Nesta quarta-feira (27), foi iniciado em Brasília o 1º Congresso Nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias (Conamm), um encontro que reafirmou a força de uma categoria com mais de 140 anos de história. Com a participação de sindicatos de todo o país filiados à Conamm, o primeiro dia do Congresso contou com uma fala de Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), à qual a confederação é filiada.
A CSB esteve representada de forma expressiva no encontro, reforçando o compromisso de fortalecer a unidade sindical e ampliar a voz da classe trabalhadora nos debates nacionais.
Em sua fala (confira íntegra abaixo), Antonio Neto destacou a importância da categoria e fez um chamamento à unidade, lembrando que esses trabalhadores não movimentam apenas mercadorias, mas movimentam o Brasil. Ele ressaltou que, por muito tempo, foram tratados como moeda de troca em negociações, mas que a organização sindical mudou essa realidade.“Desde o primeiro dia estivemos ao lado de vocês, contra tudo e contra todos. Nosso compromisso não é com partido ou governo, mas com o trabalhador”, afirmou.
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Neto recordou ainda que a conquista da Lei da Categoria, em 2009, só foi possível pela coragem e pela verdadeira unidade construída entre os trabalhadores, e reforçou que o Congresso não pode ser apenas um encontro, mas precisa ser um grito de unidade.
“Unidade não é discurso bonito, é a diferença entre ser respeitado ou ser esmagado. Sem ela somos frágeis, com ela nos tornamos invencíveis. Que saiamos daqui mais organizados, mais unidos e mais preparados para enfrentar os ataques que estão no horizonte”, disse.
O presidente da CSB lembrou ainda que novas batalhas aguardam os trabalhadores, como a defesa da justiça fiscal com a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, a isenção do imposto sobre a PLR (Participação nos Lucros e Resultados), a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1.
Ele reafirmou o papel da Central como uma organização trabalhista apartidária, mas jamais apolítica, que carrega o legado de Vargas, Jango, Tancredo e Brizola, defendendo um projeto nacional de desenvolvimento soberano, justo e humano. Neto também chamou a atenção para a necessidade de presença política dos trabalhadores no parlamento, lembrando que, sem representação, a classe continuará sendo maioria nas ruas, mas minoria nos espaços de decisão.
“Quando precisamos derrubar retrocessos da reforma trabalhista, enfrentar as práticas antissindicais ou avançar em nossas bandeiras, sentimos o peso de não termos cadeiras suficientes ocupadas por trabalhadores”, alertou. Para ele, é hora de corrigir esse erro e ocupar espaço político em defesa da classe trabalhadora.
Encerrando sua fala, Antonio Neto lembrou a Carta Testamento de Getúlio Vargas e afirmou que a luta histórica dos trabalhadores segue viva nas mãos da categoria. “Que este Congresso seja o testemunho de que a luta de Vargas, de Jango, de Brizola e de tantos outros continua em nossas mãos. Que seja o compromisso de uma categoria que movimenta mercadorias, sim, mas que acima de tudo movimenta a história do Brasil”, concluiu.
Confira a íntegra do discurso de Antonio Neto no Congresso da Conamm:
“Companheiras e companheiros,
Hoje não abrimos apenas o congresso da Confederação Nacional da Movimentação em Mercadorias. Hoje reafirmamos a força de uma categoria que carrega mais de 140 anos de história, uma categoria que não movimenta apenas mercadorias, mas movimenta o Brasil.
Vocês representam aqueles que ergueram os armazéns, sustentaram a indústria, alimentaram o comércio e ajudaram a construir a nação com as próprias mãos e ombros marcados, mas sempre com a cabeça erguida.
Durante muito tempo, porém, foram tratados como moeda de troca em negociações. Foram usados, mas não respeitados. E é exatamente por isso que a categoria se levantou, e a organização sindical de vocês nasceu para virar essa página.
Desde o primeiro dia estivemos ao lado de vocês, contra tudo e contra todos. Mesmo quando assistimos setores do PT se aliarem a setores do bolsonarismo, com a chancela de outras centrais, a CSB não vacilou: ficou firme porque o nosso compromisso não é com partido, não é com governo, não é com conveniência. O nosso compromisso é com o trabalhador.
