Com a lenta recuperação do mercado de trabalho, o número de brasileiros que procuram emprego há dois anos ou mais bateu recorde no primeiro trimestre, ao chegar a 3,3 milhões de pessoas. É o maior nível desde 2012, início da série histórica da pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse contingente em busca de vagas há dois anos ou mais era de 3,1 milhões de pessoas no quarto trimestre do ano passado. Isso significa que houve um incremento de 7% num período de apenas três meses. Na comparação com o primeiro trimestre de 2018, o indicador mostrou crescimento ainda mais acentuado, de 9,9%.
O desemprego de maior duração preocupa especialistas por sua capacidade de desestabilizar financeiramente as famílias. Pessoas há muito tempo em busca de vaga tendem a desistir da procura, ficam desatualizadas
profissionalmente. Mulheres e jovens de áreas urbanas são geralmente o perfil mais afetado.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, esse número é “bastante preocupante” por levar ao desalento – quando pessoas desistem de procurar emprego. “Parte dessa população acaba desistindo e sai da fila, se tornando desalentada”, disse Azeredo, em entrevista coletiva no Rio.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE, mostram que o Estado de São Paulo concentra 24% desse desemprego de maior duração, ou 788 mil pessoas do total. Na sequência aparecem os Estadas do Rio de Janeiro (528 mil pessoas), Bahia (351 mil) e Pernambuco (258 mil). Minas Gerais tinha 105 mil.
A maior parcela dos desempregados procurava vaga de um mês a um ano: 6,1 milhões de trabalhadores, pouco menos da metade dos 13,4 milhões de desempregados do período. Outros 2,1 milhões de trabalhadores buscavam
uma colocação no mercado havia menos de um mês. E 1,9 milhão de um a dois anos, conforme os dados da pesquisa.
O IBGE também divulgou ontem que 14 das 27 unidades da federação apresentaram aumento significativo da taxa de desemprego no primeiro trimestre, frente ao quarto trimestre de 2018. Entre os que pioraram, estavam os Estados de São Paulo (de 12,4% para 13,5%), Paraná (de 7,8% para 8,9%), Minas Gerais (de 9,7% para 11,2%).
O aumento do desemprego é um movimento típico do primeiro trimestre do ano, quando empresas e mesmo governos dispensam trabalhadores contratados temporariamente. O desempenho ruim da economia, contudo,
pode ter potencializado esse movimento no período.
“A situação que vivemos hoje no mercado de trabalho no Brasil não está localizada em um Estado ou outro. Você tem avanço na desocupação de 2014 para cá em todos os Estados, assim como a queda da carteira de trabalho assinado”, disse Azeredo.
Fonte: Valor Econômico