Petrobras muda política e gás de cozinha terá reajuste trimestral

Pedro Parente, presidente da Petrobras:”Decisão estritamente empresarial”

Depois de sete reajustes em seis meses, que culminaram numa alta de 57% no preço do botijão de gás de cozinha nas refinarias, no segundo semestre de 2017, a Petrobras anunciou ontem a revisão da política de preços para o gás liquefeito de petróleo (GLP) vendido em botijões de 13 quilos (P-13). Com o objetivo de amenizar o impacto da volatilidade do mercado internacional sobre os preços internos, a estatal passará a aplicar reajustes trimestrais, e não mais mensais.

Junto com a nova política, a companhia também anunciou redução imediata de 5% nos preços do combustível. De acordo com os termos da nova política, o preço do P-13 será fixado com base na média da cotação internacional e do câmbio nos últimos 12 meses. A referência continuará sendo o preço do butano e do propano comercializado no mercado europeu, acrescido de margem de 5%.

Uma regra de transição será adotada em 2018. A partir de abril, os reajustes considerarão a média da cotação internacional nos seis meses anteriores. No terceiro trimestre, a média considerada será de nove meses, até atingir os 12 meses no quarto trimestre.

A nova política também estipula que reajustes superiores a 10% terão que ser autorizados pelo grupo executivo de mercado e preços (formado pelo presidente, Pedro Parente, e diretores), que poderá decidir também por não aplicá-los integralmente. Nesse caso, a parcela do reajuste retida será repassada no ano seguinte, por meio de um mecanismo de compensação.

Parente descartou qualquer possibilidade de prática de subsídio ou intervenção do governo na decisão de mudar a política anterior. “Foi uma decisão estritamente empresarial”, disse.

Agentes do mercado, contudo, destacam que a Petrobras deu o sinal inverso aos investidores. Na avaliação do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, embora a nova política de preços não mude a tendência de alta ou queda dos preços frente à cotação internacional (preocupando-se apenas em diluir os reajustes ao longo do ano), o anúncio pode gerar ruídos.

“Não quer dizer que o governo mandou baixar os preços do GLP, mas sugerese isso. A mensagem para o mercado não é boa, desperta ruídos. Estamos em ano de eleições e a companhia vem de um passado de intervenções estatais nos preços”, comentou.

Já o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP (Sindigás), Sérgio Bandeira de Mello, argumenta que a revisão da política deu um sinal trocado aos agentes do mercado.

“Quando a Petrobras divulgou a política de preços, no ano passado, a mensagem interpretada pelo mercado era de que a estatal caminhava para eliminar a diferenciação de preços [entre GLP residencial e industrial] e se aproximar mais da paridade internacional de importação, o que estimularia a entrada de novo agentes no mercado. Mas, com a revisão da política, reforçou a diferenciação de preços”, disse.

No mercado, existem dois grandes segmentos: o P-13 (vendido sobretudo para residências); e o gás a granel (um tanque fixo, instalado, em indústrias e comércio, é recarregado periodicamente por caminhões), que não conta com uma política definida e é vendido com margens mais elevadas.

Embora estatal ainda continue a atrelar seus preços à cotação internacional, a petroleira não pratica uma “margem ótima” na venda do P-13, segundo o Sindigás. De acordo com a entidade, os preços do GLP residencial estão alinhados com o mercado europeu, mas ainda seguem abaixo da chamada paridade internacional de importação (que considera custos com frete e internação do produto).

“Como estamos utilizando uma referência internacional para os preços, não enxergamos que haja subsídio”, rebateu Parente, ressalvando que a empresa adota margens inferiores para o botijão P-13, em relação aos prêmios mantidos na comercialização dos demais derivados, em função da Resolução nº 4/2005 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

A resolução “reconhece como de interesse para a política energética nacional a comercialização, por produtor ou importador, de GLP, destinado exclusivamente a uso doméstico em recipientes transportáveis de até 13 kg, a preços diferenciados e inferiores aos praticados para os demais usos ou acondicionados em recipientes de outras capacidades”.

Fonte: Valor Econômico

Foto: José Cruz/Agência Brasil/Agência Brasil

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