Para o ex-ministro do Trabalho e Emprego, é preciso união e engajamento da classe trabalhadora para barrar as tentativas de retrocesso impostas pelo capitalismo
O ex-ministro do Trabalho e Emprego Manoel Dias subiu ao palco do II Congresso da CSB, na tarde desta quinta-feira, 25, para falar do importante legado deixado pelo projeto trabalhista brasileiro, semeado durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930), à luta da classe operária. Em uma intervenção coerente com o atual momento nacional, de instabilidade política e de dificuldade econômica motivada, em larga metida, pelas investidas do capitalismo internacional, Dias tocou na ferida ao afirmar que a luta de classe exige esforços, por vezes, acima da vida.
“São os momentos mais difíceis da história do nosso país. Nossas maiores lideranças devem, em holocausto, suas próprias vidas. Mas do que impedir um golpe, Getúlio [ao cometer suicídio] deu o sangue para impedir a retirada e o retrocesso nos direitos dos trabalhadores brasileiros”, rememorou.
Para Dias, a grande contribuição do trabalhismo – defendido durante a vida política de Vargas, João Goulart e Leonel Brizola – é o seu potencial social-desenvolvimentista, que propõe, por meio da intervenção do Estado, uma alternativa de barrar os excessos do mercado financeiro para, então, atingir uma forma equilibrada e humana de desenvolvimento, com maior ênfase às políticas que podem transformar a vida dos trabalhadores.
“O que assistimos aqui é uma repetição da História. Muda-se o palco, mas os atores são os mesmos. Continuam sendo os interesses do capitalismo internacional, do neoliberalismo, que impõem o retrocesso. A política imperialista se fez presente no mundo todo e impõe aos governos, populares e progressistas, derrotas que impedem os avanços das nações. O neoliberalismo aproveitou para dizer que não há mais disputa de classe e impôs ao mundo inteiro o discurso de que agora a luta ideológica acabou, tentando dificultar a organização, o progresso e a luta popular”, alertou Manoel Dias.
O ex-ministro ainda destacou que o projeto trabalhista tem no horizonte o desejo de reerguer o Brasil gigante que, em razão das investidas contrárias à soberania nacional, continua refém do neoliberalismo e de sua voracidade pelo capital. “A luta histórica do trabalhismo, assim como a criação da CLT, do descanso semanal, do voto da mulher, é resultado das ações dos maiores estadistas do nosso País [em referência a Vargas, Goulart e Brizola], amados pelo povo brasileiro e odiados pelas elites. O que mais representou isto [o projeto trabalhista] foi a criação da Petrobrás e a Campanha em defesa do Pré-sal”, disse.
Segundo afirma, é a política neoliberalista retomada, sobretudo, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso que fez com que o País se acovardasse diante do mercado financeiro. “Mas o governo FHC, sob a alegação de que se não abríssemos [a economia] iríamos perder investimento, entregou nossas estatais. Agora, conseguiram que fosse aprovado no Congresso Nacional doar esse patrimônio da nação brasileira, que é a Petrobrás”, lamentou.
Em sua fala, o ministro Manuel Dias fez referência ao Projeto de Lei recém-aprovado no Senado Federal que altera as regras de exploração do Pré-sal, retira da Petrobrás a exclusividade sobre a camada e ainda desobriga a estatal a contribuir com, pelo menos, 30% em todos os consócios interessados na reserva.
“A aprovação no Senado da proposta apresentada por Serra [PSDB/SP] extingue o monopólio da estatal. Eles não farão abrupta, mas gradativamente. E depois que abrir, não vão conseguir fechar. Isso significa o fim da soberania nacional, o fim do orgulho nacional, porque mais ações como essas e estamos capitulando. Isto não é admissível num país detentor de tantas riquezas, líder natural de um continente”, ponderou.
Retomada
Para Dias, o Brasil precisa dar sinais claros de retomada para mostrar aos demais países, especialmente às nações latino-americanas, que não irá sucumbir às investidas do capital. “O mais importante é a gente resistir a tudo isso, sob perda de botar em risco nossa democracia. A democracia tem que ter um instrumento forte. Temos que nos organizar, voltar para as ruas, porque a democracia é o instrumento mais importante dos trabalhadores. Não há local mais importante do que o trabalhador na rua. É na rua que o trabalhador reivindica, protesta, conquista os avanços econômicos e sociais. A democracia se faz através da liberdade, e a liberdade é inegociável”, sentenciou.
Alternativa para a organização trabalhista
O ex-ministro ainda elogiou o crescimento da Central dos Sindicatos Brasileiros enquanto alternativa à organização da luta da classe trabalhadora. Segundo afirmou, a CSB é “das centrais, a mais trabalhista. Mais comprometida com o nacionalismo, com a defesa dos interesses nacionais e dos trabalhadores”, enalteceu.
Para ele, apenas a luta de classes e o engajamento popular serão suficientemente fortes para resistir “àquilo que as forças externas conservadoras estão insistindo em tirar”. Numa convocação ao povo brasileiro, Dias finalizou: “O trabalhador não pode ser passivo, omisso, ausente, porque ele é a causa da construção da riqueza nacional. Tem que ir às ruas reivindicar seus direitos e ser partícipe na discussão. Não há nada mais importante do que a politização dos trabalhadores”, concluiu.
Patrocínio e apoio
O II Congresso da CSB conta com o patrocínio e apoio do Governo Federal, do Governo de Brasília, do Ministério do Trabalho e Previdência Social, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação (Feittinf), do Serviço Social da Indústria (Sesi), da Caixa Seguradora e da empresa Ábaco Informática.
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