelo Brasil são analisados e apresentados pelas sindicalistas que fazem da causa feminina uma das bandeiras de luta da Central.

A primeira a abordar a luta das mulheres é Antonieta de Faria, a Tieta, secretária da Mulher Trabalhadora da CSB. Na entrevista, Tieta fala sobre mercado de trabalho – segundo o IBGE, 13,4% das brasileiras estavam desempregadas até o final de 2017 –, do papel da mulher no crescimento do País e no fortalecimento do movimento sindical, além da importância da criação de políticas públicas que combatam a violência e as desigualdades – de março de 2016 ao mesmo mês de 2017, houve 2.925 feminicídios no País segundo os ministérios públicos estaduais.

Segundo Antonieta de Faria, o trabalho da CSB tem papel importante para as conquistas femininas e é fundamental “eleger o maior número de sindicalistas que tenham compromissos com a luta dos trabalhadores e das mulheres, para a construção de um País mais igual”.

Leia a seguir a íntegra da entrevista com a secretária da Mulher Trabalhadora da CSB.

1 – Mais do que uma data, o dia 8 de março representa a luta de mulheres em busca de igualdade e direitos. Como você analisa a realidade das mulheres no Brasil?

Antonieta de Faria – Mudou muita coisa. É óbvio que nós tivemos muitos avanços. Veio desde a ideia de criar o dia internacional da mulher lá no século 19 até hoje. E conseguimos grandes avanços, o direito ao voto, mas há muito ainda o que fazer. Na realidade, para ser votada, [a mulher] ainda tem que derrubar alguma coisa. Não adianta ter lá só a cota que tem que cumprir, e não dar uma condição verdadeira para a mulher representante no Congresso, nas Câmaras das cidades. E aí a mulher tem muito a contribuir. Ampliar a tomada desses espaços e ficar em condição de igualdade com os homens, a gente pode trazer muito mais avanços. E ainda equiparar condições de salário, condições de trabalho, principalmente na área pública. As mulheres que trabalham em setores públicos são muito assediadas. Há muito o que se lutar ainda pela igualdade, pelo direito de trabalho, dignidade da mulher como motor econômico do País.

2 – O desemprego no Brasil é um dos gargalos que travam o crescimento econômico. Dos 8 setores econômicos analisados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, seis demitiram mais mulheres do que contrataram no ano passado. Como lutar contra essa realidade e criar mais postos de trabalho para as mulheres?

A.F – Está muito difícil romper essas barreiras. A gente tem mesmo que se mobilizar e se organizar, e é isso que temos feito frequentemente para lutar contra isso. A própria proposta da reforma da Previdência atinge os direitos da mulher. Ela prejudica a mulher, que deveria ser respeitada e também reconhecida, que tem uma jornada dupla e muitas vezes tripla de trabalho, e ali ela [a reforma] já penaliza a mulher. Não tem a mulher como prioridade. E o desemprego vem aí, é mais fácil mandar a mulher embora porque ela tem filho. Na cabeça machista de alguns dos nossos empresários, a mulher dá mais despesa, então a gente tem se organizado, tem feito essa discussão para enfrentar tudo isso e também para propor campos de luta e de trabalho para as mulheres. As mulheres hoje estão muito mais conscientes dos seus direitos e estão muito mais ativas em relação a defendê-los.

3 – Que tipo de políticas públicas você acha necessárias e poderiam ser desenvolvidas para melhorar essa realidade que você apresentou agora?

A.F – Tem que começar pelo poder público, que tem que reconhecer a importância da mulher no trabalho, a incorporar a mulher no mundo do trabalho. É além de um direito, é um dever. Hoje, com as mudanças, com as redes sociais e com a globalização do mundo e a modernidade, a mulher já está em um número elevado de chefes de família, que conduz a família. Às vezes, o homem fica em casa, cumprindo as funções domésticas, e a mulher trabalha trazendo o sustento. Ou ainda pior, o marido está desempregado, não ajuda nos trabalhos domésticos, e a mulher acaba fazendo os dois papéis, de chefe da casa, cuida da casa e cuida dos filhos.

Então, já passou da hora de ter políticas públicas voltadas para a mulher, que olhem para todos esses aspectos. E nesse âmbito tivemos retrocessos no governo Temer, a gente estava avançando nas discussões no governo anterior, e tinha uma valorização da Secretaria da Mulher, em encontros, havia muitas discussões, e nisso houve um retrocesso no atual governo, ele não discutiu, não estruturou a Secretaria da Mulher, e foi uma perda muito grande para nós, mulheres.

4 – Como a reforma trabalhista afeta a realidade da mulher no mercado de trabalho?

A.F. – Afeta de muitas maneiras. Precarizou muito a [vida da] mulher, onde já era difícil, e hoje dificultou muito mais. Com essa flexibilização do horário, impossibilita a mulher de planejar sua vida, de horário de trabalho e nos horários domésticos. E aí, muito empresários, se aproveitando disso, do trabalho intermitente, flexibilização, cobra da mulher um horário em que ela não pode trabalhar, porque precisa ser compatível com sua vida doméstica. E aí veio o atraso todo. Ao invés de uma reforma para igualar os salários, essa lei a deixou ainda mais marginalizada no campo do trabalho.

5 – O que você tem ouvido das mulheres da base? Quais são as demandas e os problemas mais recorrentes? Como estão as mulheres em relação a todos esses aspectos citados por você?

