Geração de emprego formal muda realidade das favelas, afirma autor de “Um País Chamado Favela”

De acordo com o Censo Empresarial de 2010, a Rocinha tinha 130 mil habitantes e aproximadamente 6 mil empreendimentos, a maior parte deles atuando na informalidade

O livro “Um País chamado Favela”, dos autores Renato Meirelles e Celso Athayde, foi lançado nesta segunda-feira (15) na Cufa, em Madureira (RJ) e teve participação da Presidenta Dilma Rousseff. A publicação, da editora Gente, é resultado de pesquisa inédita, feito pelo Instituto Data Favela, e divulgada em 2013 em que apresenta radiografia das favelas brasileiras, reunindo hoje 12 milhões de habitantes, o equivalente a 6% da população brasileira.

De acordo com os autores, o resultado surpreende quem só conhece o tema pelo estereótipo mostrado pela mídia, que muitas vezes passa uma visão de preconceito que a cidade tem da favela. Por exemplo, no País, a renda dos favelados é o equivalente ao consumo de países como Paraguai e Bolívia; e se fossem um estado, as favelas seriam o quinto mais populoso da federação, capaz de movimentar R$ 64,5 bilhões por ano.

“’Um País Chamado Favela’ tem como objetivo eliminar uma série de informações erradas que as pessoas sempre tiveram a respeito deste universo (…) e pautar a favela de uma maneira que a favela fosse a protagonista”, destacou Celso Athayde. A pesquisa que deu origem ao livro corrobora essa visão ao concluir que a maioria absoluta dos moradores das favelas se considera feliz, não tem vontade de deixar a comunidade onde mora e tem orgulho do local onde vivem. Otimistas em relação ao futuro, os moradores também acreditam que a vida na comunidade melhorou de alguma forma. E essa percepção está associada, principalmente, ao aumento da renda e da geração de emprego.

Renato Meirelles também chama atenção ao fato de favela ter passado por mudanças ao passo que o Brasil reduziu desigualdades nos últimos anos, com a renda dos 25% mais pobres crescendo 45% nos últimos 10 anos, enquanto que a dos 25% mais ricos cresceu 12%.

“A favela mudou porque mudou a economia. (…) A gente teve a favela crescendo mais economicamente que o asfalto. Essa classe média, que é 65% da favela, é 54% no Brasil. Então, em dez anos, praticamente se dobrou a participação da classe média na favela”, disse Meirelles.

O pesquisador também ressalta que o principal indutor da mudança se deu em função da criação de empregos formais, que trouxe também direitos trabalhistas e benefícios que muitos moradores das comunidades não usufruíam.

“Por mais que 1/4 da favela receba o Bolsa Família, isso é menor que no Nordeste, onde 46% recebem o Bolsa Família. O que efetivamente mudou a realidade das favelas foi a geração de emprego formal. Isso muda tudo, as pessoas passam a ter direito a crédito, passam a ter direito a férias. Com a legislação trabalhista, passam a receber 13 salários e ter 11 meses de trabalho; e recebem o adicional de 1/3 de férias. Com isso aumenta o turismo para a favela. No ano passado 1,93 milhão moradores de favela viajaram de avião”, declarou.

Meirelles ratificou o emprendedorismo como o próximo motor da economia das favelas, conforme entrevista ao Blog do Planalto, em agosto. Segundo ele, o crédito dentro das comunidades é fundamental para a estratégia de crescimento sustentável.

“Quando a gente pergunta sobre a vontade de empreender, é gigantesca dentro da favela. Detalhe interessante é que, além disso, eles não querem sair da Favela, seja para ter seu negócio, seja para morar. É como se o ecossistema econômico da Favela fizesse com que a renda de todos crescesse”, finalizou Meirelles.

De acordo com o Censo Empresarial de 2010, a Rocinha tinha 130 mil habitantes e aproximadamente 6 mil empreendimentos, a maior parte deles atuando na informalidade. Considerados os moradores que trabalham, a Rocinha é a favela campeã em empreendedores: 10,1% contra 8,5% no Complexo do Alemão; 28% dos moradores da favela têm intenção de um dia abrir o próprio negócio e, entre esses, 59% quer fazê-lo dentro da favela.

A pesquisa
A pesquisa Radiografia das favelas brasileiras foi realizada em setembro de 2013, pelo Instituto Data Favela, criado por Athayde e Meirelles. Foram entrevistadas 2 mil moradores de 63 favelas, de dez regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e Distrito Federal).

“Para poder fazer esse livro, a gente construiu um instituto de pesquisas, que é entre nós da Cufa e o Data Popular. (…) A gente produziu em vários estados essa pesquisa, formalizou e formou uma série de pessoas de favela, com a supervisão do Data Popular, em que essas pessoas de favela aprenderam a aplicar questionário, aprenderam a elaborar questionários e aprenderam a fazer a reflexão do resultado dele”, explicou Athayde.

Sobre os autores
Renato Meirelles – Pesquisador e presidente do Data Popular, instituto de pesquisa pioneiro no conhecimento dos consumidores das classes C, D e E no Brasil. Em 2012, integrou a comissão que estudou a Nova Classe Média, na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. É fundador do Data Favela, especializado em análises profundas sobre as comunidades brasileiras. No Data Popular, conduziu diretamente mais de 300 estudos sobre o comportamento do consumidor emergente. Ao longo de sua carreira, já atendeu empresas de variados segmentos de varejo, indústria e serviços.

Celso Athayde – Produtor de eventos e ativista social, especializado nas favelas e periferias do Brasil. Criador da Central Única das Favelas, do Top CufaPrêmio AnúTaça das Favelas, Liga de Basquete de Rua. Nasceu na Baixada Fluminense (RJ) e cresceu na Favela do Sapo. Celso escreveu os livros Falcão – Meninos do Tráfico, Mulheres e o Tráfico e Cabeça de Porco, os dois primeiros com o rapper MV Bill e o último com MV Bill e o sociólogo Luiz Eduardo Soares. Em 2013, deixou a Cufa para criar a primeira holding do Brasil focada em favelas, a Favela Holding.

Fonte: Blog do Planalto

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