Apenas em Nova York, há cerca de 100 mil contêineres esperando para serem descarregados; prejuízo estimado é em torno de US$5 bilhões por dia
Trabalhadores portuários da costa leste e do Golfo dos Estados Unidos entraram em greve nesta terça-feira (1º), paralisando ao menos 36 portos no país, como os de Nova York e Texas. Esta é a primeira vez que a categoria entra em greve em quase 50 anos, após a entidade patronal fazer uma oferta “muito aquém” do pedido pelo sindicato dos trabalhadores.
A paralisação interrompeu o fluxo de cerca de metade do transporte marítimo dos EUA e afeta todos os tipos de produtos – de alimentos a automóveis –, o que deve causar um prejuízo em torno de 5 bilhões de dólares por dia, segundo analistas ouvidos pela Reuters.
A ILA (Associação Internacional dos Portuários, na sigla em inglês) representa 45 mil trabalhadores portuários e negocia com o sindicato patronal, USMX (Aliança Marítima dos Estados Unidos), um novo acordo que seria válido por seis anos.
Além de reajuste salarial, os trabalhadores pedem proteção contra a automação das atividades e substituição de mão de obra por máquinas. O prazo para fechar o acordo era até as 23h59 (horário local) desta segunda, 30 de setembro, mas a proposta patronal foi recusada. A ILA então comunicou que fechou todos os portos do Maine ao Texas a partir das 0h01 desta terça.
O líder da ILA, Harold Daggett, disse que os empregadores não têm oferecido aumentos salariais adequados e não concordaram com as exigências de interromper os projetos de automação portuária. Já a USMX afirmou que aumentou em 50% sua proposta anterior de reajuste salarial.
“Estamos preparados para lutar pelo tempo que for necessário, para permanecer em greve pelo tempo que for preciso, para obter os salários e as proteções contra a automação que nossos membros merecem”, disse Daggett nesta terça-feira. “O USMX é o dono dessa greve agora. Agora eles precisam atender às nossas exigências para que a greve termine.”
Consequências
A greve, a primeira da ILA desde 1977, está preocupando as empresas que dependem do transporte marítimo para exportar seus produtos ou garantir importações essenciais. Temendo a possibilidade de paralisação, nos últimos meses os varejistas têm acelerado as importações de produtos para o Halloween e festas de fim de ano e transferindo remessas para a costa Oeste dos EUA sempre que possível.
“Esperamos que a greve em si dure de cinco a sete dias até uma intervenção do governo, mas é provável que o efeito cascata seja sentido na Europa e na Ásia pelo menos até janeiro e fevereiro”, afirmou Peter Sand, analista-chefe da plataforma de preços de remessa Xeneta.
Apenas nos portos em Nova York há cerca de 100 mil contêineres esperando para serem descarregados e outros 35 navios porta-contêineres são esperados para aportar na cidade na próxima semana, disse Rick Cotton, diretor executivo da Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey.
Se prolongada, a greve forçará as empresas a pagarem aos transportadores por atrasos e fará com que algumas mercadorias cheguem atrasadas para a temporada de compras de fim de ano, impactando potencialmente a entrega de itens como brinquedos, árvores de Natal artificiais, carros, café e frutas.
Impacto político
A disputa também está encurralando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que é favorável aos sindicatos e ações trabalhistas, já que sua vice-presidente, Kamala Harris, está em uma disputa eleitoral contra o ex-presidente republicano Donald Trump.
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O chefe de gabinete da Casa Branca, Jeff Zients, e a principal conselheira econômica, Lael Brainard, pediram aos membros do conselho da USMX em uma reunião na segunda-feira para resolver a disputa de forma justa e rápida, disse um funcionário da Casa Branca. No entanto, o governo tem descartado o uso de poderes federais para interromper a greve.
A Casa Branca disse nesta terça-feira em um comunicado que está monitorando os efeitos na cadeia de suprimentos “e avaliando maneiras de lidar com possíveis impactos”, apontando que o efeito inicial sobre os consumidores deve ser limitado.
Aumento nas greves
Os portuários que entraram em greve nesta terça são apenas o mais recente grupo sindicalizado a paralisarem as atividades por melhores contratos, demonstrando seu valor tanto para a economia nacional quanto para o resultado financeiro de seus empregadores.
Sindicatos de trabalhadores automotivos, atores, camareiras de hotel e montadores de aeronaves também entrarem em greve nos últimos meses. Eles argumentaram que fizeram os sacrifícios exigidos por suas empresas durante a pandemia e períodos econômicos difíceis, e agora é hora de compensar, especialmente após vários anos de inflação em alta.
Entre 2022 e 2023, o número de greves aumentou 9% nos Estados Unidos, com 466 paralisações e quatro lockouts, de acordo com números levantados pela Escola de Relações Industriais e Trabalhistas da Universidade Cornell. No entanto, o número de trabalhadores envolvidos nas greves – cerca de 540 mil – foi mais que o dobro do ano anterior, segundo a Universidade.
Em 2024, o banco de dados mantido pela Cornell e pela Escola de Relações Trabalhistas e Emprego da Universidade de Illinois registrou 250 greves e outras ações trabalhistas até agora.
Com informações de Reuters e Associated Press
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