A.F. – Esses problemas todos que eu citei são inerentes de todo o contexto do País. Literalmente do Oiapoque ao Chuí, preservando as suas características regionais. Agora, o que tem de muito positivo entre as mulheres que militam, que fazem parte da CSB, é a vontade de lutar para mudar essa realidade. Então, nós conversamos muito, estamos planejando nosso próximo encontro. As nossas mulheres da CSB estão dispostas à luta, ao enfretamento, com ideias muito boas. Todas elas estão engajadas na luta para defender os nossos direitos. Hoje, mais do que nunca, o direito a ter um trabalho.

6 – Além do encontro das mulheres da CSB, quais são os planos da Secretaria da Mulher da Central para 2018?

A.F. – No encontro, vamos colocar nos planejamentos em ação. Vamos votar, porque as demandas são muitas, para tirar a pauta de 2018. Temos a luta contra as reformas, um ano eleitoral, nós precisamos eleger quem nos represente de verdade, independente de ideologia, precisamos eleger quem tem compromisso conosco. Temos também a luta contra o feminicídio, que apresenta taxas altíssimas; as mulheres estão sendo mortas em seus locais de trabalho, [precisamos de] segurança no trabalho, a luta contra ao assédio. Nossa demanda é muito grande. Estamos junto de mulheres trabalhadoras de outras centrais também na luta por esses direitos todos.

7 – Como trazer as mulheres para um cenário de igualdade social, de direitos e de condições de trabalho?

A.F. – As mulheres ficaram muito tempo à sombra da figura masculina, seja pai ou irmão mais velho, marido. Ela foi condicionada a ficar à sombra. E já faz um bom tempo que a mulher vem lutando contra esse peso que foi colocado nas nossas costas, de ter o homem sempre à frente. E a gente não quer ficar à frente, nós queremos ficar ao lado deles. Queremos participar e compartilhar, e não ter só uma figura de aceitação. Então a gente tem que correr atrás dos esclarecimentos, cursos de formação e informação, e até para levantar o leão adormecido dentro de cada uma, porque a mulher tem de ter conhecimento dos seus direitos. E cabe a nós, que já estamos um passo à frente, buscar essa mulher e dar a ela esse conhecimento.

E é isso que a gente [da CSB] faz. A gente está indo até a base e trazendo a mulher para a luta, mostrando para ela que ela pode acabar empoderando as demais mulheres. Nós precisamos de um planejamento de empoderamento da mulher, de valorização, para que ela acredite em si mesma. É uma luta árdua, que vai demorar muito ainda, mas a gente não pode desistir. Estamos ocupando os espaços [sociais, de trabalho] com muita competência, mas ainda está longe do número ideal de mulher contribuindo para melhorar o Brasil.

8 – Como mulher sindicalista, como você acha que as mulheres podem contribuir para o fortalecimento do movimento sindical?

A.F. – Indo à luta, para as ruas, defendendo seus direitos. Eu acho que isso você já começa internamente, desde que você tenha a consciência da sua capacidade. As mulheres têm de participar para ter consciência, preparo para participar do empoderamento da mulher. E também eleger o maior número de sindicalistas, que tenham compromissos com a luta dos trabalhadores e das mulheres, para a construção de um País mais igual.

9 – De que forma a CSB se fortalece com mulheres no comando da CSB nos estados?

A.F. – A visão que a gente tem é de que a CSB inova elegendo essas mulheres [para os cargos de comando nas regionais] nos estados, empoderando essas mulheres. O presidente Neto disse no nosso Congresso [II Congresso da CSB, em Brasília] que era prioridade da CSB a defesa das mulheres. Estávamos nos responsabilizando por essa luta. Quando ele toma essa ação, e as mulheres são eleitas nas regionais, elas representam muito bem o nome da CSB em suas regiões, é uma mostra para o resto do País do que deve ser feito. Fica todo mundo olhando e aplaudindo a CSB. A Central saiu na frente, ela é um exemplo de quem defende o direito do trabalhador sem discriminação. Ela empodera todas as classes sociais.

Um exemplo que admiro muito na Central é a Lúcia no Amazonas [Maria Lucinete de Lima, 1ª secretária do Meio Ambiente da CSB], é uma mulher de fibra, que luta em condições péssimas de trabalho na agricultura familiar, mas com otimismo, com sentimento de conquista, que é invejável, e ela tem todo o apoio da Central. Então a CSB está de parabéns por ter tantas mulheres, não só representando a Central nos estados, mas também na Executiva.

10 – Qual é o papel da mulher na retomada do crescimento do Brasil?

A.F. – Arregaçar as mangas e ir para a luta. E ter a consciência política, se politizar, aprender e ver o que está acontecendo e votar corretamente. Precisamos votar, colocar alguém comprometido com a luta, mas não só colocar, mas ir junto cobrar e ajudar no que for preciso.

11 – O que dizer para as mulheres da CSB e do Brasil diante de todo esse cenário?

A.F. – Desejo a todas as mulheres um ano de muitas lutas, mas todas exitosas, com muitas vitórias, e vamos nos abraçar, dar as mãos e levar, não só para as mulheres sindicalistas, mas para todas as companheiras trabalhadoras, principalmente as companheiras da CSB, muita disposição para vencer. Otimismo, luta, fé e foco, e um ano de 2018 muito melhor para as mulheres.

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