Instituições têm margem de lucro suficiente para cortar juros sem a necessidade de medida oficial, diz ministro. ‘Spread’ no Brasil só é menor do que o do Zimbábue; HSBC é a 1ª instituição particular a anunciar taxas menores
Depois de se encontrar com a presidente Dilma Rousseff no fim da tarde de quarta-feira, o ministro Guido Mantega (Fazenda) subiu o tom, ontem, e deixou claro o mal-estar no governo com as declarações dadas na véspera por Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Mantega afirmou que querem “jogar a conta [da redução dos juros] nas costas do governo” quando os bancos têm margem de lucro suficiente para cortar taxas sem qualquer medida oficial.
Antes de se reunir com a presidente, o ministro pediu um levantamento comparando o “spread” (diferença entre o custo do banco para captar dinheiro no mercado e o cobrado no cliente) no país com o resto do mundo.
Ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI) do fim de 2010 com 137 economias mostrou que o “spread” no Brasil só era menor do que o do Zimbábue. Outra comparação com as dez maiores economias mostra que o ganho do setor bancário no país é disparado o maior (veja tabela na página B3).
Ontem, o HSBC foi o primeiro banco privado a anunciar redução de taxas depois que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal implementaram cortes agressivos.
Na filial do banco britânico no Brasil, as taxas menores valem para crédito pessoal (passaram de 2,45% a 1,99% ao mês), financiamento para compra de veículos (de 1,48% a 0,98%) e consignado (de 1,59% a 0,99%).
Com a mudança, a faixa no cheque especial ficou entre 1,39% e 9,98% ao mês.
CUSTO ALTO
Para o governo, ao contrário do que ocorre na maior parte do mundo, no Brasil, o crédito vem crescendo com um custo alto. Daí o sistema financeiro ser tão rentável.
“O Murilo Portugal [presidente da Febraban], em vez de trazer soluções anunciando aumento de crédito, veio para fazer cobrança de novas medidas do governo. Se os bancos são tão lucrativos, eles têm margem, sim, para reduzir taxas”, disse Mantega.
No Planalto, também foi considerado inaceitável que o setor privado reduza a concessão de crédito. “As pessoas estão com vontade de consumir, mas está havendo uma retenção de crédito por parte dos bancos privados”, disse.
Por isso a ação mais forte dos bancos públicos para o processo de corte dos juros. “Não vamos deixar a economia sem crédito.”
Mantega apontou ainda que os bancos públicos têm níveis de inadimplência menores do que os privados e que “farão o que fizeram em 2009″, quando as taxas foram reduzidas para combater o impacto da crise. “Não há risco. Eles terão até mais lucro, pois vão emprestar mais.”
Fonte: Folha