Denúncias de infiltração na inteligência alemã levaram chanceler a interromper diálogo com agência americana
A crise política entre os EUA e a Alemanha agravou-se ainda mais nesta quinta-feira (10). O governo alemão pediu que o chefe do escritório da CIA (agência de inteligência americana) em Berlim deixe o país.
O pedido é uma forma diplomática de expulsá-lo. Na prática, a chanceler Angela Merkel dá uma dura resposta diante das acusações de infiltração americana em serviços secretos alemães.
“Foi solicitado ao representante dos serviços secretos americanos na embaixada dos EUA que deixe a Alemanha”, informou Steffen Seibert, porta-voz do governo. “É necessária confiança mútua. O governo está preparado para isso e espera o mesmo de seus parceiros mais próximos”, disse.
Até a conclusão desta edição, o governo americano não havia comentado especificamente a decisão alemã. A Casa Branca limitou-se a dizer que não fala de assuntos de inteligência e que a relação com os alemães é “muito importante e mantém Alemanha e EUA seguros”.
A chanceler vinha sofrendo cobranças por parte de políticos aliados e de oposição para reagir e mostrar força contra os americanos.
Com a expulsão, Merkel sinalizou que cansou de dialogar com os EUA. Questionada sobre o assunto, ela afirmou somente que considerava o tema um “desperdício de energia”.
“Temos coisas mais importantes para fazer”, disse.
No último dia 3, ela chegou a conversar por telefone com o presidente Barack Obama após um funcionário da agência de inteligência alemã (BND), de 31 anos, ter sido preso por ter confessado que passou documentos secretos à CIA. O nome dele ainda está sob sigilo.
Nesta quarta-feira (9), o governo anunciou a investigação do que seria um mais um caso de espionagem americana, e até mais grave: um militar alemão estaria a serviço dos EUA.
Naquele mesmo dia, Merkel conversou por telefone com o diretor-geral da CIA, John Brennan. Ao que tudo indica, não serviu para apaziguar os ânimos.
Um dia depois, seu governo comunicou o pedido de “retirada” do chefe do serviço de inteligência americana da Alemanha, cujo nome não foi revelado.
Grampo
A relação diplomática entre os dois países está estremecida desde o ano passado, quando o ex-agente Edward Snowden revelou ações da americana NSA (Agência de Segurança Nacional) na Alemanha. Entre os episódios estava a interceptação do celular da própria Merkel, o que revoltou a chanceler.
Desde então, ela esteve pessoalmente na Casa Branca e tem cobrado um compromisso americano em relação a serviços de espionagem, algo, porém, que está longe de qualquer consenso com o colega Obama.
Fonte: Folha de São Paulo