23% dos desempregados são chefes de família

País tem 2,95 milhões de brasileiros entre 40 e 59 anos sem trabalho, o que preocupa o IBGE

 

Há sete meses, Antônio Carlos Santos Caires, 46, tenta uma recolocação no mercado.

Ele perdeu o emprego como analista de distribuição em uma empresa de comunicação em janeiro e, desde então, engrossa uma estatística que reforça o cenário de deterioração do mercado de trabalho brasileiro: o desemprego a partir dos 40 anos.

Esse grupo ainda tem taxas de desemprego menores do que o dos jovens, mas vem ganhando cada vez mais espaço entre o contingente de brasileiros em busca de trabalho.

No segundo trimestre, os brasileiros com idade entre 40 e 59 anos representavam 22,7% dos desempregados.

São 2,95 milhões de pessoas, crescimento de 131% em relação ao segundo trimestre de 2014, antes da crise econômica que teve impactos profundos no mercado de trabalho.

No período, 1,67 milhão de trabalhadores dessa faixa etária perderam o emprego.

“É preocupante, porque mostra que o desemprego atingiu uma parcela da população que não pode de forma nenhuma ficar desempregada”, diz o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

Em geral, são chefes de família e, ao contrário dos mais jovens, têm menor possibilidade de voltar à casa dos pais.

A taxa de desemprego entre os brasileiros de 40 a 59 anos é de 7,5%, bem abaixo da média —no segundo trimestre, foi de 12,4%— e dos indicadores das parcelas mais jovens da população –na faixa de 18 a 24 anos, chega a 26,6%, e na de 25 a 39, a 11,5%.

 

Trata-se, porém, de um grupo tradicionalmente com maior resistência ao desemprego, por ter um nível de qualificação mais elevado, e com maior potencial para empreender, mesmo que na informalidade.

Por isso, diz o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, a aceleração do desemprego nesse grupo é um sinal a mais de deterioração do mercado, que já vem empurrando cada vez mais gente para o desalento –quando a pessoa desiste de procurar nova vaga.

“Quando o desemprego atinge essa parcela da população, é um sinal de que nem a informalidade está dando conta de absorver as pessoas que perdem o trabalho, que a precarização do mercado é bastante forte”, diz ele.

​Com três filhos, Caires vem recorrendo a bicos para pagar as contas: conserta celulares e aparelhos eletrônicos.

A família também está se virando para ajudar. A mulher trabalha como freelancer em um salão de beleza e a filha mais velha, de 18 anos, terminou o ensino médio e trabalha em um bico como monitora em transporte escolar para colaborar.

“Tratamos um mês de cada vez. O bom é que todos são muito participativos, então eu mostro o que dá para dar para cada um de mesada por mês, quando dá, e o que vai para pagar as contas”, diz ele, que sacou nesta quarta-feira (15) a última parcela do seu seguro-desemprego.

Com outros dois filhos de 11 e 12 anos, Caires afirma que, para ajustar o orçamento reduzido às necessidades da casa, reúne todos para mostrar o que a família dispõe por mês. “É uma situação difícil, mas acho que é um aprendizado para a vida deles também.”

A família cortou as saídas para o cinema, jantares fora de casa e provavelmente não renovarão o seguro do carro no próximo mês. “Só vou fazer isso se tiver um emprego.”

Além da dificuldade de sustentar a casa sem ter um salário fixo, Caires afirma que a cada dia que passa, acha a recolocação mais difícil, outro ponto de preocupação apontado pelo coordenador do IBGE em relação a essa parcela da população.

A fila do desemprego só aumenta no país. No segundo trimestre, 3,16 milhões de pessoas estavam há mais de dois anos procurando trabalho sem encontrar, o maior número desde o início da série histórica, em 2012.

Segundo Azeredo, a recolocação é mais difícil para faixas etárias mais elevadas.

“Me cadastrei em diversas agências de emprego e até hoje só me pediram um currículo para entrevista, que foi por indicação”, diz Caires.

Ele afirma que, para não desanimar, segue a rotina de enviar currículos e checar o email pela parte da manhã e, no período da tarde, corre com os bicos.

Além de crescer entre os mais velhos, o desemprego afeta mais pretos e pardos.

Dos 12,9 milhões de desempregados no segundo trimestre, 64,1% se declararam pretos e pardos.

Em 2012, quando a série histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua) foi iniciada, pretos e pardos representavam 59,1% do total de desempregados.

No trimestre encerrado em junho, segundo o IBGE, a taxa de desemprego de entrevistados que se declararam pretos era de 15% enquanto a de pardos, de 14,4%. Entre os que se declararam brancos, o número era menor: 9,9%.

Para o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o dado reforça a necessidade de políticas para reduzir as desigualdades no mercado de trabalho brasileiro.

Em relação ao nível de instrução, o desemprego é bem maior entre aqueles que não completaram ensino médio (21,1%).

Entre os que têm curso superior completo, é de 6,3%.

Em relação ao contingente de desempregados, porém, o maior grupo é aquele que tem ensino médio completo.

Fonte: Folha de S. Paulo

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