Ato aconteceu no Congresso Nacional; policiais usaram cruzes e lápides para simbolizar as graves consequências do projeto para a categoria
Policiais de diversos estados brasileiros estiveram nesta quarta-feira (8), em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, protestando contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, que trata da Reforma da Previdência. Durante o ato, que contou com a presença de policiais federais, civis, rodoviários, legislativos, além de guardas municipais e agentes penitenciários, os manifestantes espalharam cruzes e lápides em todo gramado do Congresso. De acordo com a organização, aproximadamente 5 mil policiais de todos os estados brasileiros estiveram presentes.
Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal (Sindpol/DF) e vice-presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Flávio Werneck, a manifestação foi um grande sucesso e aconteceu especificamente por conta do item na reforma que retira da Constituição a classificação de atividade de risco, colocando os policias na regra geral de aposentadoria.
“O movimento que mostrou a insatisfação dos profissionais de segurança pública foi um movimento exitoso. Se essa PEC for aprovada, o Brasil para de reconhecer a atividade de risco na Constituição Federal como atividade nociva à saúde, colocando o profissional de segurança pública na regra geral de aposentadoria. Ao invés de 30 anos de contribuição, um policial federal, por exemplo, precisará de 49 anos de contribuição para ter 100% da média. Com essa PEC, os profissionais de segurança pública só vão se aposentar quando morrer, pois a tábua de morte de um policial é abaixo dos 75 anos de idade, em média”, disse Werneck.

“As lápides e cruzes são para demonstrar que, se passar a PEC, os policiais só vão se aposentar depois de morrer, pois eles não vão atingir a idade necessária para aposentar. Em nossa caminhada passamos no Ministério da Justiça, que é o ministério que deveria nos abraçar e tomar conta da segurança pública, mas que se mostrou contrário aos pleitos dos profissionais de segurança pública e não se posicionou para que se buscasse uma solução menos danosa”, completou o presidente do Sindpol/DF.
Os profissionais de segurança pública devem se reunir essa semana para decidir os próximos passos, mas não foi descartada uma paralisação geral, caso a PEC seja aprovada. “Vamos nos reunir para traçar as próximas ações, e não estão excluídas paralisações unificadas de toda segurança pública brasileira durante 24 horas. O primeiro cenário será de diálogo, franco e aberto, mas que o governo tem que participar por meio de seus representantes na Câmara. O segundo cenário é de manifestações para abrir caminhos, esse é um cenário mais de batalha e mobilização de rua. O terceiro cenário, que é algo que a gente não quer de maneira nenhuma trabalhar, mas que temos que prever no caso de uma provação da PEC, é a paralisação com tempo indeterminado de toda segurança pública brasileira”, disse Werneck, que acredita que a CSB terá um papel fundamental no diálogo com os deputados.

Leandro Allan Vieira, presidente do Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciários de Distrito Federal (Sindpen/DF), e vice-presidente da CSB, que classifica como absurda a medida que retira da Constituição a atividade de risco, acredita que o recado já foi dado. “Os profissionais de segurança pública conseguiram dar o seu recado para o governo. Nós podemos fazer uma mobilização nacional e parar o País. Nossa profissão tem que ser considerada e os governantes precisam saber que temos nossas peculiaridades dentro das nossas atribuições. É o perigo, a insalubridade, a expectativa de vida reduzida, então tem que levar essas coisas em consideração. Nós mostramos que vamos reagir e tenho certeza que o governo agora vai avaliar se vale a pena ou não ter o sistema de segurança do Brasil parado em virtude de uma reforma absurda”, argumentou.
Para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sindpol/GO), Paulo Sergio Alves de Araújo, a manifestação demostrou um grande poder de mobilização da categoria. “Mobilizamos todos os policiais, exceto os militares, e mostramos que, se a retirada da nossa aposentadoria policial se concretizar, nós teremos poder de paralisar a segurança pública do País. Não queremos isso, mas exigir que um policial contribua por 49 anos e que trabalhe até os 65 anos é inaceitável. É condenar o policial a morrer trabalhando”, falou Araújo.
O presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais do Distrito Federal (Sinprf/DF) José Nivaldino Rodrigues, que também esteve presente na manifestação, acredita que uma possível aprovação da PEC seria uma retirada histórica de direitos da categoria. “O risco na profissão existe e é inerente, é uma retirada histórica de direitos da categoria, mostra que não é um trabalho reconhecido como essencial para sociedade. É uma total desvalorização”, afirmou Rodrigues.







