A avaliação é do professor sul-coreano Ha-Joon Chang, da Universidade de Cambridge
O rumo da política econômica brasileira está no caminho certo e é normal que a combinação de juros mais baixos e câmbio mais desvalorizado leve algum tempo para produzir um ritmo de crescimento mais forte, disseram ontem o professor sul-coreano Ha-Joon Chang, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. Para os dois economistas desenvolvimentistas, os juros e o câmbio estão hoje num nível mais favorável à indústria manufatureira, um segmento que os dois veem como fundamental para o desenvolvimento do país.
Chang lembrou que o Brasil ficou muitos anos com a taxa básica de juros nas alturas e com o real sobrevalorizado. A mudança desses preços tão importantes para a economia não surtirá efeitos imediatos, o que é esperado, afirmou o sul-coreano. Chang é autor de livros como “Chutando a escada”, no qual diz que os países hoje desenvolvidos enriqueceram usando estratégias que hoje condenam – como o protecionismo.
Segundo ele, no longo período de juros altos e real valorizado, muitas empresas foram destruídas. “Esse é um processo assimétrico. É muito fácil destruir empresas, mas é difícil reconstruí-las”, disse Chang. Os dois participaram ontem de um seminário internacional promovido pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV) e pela Universidade de Cambridge, com a proposta de repensar a macroeconomia e o desenvolvimento econômico.
Para Bresser, o governo Dilma Rousseff moveu o câmbio na direção certa, mas a moeda ainda não está num nível adequado para a indústria manufatureira. O ex-ministro da Fazenda disse que a taxa de câmbio de equilíbrio industrial – aquela que, segundo ele, torna viável empresas que usam “tecnologia no estado da arte” – está na casa de R$ 2,70 a R$ 2,75.
Bresser não vê, contudo, a possibilidade de o câmbio chegar a esse valor. “Para isso, seria necessário adotar um imposto sobre as exportações de commodities, mas não há perspectiva de que isso vá ocorrer”, afirmou o ex-ministro, professor da EESP-FGV. “Não tenho dúvida de que o país vai crescer mais com um câmbio de R$ 2,05 do que com um de R$ 1,65, mas está longe da taxa de equilíbrio industrial.”
Bresser disse ainda que, no curto prazo, a desvalorização do câmbio tem um efeito de retração sobre a atividade econômica. “Os salários caem em termos reais e os preços de equipamentos, de bens de capital, aumentam. Mas, no médio prazo, que logo se manifesta, o efeito é positivo.” No caso dos juros, a taxa Selic, hoje em 7,25% ao ano, já estaria num nível mais adequado, segundo Bresser.
Para o ex-ministro, a indústria não tem investido, porque falta confiança em relação à demanda, e não porque os empresários estariam confusos com a política do governo Dilma, marcada por uma série de iniciativas para estimular o crescimento e ajudar a indústria. “Isso é ridículo. Os empresários querem apoio do governo, e o governo está dando apoio”, afirmou Bresser, elogiando a desoneração da folha de pagamento adotada para vários setores, parcialmente compensada pela introdução de uma alíquota sobre o faturamento.
Chang, por sua vez, destacou o impacto negativo das incertezas no cenário externo sobre o investimento. A situação na zona do euro continua complicada, e há a indefinição quanto à situação fiscal nos Estados Unidos, lembrou o economista sul-coreano.
O professor de Cambridge também vê com bons olhos as medidas adotadas pelo governo Dilma Rousseff para estimular a indústria. Segundo Chang, há o surgimento de novas indústrias e novas tecnologias, como a nanotecnologia e a bioengenharia, que oferecem desafios e boas oportunidades para o Brasil. O país pode vir a se destacar nesses segmentos, em que ainda há muito a ser feito, disse Chang, lembrando que o Brasil é um grande fabricante de aviões, devido à atuação da Embraer, e tem na Petrobras a líder em exploração de petróleo em águas profundas.
Como Bresser, Chang considera o setor manufatureiro crucial para o desenvolvimento do Brasil no longo prazo. Um país com quase 200 milhões de habitantes não pode abrir mão de uma indústria forte, segundo o economista. O segmento tem um papel vital para a inovação, e também é importante para assegurar o crescimento da agricultura e dos serviços, disse Chang, para quem o Brasil precisa recuperar a sua base manufatureira para crescer de modo sustentado a um ritmo mais forte.
Fonte: Valor Econômico