Segundo a FGV, 10% da população entre 19 e 24 anos não estuda, trabalha ou busca emprego
Cerca de 1,5 milhão de brasileiros entre 19 a 24 anos, concentrados nas faixas mais pobres da população e excluindo donas de casa e mulheres com filhos, nem trabalham, nem estudam e nem procuram emprego e esse perfil tem crescido dentro do total da população jovem do país.
É o que mostra o estudo “Os Nem-Nem-Nem: Exploração Inicial Sobre um Fenômeno Pouco Estudado”, da pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Joana Monteiro. Para a especialista, o avanço desse perfil preocupa. A maioria desses jovens, com parcela significativa de baixa escolarização, podem ajudar a elevar o desemprego, caso decidam tentar a sorte no mercado de trabalho, após os 24 anos. “A baixa qualificação limita muito o tipo de trabalho que podem conseguir.”
Além disso, o fato de pertencerem a famílias mais pobres, com pouca capacidade de sustentá-los, eleva a probabilidade de se tornarem dependentes do governo, avalia a especialista. Do total de 1,5 milhão, em torno de 46% podem ser considerados pobres, pois vivem em domicílios que estão entre os 40% mais pobres na distribuição de renda, segundo cálculos de Joana.
O recorte por faixa etária a partir de 19 anos é proposital, visto ser difícil encontrar jovens abaixo de 18 anos fora da escola, tendo em vista o avanço da escolaridade entre os brasileiros na última década, bem como a legislação envolvida em manter os jovens na escola, até essa idade.
O recorte por faixa etária a partir de 19 anos é proposital, visto ser difícil encontrar jovens abaixo de 18 anos fora da escola, tendo em vista o avanço da escolaridade entre os brasileiros na última década, bem como a legislação envolvida em manter os jovens na escola, até essa idade.
O levantamento, que trabalhou basicamente dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, esses jovens desalentados, excluindo donas de casa e mulheres com filhos, já representavam 10% da população total de jovens nessa faixa etária em 2011 – um avanço em relação a 2006, quando a fatia era de 8%. “Nem mesmo a melhora nos indicadores de emprego, com aumento de vagas e de renda, estimulou a entrada desse jovem no mercado de trabalho”, diz a pesquisadora da FGV.
O nome da pesquisa vem daqueles que “nem trabalham, nem estudam, nem procuram emprego”, explicou Joana, usando expressão “nem-nem” que já vem sendo utilizada por economistas para delimitar jovens que não trabalham nem estudam.
Excluir donas de casa e mulheres com filhos, que também não trabalham, não estudam e nem procuram emprego, torna mais claro o possível impacto desse cenário no mercado de trabalho futuro, afirma Joana. A economista informou que, com a inclusão de donas de casa com filhos, essa fatia de “nem-nem-nem” na população entre 19 e 24 anos pularia para 17% dessa faixa etária – em torno de quatro milhões de pessoas.
No entanto, Joana observou que há probabilidade menor de que mulheres donas de casa com filhos, que não procuram vagas, conduzirem a um impacto negativo no emprego. Isso porque é relativamente baixa a perspectiva de que essa mulher vá procurar trabalho, em futuro próximo, porque já cuida da casa e dos filhos.
O mesmo não se pode dizer dos jovens desalentados sem filhos. Desses 1,5 milhão de jovens, 20% tinham menos de cinco anos de escolaridade – a maior fatia entre as faixas de estudo delimitadas. Ela considerou que, em um segundo momento, esses jovens podem se converter em adultos em busca de uma vaga. Mas a baixa qualificação tornaria difícil um lugar na população ocupada. Na prática, seriam mais pessoas em busca de trabalho, sem encontrar, impulsionando indicadores de desocupação.
Outro aspecto estudado por Joana é o ambiente domiciliar que permite esse jovem não trabalhar, não estudar e não procurar emprego. Ela admitiu que jovens de baixa escolaridade têm chance muito maior de serem inativos, quando estão em domicílios cuja renda conta com forte presença de benefícios sociais, como programas de transferência de renda. Mas essa não pode ser considerada a única explicação, frisou. “Impossível dizer se recebimento de benefícios sociais é causa ou consequência da inatividade”, afirmou.
Para ela, o fenômeno não é puramente econômico. A figura protetora da mãe brasileira, disposta a sustentar os filhos até mais tarde, ajudaria na formação do cenário, segundo Joana. “Incentivar a entrada dos ‘nem-nem-nem’ na população economicamente ativa está longe de ser trabalho fácil. O grupo não responde às condições do mercado de trabalho. É possível que essa parcela entre 8% e 10% [sem donas de casa e mulheres com filhos] seja um nível normal de inatividade”, disse.
Fonte: Valor Econômico