Se hoje existe a Lei da Categoria, conquistada em 2009, é porque houve coragem de construir uma verdadeira unidade. E não uma unidade de fachada, mas uma unidade concreta, que deixou diferenças de lado e caminhou junto por um objetivo maior. Essa lei incomoda até hoje porque mostra que, quando os trabalhadores se levantam, não há poder que consiga nos deter.
Este Congresso não pode ser apenas um encontro, precisa ser um grito de unidade. Unidade não é discurso bonito, é a diferença entre ser respeitado ou ser esmagado. Unidade é a arma mais poderosa da classe trabalhadora. Sem ela somos frágeis, com ela nos tornamos invencíveis. Por isso este momento deve ser de reafirmação: que saiamos daqui mais organizados, mais unidos e mais preparados para enfrentar os ataques que estão no horizonte.
E que ninguém se engane: é só mais uma batalha de uma série de lutas que virão para os Trabalhadores no próximo período.
Em breve, no Congresso Nacional, teremos a luta pela justiça fiscal com a isenção do imposto de renda até cinco mil reais e a isenção do imposto sobre a participação nos lucros.
Pois, nós trabalhadores queremos qualidade de vida com a redução da jornada de trabalho. Queremos dignidade com o fim da escala 6×1. Essas bandeiras são o futuro que o Brasil precisa construir, e nós as levantaremos com coragem e persistência.
A CSB é uma central trabalhista. Somos apartidários, mas jamais apolíticos. Carregamos o legado de Vargas, de Jango, de Tancredo e de Brizola. Defendemos um projeto nacional de desenvolvimento que não copia cartilhas estrangeiras, mas nasce dos nossos valores, da nossa realidade e da nossa gente.
Um projeto que entenda que o Brasil precisa ser grande, mas também precisa ser justo; precisa ser competitivo, mas também precisa ser humano; precisa ser moderno, mas jamais pode abrir mão da soberania.
Temos clareza do nosso papel: somos a consciência crítica de um governo de Frente Ampla. Não estamos aqui para aplaudir tudo nem para condenar tudo, mas para lembrar que sem o povo trabalhador não existe nação.
E é aqui que preciso fazer um chamado duro, mas necessário. No passado recente, muitos de nossos companheiros escolheram a omissão ou priorizaram pequenos acordos locais. O resultado é que hoje nos falta presença política no parlamento. Quando precisamos derrubar os retrocessos da reforma trabalhista, quando precisamos enfrentar as práticas antissindicais ou avançar em nossas bandeiras, sentimos o peso de não termos cadeiras suficientes ocupadas por trabalhadores.
Chegou a hora de corrigir esse erro. A categoria não precisa ter partido, mas precisa ter lado. O nosso lado é o dos trabalhadores. Isso exige que disputemos espaço, que elejamos representantes, que fortaleçamos aliados. Sem isso, seremos sempre maioria nas ruas, mas minoria onde as leis são votadas.
E é preciso que tenhamos consciência do que nos espera. O ano que vem será uma batalha histórica. De um lado estará o presidente Lula, com todas as contradições de um governo de Frente Ampla que exigirá de nós vigilância e crítica construtiva. Do outro estará o bolsonarismo de sapatênis, que tenta se apresentar polido por fora, mas carrega o mesmo veneno de sempre: antissindical, antipovo, privatista e entreguista. Esse projeto não é apenas contra os sindicatos, é contra o próprio Brasil. E só unidos, organizados e mobilizados seremos capazes de enfrentá-lo.
Companheiras e companheiros, quero encerrar com as palavras de Getúlio Vargas, que há setenta e um anos ofereceu sua vida para entrar na história. Em sua Carta Testamento ele escreveu: “Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam. E não me dão o direito de defesa. Preciso resistir a essa agressão. Mas devo dar-lhes o mais nobre dos testemunhos. Saio da vida para entrar na história.”
Que estas palavras não sejam apenas lembradas, mas vividas por nós. Que este Congresso seja o testemunho de que a luta de Vargas, de Jango, de Brizola e de tantos outros continua em nossas mãos. Que seja o compromisso de uma categoria que movimenta mercadorias, sim, mas que acima de tudo movimenta a história do Brasil.
Muito obrigado.”