Burkina Faso deu início a uma nova fase industrial ao lançar sua primeira marca de veículos elétricos montados em território nacional: a Itaoua. O nome da empresa homenageia um vilarejo nos arredores de Uagadugu, enquanto o cavalo de sua logomarca simboliza força, longevidade e prestígio, elementos que refletem a ambição do projeto.
Para conhecer a operação, o Brasil de Fato visitou a sede da montadora na capital. O diretor-geral da concessionária, Abdoulatif Rouamba, relembrou o início da trajetória.
“A produção começou em janeiro de 2025. Em seguida, começamos a venda dos veículos elétricos Itaoua. Começamos com dois modelos de entrada, o Itaoua Sahel e o Itaoua Native. Depois recebemos outros modelos, como o Itaoua Tenakuru e o Itaoua Land Elder, que é uma picape”, afirma.
LEIA: CSB na COP30: sindicalismo, negociação coletiva e transição justa rumo ao trabalho sustentável
Rouamba destaca o impacto ambiental positivo dos modelos totalmente elétricos. “Hoje é possível dirigir com conforto, a baixo custo e ainda proteger o meio ambiente para as futuras gerações. Conduzir um veículo elétrico Itawa é contribuir diretamente para essa preservação”, completa.
Tecnologia chinesa, mão de obra burquinense
Os veículos são montados em Ouaga 2000, distrito a 25 km da capital. O avanço foi possível graças ao suporte técnico da China: engenheiros burquinenses foram treinados em fábricas chinesas antes de aplicar o conhecimento adquirido no país. Segundo Rouamba, a Itaoua hoje faz apenas a montagem, mas planeja desenvolver designs próprios em breve.
O diretor destaca ainda a cooperação com países membros dos Brics. “Estamos trabalhando em um ambiente de negócios com países como a China e a Rússia, dentro de uma lógica de parceria ganha-ganha. Não é um modelo de colaboração em que somos explorados. Todos ganham sua parte”, afirma.
“Também estamos inseridos em um processo de transferência de tecnologia. Por isso nossos técnicos foram formados lá fora e hoje aplicam o que aprenderam em benefício da Itaoua, de Burkina Faso e, de maneira geral, da África”, acrescenta.
Apesar de discussões globais sobre minerais como lítio e cobalto, os carros elétricos se destacam pela ausência de emissões diretas de CO₂ e outros poluentes.
Sahel, o queridinho nacional
O modelo mais procurado da marca é o Itaoua Sahel, compacto totalmente elétrico equipado com GPS, Bluetooth e sistema de recarga solar. Uma carga completa custa entre 3.000 e 6.000 francos CFA (aproximadamente R$ 30 a R$ 60), enquanto o litro da gasolina está perto de R$ 8 no país.
O vendedor Cheik Omar Kone destaca a autonomia e a rapidez da recarga. “O Itaoua Sahel tem uma autonomia de até 330 quilômetros e pode ser recarregada em apenas 30 minutos em casa ou em estações rápidas”, explica.
Para ele, o benefício econômico é incontestável. “Os carros são econômicos, ecológicos e fundamentais para um país que enfrenta dificuldades na gestão de combustíveis. Com os elétricos, ajudaremos a população a se deslocar mais facilmente e de maneira sustentável”, afirma.
Expansão para táxis e aplicativos
A Itaoua também fabrica modelos híbridos, como o Tenakuru, equipado com câmeras 3D, teto solar panorâmico e três modos de condução: econômico, normal e esportivo. A montadora considera sua atuação parte essencial da estratégia do governo Traoré para alcançar soberania energética e criar empregos para jovens.
Segundo Omar Kone, a aceitação tem crescido rapidamente. “O país está evoluindo em vários aspectos: transporte, infraestrutura e muito mais. Muitos burkinabés acreditam na eletrificação. Já vendemos carros para o Estado, para particulares e até para uma empresa que opera táxis elétricos. Estamos no caminho certo. O povo burkinabé realmente confia no elétrico”, diz.
Hoje, circulam em Uagadugu cerca de 30 táxis elétricos da marca. A expectativa é expandir a frota para mais de 100 veículos nos próximos meses, segundo Rouamba.
“Atualmente temos parceiros que compram os veículos elétricos Itaoua e inauguram modelos de mobilidade elétrica para transporte por aplicativo, os VTC’s. Em vez de carros movidos a combustível, já existem veículos totalmente elétricos operando esses serviços”, ressalta.
Ele lembra que grande parte dos táxis do país são carros importados e desgastados, conhecidos como “França Au Revoir”. “Nosso objetivo é criar uma nova dinâmica que permita aos taxistas utilizarem veículos totalmente novos, que são muito mais rentáveis em comparação aos movidos a combustíveis fósseis”, afirma.
Rouamba projeta um futuro ousado para a indústria nascente. “Acredito que, nos próximos anos, poderemos conquistar primeiro a África Ocidental, depois toda a África e, por que não, chegar a países europeus, americanos e asiáticos.”
Com informações de Brasil de Fato
Foto: Reprodução







