Em 31 de agosto de 2011, o Banco Central iniciou um inesperado ciclo de alívio monetário, que testaria níveis históricos da taxa básica de juros. Sem intervalo ou aviso prévio, a autoridade monetária interrompeu a trajetória de alta da taxa, então fixada em 12,5%, e anunciou um corte de 0,5 ponto percentual, surpreendendo a expectativa unânime dos especialistas de que a Selic ficaria estável.
Como os mercados não gostam de surpresas, sobraram críticas ao Copom, acusado de agir precipitadamente, já que as projeções de inflação não apontavam para a meta; de não se comunicar adequadamente, como prevê o sistema de metas de inflação; e de colocar em risco a credibilidade conquistada a duras penas ao longo de anos.
Passado um ano da fatídica reunião, o mercado parece ter se rendido ao fato de que o BC enxergou antes a deterioração das condições econômicas globais que estaria por vir. E agiu antecipadamente à consolidação do quadro de retração mundial, que atinge até mesmo a China, até então o motor da recuperação. A credibilidade da autoridade monetária ganhou pontos, embora os benefícios colhidos pela estratégia não sejam ainda completamente percebidos. “Claro que ninguém sabe o que estaria acontecendo se os juros não tivessem caído”, pondera Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC.
O que parece certo é que houve uma radical mudança de política econômica, que alterou os pontos de equilíbrio a serem observados, tanto no câmbio quanto na inflação e na atividade. “A economia brasileira vive uma situação extraordinária, que eu nunca vivi, nem quando estava no BC, nem fora dele”, afirma o ex-diretor do BC e estrategista da Tandem Global Partners, Paulo Vieira da Cunha.
“A queda dos juros em curso não é uma decisão normal de politica monetária, mas de politica econômica mais ampla. Eles estão tentando colocar um novo regime econômico. Se der certo, será ótimo, mas só saberemos disso daqui a cinco anos”, diz ele.
O economista lembra que o BC sempre buscou uma oportunidade para fazer um “choque” na economia capaz de corrigir o nível do juro, considerado uma anomalia. Agora, o governo, em uma ação coordenada, parece aproveitar a situação global de juros baixos, perto de zero nas economias desenvolvidas, para fazer o ajuste. “Mas é um desejo, mais do que qualquer coisa, da presidente Dilma.”
O principal desejo do governo, o crescimento econômico, ainda não veio. Apesar dos primeiros sinais de recuperação, a atividade deve ter uma expansão inferior a 2% neste ano e a velocidade registrada no último trimestre deve ser determinante para o que ocorrerá em 2013, diz David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch.
Fonte: Valor Econômico