Universidade federal ganha mais alunos negros e de baixa renda

Os alunos negros, de baixa renda e que cursaram o ensino médio em escolas públicas são maioria nas universidades federais, de acordo com estudo divulgado ontem pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Em 2014, 51,43% dos estudantes que participaram do levantamento vinham de famílias com renda bruta de até três salários mínimos, ante 40,66% em 2010, data da pesquisa anterior. As mulheres são 53% dos alunos, percentual estável sobre 2010.

As nossas universidades hoje expressam melhor a composição social do país. A cara da universidade é a cara da sociedade brasileira. Uma universidade com maioria feminina e presença popular e negra”, disse a presidente da Andifes e reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ângela Maria Cruz. Na visão da entidade, a mudança de perfil é reflexo de políticas públicas como a unificação dos exames de entradas nas universidades públicas e a Lei de Cotas para os vestibulares das universidades e institutos federais.

De acordo com a quarta edição da “Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições de Ensino Superior Brasileiras”, 10,6% dos estudantes das universidades federais em 2014 eram de famílias com renda bruta acima de dez salários mínimos.

Em 2010, ano da pesquisa anterior, 16,72% estavam na escala superior de renda, nas famílias com renda média bruta maior que dez salários mínimos. “É o fim do velho mito de que as instituições federais de ensino superior são redutos da elite brasileira”, afirmou a presidente da Andifes.

Ao todo, 62 universidades (de um total de 63) participaram e mais de 130 mil estudantes responderam à pesquisa da Andifes, o que representa 10% do universo de alunos matriculados na rede de ensino superior federal.

De acordo com os dados de 2014, 47,57% dos alunos se declaram pretos ou pardos e 45,67%, brancos. A maior participação dos negros nas universidades federais vem crescendo nas estatísticas desde 2003, ano em que a Andifes realizou a pesquisa pela primeira vez, quando 59,4% dos estudantes eram brancos e 34,2% pretos ou pardos.

Em 2010, 53,93% dos estudantes eram brancos e 40,8% pretos ou pardos. Como comparação, a pesquisa traz os dados do Censo de 2010, no qual 45,48% da população se declarou como branca e 53,63% como preta ou parda.

Outra revelação da pesquisa é que a maioria dos estudantes de universidades públicas fez todo o ensino médio no sistema público de ensino. Dos alunos que responderam a pesquisa, 60,16% assinalaram essa opção. Outros 3,86% responderam que fizeram a maior parte dos estudos em colégio público, enquanto 31,49% estudaram apenas em escolas particulares e 4,49% passaram a maior parte do ensino médio no sistema privado.

Para a presidente da Andifes, a mudança de perfil das federais reflete o “advento, nesses últimos anos, do Sistema de Seleção Unificada [Sisu], da política de cotas e do Programa Nacional de Assistência Estudantil, que fez com que essa população se interessasse e ingressasse na universidade.”

Na avaliação de Ângela, o momento é de reforçar as políticas de assistência estudantil, porque, como mostra a pesquisa, um grande número de estudantes ainda precisa trabalhar durante os estudos, o que atrapalha o aprendizado.

De acordo com o levantamento, 35,39% dos estudantes trabalham e, por conta disso, dedicam um número menor de horas aos estudos. Desse total, 45,72% dedicam menos de cinco horas de estudo extraclasse. “Há alguns cursos para os quais isso é impeditivo”, explica afirmou Ângela.

Em meio à crise e ao ajuste fiscal, a reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte reconhece haver um certo temor em relação à política do presidente interino Michel Temer para o setor de educação. “Temos temores, mas não ficamos resguardados nessa temeridade”, afirmou Ângela, questionada sobre o assunto. Segundo ela, é “providencial” que o resultado desse perfil esteja sendo publicado agora. “É com esse material que temos de conversar com a sociedade em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade.”

Por Lucas Marchesini – Valor Ecônomico

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