Juro exorbitante mantém Brasil em círculo vicioso e impede desenvolvimento

Taxa brasileira é uma das maiores; lucro dos bancos só aumenta

O Santander Brasil, assim como seus outros 4 grandes irmãos do sistema financeiro, anunciou no começo de fevereiro seu lucro líquido do 4º trimestre de 2017: exitosos R$ 2,757 bilhões. O número representa alta de 38,4% em relação ao mesmo período do ano anterior e contrasta com 2 outros índices: o crescimento econômico do país em 2017 que deve ficar em torno de vergonhoso 1%, segundo previsão do mercado e o desemprego que fecha o ano com a assustadora taxa de 12,7%. Para se ter uma ideia, em 2016, enquanto o País já estava na depressão econômica, o lucro líquido das 4 maiores instituições financeiras com ações listadas na Bovespa somou R$ 50,29 bilhões.

Como isso é possível?

O sociólogo Sérgio Abranches talvez tenha a resposta. Em seu livro “A era da incerteza”, ele demonstra que a saúde do sistema financeiro deve prevalecer sobre todos os outros valores econômicos. Em outras palavras, qualquer medida de governo, política pública ou diretriz orçamentária deve levar em conta a primazia dos bancos.

Para atingir os mais altos patamares de rentabilidade, os agentes do capital cobram um custo social elevado. Mesmo encolhendo a concessão de crédito para o setor produtivo –atividade intrínseca dos bancos e imprescindível para o desenvolvimento do país– 2017 foi um ano de bonança proporcionada pelo crescimento da dívida pública, reestruturando e alongando as dívidas deixaria clientes e com a obrança de tarifas bancárias sob o auspício do Banco Central. Podemos esperar para 2018, lucros ainda mais indecentes em contraste com o desempenho do conjunto da economia do país por conta da reforma trabalhista que reduzirá em alguns bilhões o custo dos bancos com ações trabalhistas.

Mas há outras explicação.O Brasil é o país com uma das maiores taxas de juros do mundo, um título que não é para se orgulhar, pois inviabiliza nosso desenvolvimento e perpetua um sistema de exploração e miséria.

Enquanto nos Estados Unidos e na Europa os juros de um empréstimo pessoal giram em torno de 3,6%, no Brasil pagamos uma média de 70% ao ano. A taxa de juros do cartão de crédito rotativo para pessoas físicas está na casa dos 400% ao ano e o cheque especial acima de 320%.

No caso dos empréstimos para as empresas, segundo dado do Banco Central, a taxa era de 25,3% ao ano em julho. Todo empresário que precisa descontar uma duplicata ou o trabalhador endividado sofre na pele com essa taxa escorchante sob a leniência do governo, na medida oposta da satisfação dos acionistas e rentistas.

Tal é a força desse segmento, que no Brasil, as lojas de departamentos não são mais comércio, mas instituições financeiras que parcelam os produtos em dezenas de vezes, embutindo juros e cobrando até três vezes o valor destes bens para o trabalhador. Isso representa uma expropriação atroz nos salários de quem ganha pouco, muito mais do que a falta de correção das remunerações.

O domínio do sistema financeiro na esfera pública parece ter se consolidado. Os bancos impõem incondicionalmente seus interesses e os governantes se submetem a sua agenda sem resistência. Tem sido assim desde a redemocratização do país sem que sequer as forças de esquerda, que chegaram ao poder em 2003, a contestassem. Ao contrário, assimilaram e aplicaram os fundamentos do neoliberalismo agressivo.

O sinal amarelo está aceso. Não é possível que o Brasil tenha mais de 13 milhões de desempregados, milhares de empresas na beira da falência e outras já quebradas, enquanto apenas os bancos registrem lucros recordes em seus balanços. Tem algo errado nisso.

Não temos nada contra o fato dos bancos lucrarem, mas no momento em que esses lucros representam o aniquilamento do setor produtivo, empobrecimento e inviabilização da economia do país, temos que criar mecanismos para regular essa distorção.

Ou o Brasil limita a taxa de juros ou jamais nos libertaremos deste círculo vicioso que tem impedido o nosso desenvolvimento.

Fonte: artigo de Antonio Neto para o site Poder 360.

Compartilhe:

Leia mais
Lula critica fala de campos neto
Lula critica fala de Campos Neto sobre aumento de salários ser uma "preocupação"
Manifestação contra juros altos 30 de julho
Centrais sindicais farão ato contra juros altos: cada 1% na Selic custa R$ 38 bi ao povo
eduardo leite nova proposta servidores
Governo do RS adia projetos de reestruturação de carreiras de servidores e anuncia mudanças
Grupo de Trabalho estudará impactos da inteligência artificial
Governo cria grupo para estudar impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho
GT do G20 sobre emprego em Fortaleza
CSB em reunião do G20: temas discutidos aqui são colocados em prática pelos sindicatos
adolescentes trabalho escravo colheita batatas cerquilho sp
SP: Operação resgata 13 adolescentes de trabalho escravo em colheita de batatas
sindicam-ba filia-se csb
Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Bahia filia-se à CSB
Parceria Brasil-EUA contra calor extremo trabalhadores
Parceria Brasil-EUA pelos Trabalhadores e OIT debatem ação contra calor extremo
BNDES abre concurso 2024 veja edital
BNDES abre concurso com 150 vagas e salário inicial de R$ 20 mil; acesse edital
pesquisa jornada flexivel trabalho híbrido
Flexibilidade de jornada é prioridade para 30% dos trabalhadores no Brasil