Com as mudanças feitas na remuneração da caderneta de poupança e um crescimento econômico ainda lento, a equipe da presidente Dilma Rousseff já avalia que é possível que a taxa básica de juros (Selic) fique abaixo de 8% até o fim do ano.
Segundo assessores presidenciais, isso será possível porque a atividade só vai acelerar, de fato, no segundo semestre, o que abre espaço para o Banco Central dar sequência à redução da Selic, hoje em 9% ao ano.
Reservadamente, a equipe econômica já avalia como impossível atingir um crescimento de 4% neste ano, como deseja Dilma, principalmente depois do anúncio do desempenho negativo da indústria no primeiro trimestre.
A expectativa é que o crescimento da economia fique em pelo menos 3,5%, estimativa com a qual o Banco Central vem trabalhando e que é ainda superior à de boa parte do mercado, que fala em algo entre 2,5% e 3,5%.
Neste cenário de economia enfraquecida, os assessores presidenciais destacam que só a trava da poupança segurava a taxa de juros e que é possível testar um novo piso.
O Palácio do Planalto já dá como certo que, sem nenhuma reviravolta no cenário traçado atualmente, o Banco Central irá reduzir a taxa Selic dos atuais 9% para 8,5% na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no final de maio.
Nas reuniões seguintes, a avaliação é que o BC tem condições de fazer uma redução de 0,50 ponto percentual e mais uma ou duas de 0,25 ponto percentual -fechando 2012 com taxa de 7,5% a 7,75%.
Ontem, um dia após as mudanças no rendimento da poupança, analistas e investidores derrubaram suas estimativas para a taxa básica de juros neste ano e também em prazos mais longos.
Contribuiu para este movimento o pessimismo com o crescimento das economias avançadas. Se o mundo todo cresce menos, é menor a chance de o Brasil alavancar a sua economia.
As taxas para janeiro de 2017 recuaram 0,30 ponto percentual, de 9,81% para 9,50%, comportamento incomum neste mercado, acostumado a oscilações de 0,01 ponto.
As apostam indicam que os investidores preveem taxa básica de 8% no fim do ano. Mas este pode não ser o piso.
O economista David Becker, do Merril Lynch, reviu de 9% para 7,75% sua projeção para a Selic neste ano.
Segundo ele, o governo não enfrentaria o risco político de mexer na poupança se não fosse para tentar alcançar patamares de baixa inédita para os juros.
“A mudança institucional claramente sinaliza que o governo vê espaço para a taxa continuar caindo”, afirmou.
Na sua avaliação, a inflação está sob controle neste momento e a maior preocupação é a atividade fraca.
Assessores presidenciais dizem que Dilma decidiu antecipar as mudanças na remuneração da caderneta de poupança depois de uma reunião com o ministro Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, há duas semanas.
Nesta reunião, os dois concordaram que, diante da demora na recuperação da economia e da piora do cenário externo, era possível reduzir mais os juros.
O ex-secretário do Tesouro e hoje economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, observa que, diante do desempenho da indústria até abril, os analistas do mercado passarão a rever para baixo suas projeções de crescimento “para menos de 3%”.
Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, existe o risco de a inflação reacelerar no ano que vem. Mas, na sua opinião, o BC deverá optar por medidas de restrição para conter o crédito antes de voltar a aumentar a taxa básica de juros.
“Baixar a Selic não é garantia de que a demanda vai se recuperar. Mas não fazer nada é garantia de que a economia não vai crescer”, disse.
Fonte: Folha