Apenas 3 mil pessoas detêm quase 15% do PIB global, enquanto 3,7 bi vivem com até 8 dólares por dia

Enquanto cerca de 3,7 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 8,30, o equivalente a R$ 45 por dia, o 1% mais rico do planeta viu sua fortuna crescer como nunca: mais de US$ 33,9 trilhões (cerca de R$ 185 trilhões) foram acumulados desde 2015. Esse valor seria suficiente para acabar com a pobreza global por 22 vezes, segundo a Oxfam, organização internacional dedicada ao estudo das desigualdades. 

A conclusão está no novo relatório “Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia”, publicado nesta terça-feira (25).

Segundo a organização, a riqueza de apenas 3 mil bilionários cresceu US$ 6,5 trilhões (R$ 35,4 trilhões) nesse período e já representa 14,6% de todo o PIB global. Entre os anos de 1995 e 2023, a riqueza privada global saltou US$ 342 trilhões (R$ 1,86 quatrilhão) — oito vezes mais do que o que os governos conseguiram acumular como riqueza pública, que subiu US$ 44 trilhões (cerca de R$ 239,8 trilhões). 

LEIA: Antonio Neto: O futuro do trabalho não pode ser sem direitos

Enquanto o1% é extremamente favorecido no cenário atual, o resto da população global mostra apoio massivo a uma mudança de rota. Uma pesquisa realizada em 13 países, incluindo Brasil, Canadá, França, Índia, África do Sul e Estados Unidos, apontou que 9 em cada 10 pessoas defendem a taxação dos super-ricos como forma de financiar serviços públicos e ações contra a crise climática. 

Novo modelo

A Oxfam defende que está mais do que na hora de mudar o modelo atual, que favorece grandes investidores, o chamado “consenso de Wall Street”. Segundo a ONG, essa estratégia falhou: trouxe pouco dinheiro de verdade, aumentou a desigualdade e prejudicou países mais vulneráveis. 

“Os países ricos colocaram Wall Street no volante do desenvolvimento global. Está na hora de tirar esse modelo do caminho e colocar o interesse público como prioridade”, disse Amitabh Behar, diretor executivo da Oxfam Internacional.

Para ele, os últimos anos mostram que os interesses de uma minoria extremamente rica têm sido colocados acima das necessidades da maioria da população mundial.  “Essa concentração extrema de riqueza está sufocando os esforços para acabar com a pobreza”, afirma Behar.

Cortes podem ser devastadores

Enquanto a riqueza privada dispara, governos de países ricos estão promovendo os maiores cortes já registrados na ajuda humanitária e ao desenvolvimento. Apenas os países do G7, responsáveis por cerca de 75% da ajuda oficial global, planejam reduzir os repasses em 28% até 2026, em relação a 2024. 

Esses cortes podem ter consequências devastadoras, alerta a Oxfam. Segundo projeções do relatório, a diminuição no financiamento pode resultar na morte de até 2,9 milhões de pessoas até 2030, apenas por causas relacionadas ao HIV/AIDS.

Além disso, 60% dos países mais pobres estão quase quebrando por causa das dívidas. Muitos estão pagando mais aos seus credores, que são privados e se recusam a negociar, do que gastam em escolas e hospitais. 

Propostas para mudar a rota

A Oxfam propõe que os governos adotem uma nova abordagem no financiamento do desenvolvimento, com foco em políticas públicas e redução das desigualdades. Entre as medidas sugeridas estão: 

  • Criar alianças entre países para enfrentar a desigualdade; 
  • Deixar de apostar tanto no setor privado e investir em serviços públicos; 
  • Cobrar impostos dos ultrarricos; 
  • Reformar o sistema de dívidas globais; 
  • Ir além do PIB para medir o que realmente importa. 

Segundo Behar, “trilhões de dólares estão aí, mas concentrados nas mãos de poucos. Os governos precisam ouvir o que o mundo está pedindo: taxar os ricos e investir no que realmente importa, como saúde, educação e energia limpa”. 

As propostas citadas no relatório serão apresentadas oficialmente durante a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em 30 de junho, na Espanha, com a participação de mais de 190 países.

Com informações de g1 e Oxfam

Compartilhe: