Federações de servidores classificam a proposta como pouco vantajosa financeiramente
Entre líderes sindicais e de federações de servidores, o anúncio do programa de desligamento voluntário (PDV) anunciado pelo governo federal causou um misto de surpresa e desapontamento. Há um consenso entre eles que adesão será baixa, pois classificam a proposta como pouco vantajosa financeiramente, principalmente diante de um quadro de desemprego recorde e falta de perspectivas de retomada consistente da economia em curto e médio prazo.
Como forma de atrair interessados, benefícios estão sendo estudados. O governo vai permitir que os funcionários públicos que optarem por uma jornada reduzida, com corte proporcional nos salários, tenham outro emprego no setor privado.
Davi Lobão, membro da executiva nacional da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) e representante do Sindicato Nacional dos Servidores Federais de Educação Básica Profissional e Tecnológica (Sinasefe) na CSP-Conlutas lembra que a experiência no PDV promovido pelo governo FHC, nos anos 1990, deixou consequências dramáticas entre quem aderiu:
– Momentaneamente pode parecer um bom negócio acessar esse dinheiro, entre a minoria que aderiu e usou o dinheiro para abrir o próprio negócio quase todos faliram. Houve casos de suicídio. Estamos orientando a não aderir ao PDV.
Lobão classifica o plano anunciado ontem como um “bombom envenenado”, que chega num momento oportuno para o governo, pois muitas famílias estão com integrantes desempregados, precisando se livrar de dívidas e voltar ao mercado, no caso podendo usar o dinheiro do PDV para abrir negócio próprio:
– O governo joga com o fato de muitos estarem em crise em familiar. Quem tem familiares desempregados pode ver uma oportunidade de tirar eles do bicos. Mas acontece que é muito difícil uma empresa vingar nesse país, ainda mais em tempos de crise.
Em todo o Brasil há 67 mil professores e técnicos administrativos servidores federais. Segundo Lobão, 70% são professores.
Cláudio Damasceno, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional), entende que o governo federal tem “formas mais eficientes de equacionar o problema orçamentário do que com o PDV”. Apesar de acreditar que não haverá adesão dos servidores da categoria, ele diz que uma adesão consistente pioraria ainda mais o quadro, que já é deficitário.
– Hoje somos 9,7 mil auditores na ativa, não temos novo concurso público desde 2014 e, em média, 600 se aposentam por ano, número que tende a aumentar com essa combinação de fatores. No entanto, a adesão deve ser baixa porque não há uma tradição entre a categoria de aderir a esse tipo de programa. Basicamente só perdemos servidores para a aposentadoria e outros concursos públicos – diz Damasceno.
Já policiais federais acreditam que não devem entrar no decreto, que ainda deve ser publicado, por prestarem serviço de estado, ou seja, que não pode ser terceirizado a estados e municípios ou privatizado. E mesmo que entrassem, Flávio Werneck, vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, que representa os 15 mil profissionais do ramo, acredita que adesão será “baixíssima, pois não há vantagem financeira nessa proposta”.
– Em menos de dois anos, o mesmo dinheiro que o servidor que aderir ao PDV ganharia, pode ser conquistado trabalhando, mantendo sua aposentadoria e outros benefícios. Não é atrativo para os policiais – diz Werneck.
Fonte: O Globo