Central dos Sindicatos Brasileiros

Senado apressará Marco Civil da Internet

Senado apressará Marco Civil da Internet

Líder do PSDB na Casa diz que vai ler texto “com lupa”, mas Renan defende votação em “curtíssimo prazo”

Com o embate entre senadores governistas e da oposição em torno da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a compra de uma refinaria pela Petrobras, em 2006, que causou prejuízo à empresa brasileira, as lideranças partidárias na Casa ainda não discutiram estratégias para a tramitação do projeto que cria um marco civil da internet no Brasil.

Embora na Câmara dos Deputados apenas o PPS tenha encaminhado voto contrário, os líderes partidários no Senado não confirmam que o entendimento feito pelos deputados será mantido.

O líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), disse que vai “estudar com lupa” a proposta aprovada na Câmara dos Deputados na noite de terça-feira. “O trabalho da Câmara foi bem feito, mas tem coisa ali que quero ver mais de perto”, disse, sem citar exemplos.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu votação “em curtíssimo prazo” e declarou que pretende pedir ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Vital do Rêgo (PMDB-PB), pressa na análise da proposta pelo colegiado.

“Teremos uma solução em curtíssimo tempo. A sociedade está cobrando muito isso. Vamos concluir essa votação antes mesmo do início da campanha eleitoral”, disse Renan.

Mas até o líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), admitiu não ter sequer lido o texto da Câmara. “Nossa disposição é votar o mais rapidamente possível, mas o prazo regimental é de 45 dias, a partir dos quais a proposta começa a trancar a pauta”.

O líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), fez até uma brincadeira, ao ser perguntado sobre a tramitação do marco civil da internet. “Márcio Civil? Quem é esse cara?”

O pemedebista disse que, se depender dele, “o entendimento feito na Câmara para aprovar o projeto será preservado e a votação será rápida”. Mas o assunto não foi discutido em sua bancada.

A proposta, que tramitou na Câmara por dois anos e sete meses, define princípios e garantias, direitos e deveres do uso da internet. Um dos principais pontos é a neutralidade da rede, que prevê o acesso a todos os sites e produtos dentro da mesma velocidade de conexão. O objetivo seria impedir empresas de telecomunicação de privilegiar o acesso a sites ou fixar valores diferentes por acesso, dependendo do conteúdo.

Ontem, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), organismo multissetorial responsável por integrar as iniciativas de uso e desenvolvimento da internet no país, saudou a aprovação do marco civil que, de acordo com a entidade, é um “grande avanço para a proteção dos direitos civis constitucionais dos brasileiros”.

Em nota, o CGI.br considera que, caso o projeto passe pelo Senado e seja sancionado pela Presidência da República, nos termos em que foi aprovado na Câmara, “impulsionará o Brasil a ocupar uma posição de liderança mundial no debate sobre o futuro da internet”.

“O marco civil é também um importante exemplo que o Brasil oferece ao mundo, ao aprovar uma legislação que ordena os direitos e responsabilidades dos cidadãos, empresas e governo na internet”, disse o coordenador do CGI.br, Virgílio Almeida.

Para a entidade, o marco civil brasileiro poderá servir de inspiração para outros países, especialmente durante a realização do NET Mundial – Encontro Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança da Internet, que ocorrerá nos dias 23 e 24 de abril, em São Paulo.

De acordo com Almeida, o texto aprovado pela Câmara guarda diversas similaridades com o decálogo de princípios para governança e uso da internet, proposto pelo CGI.br em 2009. Em dois artigos do marco civil, o nono e o 24º, a entidade é citada como órgão consultivo e agente do processo de desenvolvimento da internet no país.

Fonte: Valor Econômico