A negociação coletiva continua submetida à Constituição na reforma trabalhista

Declaração é do desembargador Marcelo D’Ambroso, durante Congresso do RS, que questionou a legitimidade da Lei 13.467 e criticou a tentativa de extinção da Justiça do Trabalho

“Vivemos um estado de exceção mascarado com a aprovação dessa reforma trabalhista”, alerta o desembargador Federal do Trabalho no Rio Grande do Sul, Marcelo D’Ambroso. Na palestra “Limites da prevalência do negociado sobre o legislado”, D’Ambroso apresentou as incongruências da Lei 13.467/2017 aprovada, na sua avaliação, “sem discussão científica, que parte de princípios e de práticas jurídicas acertadas e que foram desrespeitadas nessa reforma”. Esta análise foi feita no Congresso Estadual do RS, que acontece em Gramado até o próximo dia 20. Acompanhe pelo Facebook.

Para explicar a problemática da aplicação do negociado em prevalência sobre o legislado, conforme a lei – que entrará em vigor no mês de novembro – prevê, o desembargador fala do anacronismo em relação a outras duas legislações aprovadas neste ano: a Lei da Gorjeta, aprovada antes da reforma, e a Lei dos Aeronautas, posterior à reforma. “A Lei dos Aeronautas diz que o limite estabelecido para hora extra desses profissionais não poderá nunca ser ultrapassado em negociação coletiva. Mas o mesmo legislador aprovou, anteriormente, que o negociado prevalece sobre o legislado. Então, qual vale?”, indaga.

Ainda que existam inconsistências e interpretações divergentes sobre a sua aplicação, D’Ambroso sustenta que “a ampliação dos poderes da negociação coletiva não significa estar alheio a outras normas. Nenhuma negociação coletiva poderá prevalecer sobre o que está escrito na Constituição e acordado nos pactos firmados com a OIT (Organização Internacional do Trabalho)”. O desembargador sustenta que o juiz, enquanto intérprete da lei, não a faz “do zero” quando surge uma nova legislação, mas como resultado do seu conhecimento anterior sobre os temas. “Obviamente não podemos dar interpretação literal à lei, como pretende o legislador, quando formos aplicar a reforma trabalhista”, defende.

Processo desigual

O desembargador comparou a Lei 13.467 com outras reformas, que levam anos para serem gestadas, a exemplo das civil, penal e tributária – esta última em discussão há mais de dez anos e ainda não encaminhada. “Com a reforma trabalhista, uma lei de mais de 70 anos levou pouco mais de sete meses para ser destruída, sem nenhum debate. É legítimo isso?”, questiona.

Marcelo D’Ambroso repercutiu também ameaça do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que proporá a extinção da Justiça do Trabalho caso observe boicote à aplicação da reforma por parte dos juízes. “Nos falta aprimorar a Justiça do Trabalho, com competência que diminua a litigiosidade trabalhista, e não extingui-la”, defende o especialista.

A interpretação de que a implantação da reforma trabalhista caracteriza um estado de exceção é justificada na forma como tramitou a proposta. Enviada pelo Executivo ao Congresso Nacional em 23 de dezembro de 2016 e sem divulgação, D’Ambroso vê que se inverteu a lógica de discussão e aprimoramento nas casas legislativas. “O trâmite obedeceu apenas o processo formal, mas materialmente não cumpriu sua função. É preciso que nos conscientizemos disso para ver o que é necessário e possível fazer”, disse.

Como modelo comparativo, o desembargador do TRT da 4ª Região ainda elencou as mudanças da reforma trabalhista da Espanha, onde, entre outras mudanças, a nova legislação do trabalho estabelece uma “modificação na regulamentação das negociações coletivas, dando preferência à convenção coletiva da empresa sobre a de âmbito superior, o que significou uma redução drástica nos salários; diminuição e/ou eliminação dos auxílios econômicos estatais para os sindicatos, dificultando-lhes o funcionamento; e a redução das cláusulas indenizatórias em caso de demissão ilegal”.

Leia aqui artigo do desembargador Marcelo D’Ambroso sobre a reforma trabalhista.

O segundo dia de palestras do Congresso Estadual do Rio Grande do Sul foi diversificado em temas. Confira:

  • E a reforma trabalhista?

Não só a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foi afetada pela reforma trabalhista, mas também as legislações previdenciárias, do fundo de garantia e do trabalho temporário e terceirizado, alerta a advogada e consultora Zilmara Alencar na palestra “Política Sindical”.

Assista à palestra e veja a apresentação.

 

  • Quer se comunicar de maneira efetiva com os trabalhadores, a sociedade e sua base?

O historiador e mestrando em educação Márcio Carvalho deu dicas e orientações muito importantes para todo dirigente sindical tornar efetiva a comunicação de seu sindicato. As redes sociais são uma realidade irreversível.

“Precisamos entender o todo da classe trabalhadora para podermos nos comunicar de maneira eficiente nas redes sociais. A comunicação “sindicalesca” é uma derrota política.”

Saiba todos os detalhes na apresentação de Márcio Carvalho e assistindo ao vídeo da palestra.

 

  • Assédio moral é assunto muito sério

O advogado Clóvis Renato Farias conta por quê. Veja a palestra dele no Facebook. Além de informações, há vídeos de depoimentos muito impressionantes. Confira também a apresentação.

 

  • Você, dirigente sindical, precisa se preocupar com a oratória na hora de negociar direitos

Carlos Conce mostra como se preparar no vídeo da sua palestra. Veja os conceitos na apresentação.

 

  • A história do trabalhismo precisa ser conhecida

As lutas dos trabalhadores e a organização sindical no Brasil, especialmente durante a chamada Era Vargas (1930 – 1945), norteou a palestra do historiador Wendel Pinheiro, que abriu o segundo dia do Congresso Estadual da CSB no Rio Grande do Sul. Quer mais detalhes?

Basta assistir à palestra de Wendel Pinheiro e ver a sua apresentação.

Veja a galeria de fotos

Compartilhe:

Leia mais
reunião tst centrais sindicais
Centrais têm reunião com presidente do TST sobre contribuição assistencial e emprego no RS
APOIO À NOTA TÉCNICA Nº 09 DA CONALIS
Centrais sindicais dão apoio à Nota Técnica da Conalis (MPT) sobre contribuição assistencial
acordo rodoviários porto alegre trt
Rodoviários de Porto Alegre terão reajuste no salário e no vale-alimentação
Apoio Financeiro RS prorrogado
Governo amplia prazo para empresas do RS aderirem a Apoio Financeiro a funcionários
prodesp descumpre cota jovem aprendiz
Tarcísio promete 60 mil vagas de Jovem Aprendiz, mas Prodesp descumpre cota
Fachada ministério do trabalho
Ministério do Trabalho notifica 1,3 mil sindicatos para atualizar informações; acesse a lista
falecimentot josé alberto rossi cnpl
Nota de pesar: CSB lamenta falecimento de José Alberto Rossi, ex-presidente da CNPL
3a plenaria conselhao
Centrais defendem esforço maior contra a desigualdade em plenária do Conselhão
Desemprego no Brasil cai em 2024
Desemprego no Brasil cai de 8,3% para 7,1% em um ano; massa salarial cresceu 5,6%
Encontro sindicatos BR-CHINA SP 2
CSB recebe sindicalistas chineses para apresentar atuação sindical no Brasil