Fórum Sindical Brasil-México propõe união e força do movimento sindical na América Latina

O último dia do evento foi marcado pelo debate sobre as estratégias de fortalecimento dos sindicatos contra a força do capital

O último dia do Fórum Sindical Brasil-México 2013 ficou marcado pelo debate sobre as estratégias a serem criadas pelo movimento sindical brasileiro e mexicano para superar as crises provocadas pelo neoliberalismo e pela globalização econômica que precarizam as relações de trabalho.

Na manhã do dia 18, o cientista político Ernesto Germano Parrez traçou os eixos centrais que determinam o projeto neoliberal e o fazem continuar dominando o mundo. Segundo ele, a ideia central do neoliberalismo é reduzir o Estado, retirando os direitos dos trabalhadores, da população, aniquilando os benefícios sociais e maculando as relações do trabalho. “Esses são os temas fundamentais do projeto neoliberal. Ele não funciona sem a flexibilização da legislação do trabalho e dos direitos trabalhistas, porque ele não consegue sobreviver sem isso”, declarou.

As mudanças econômicas produzidas pela força do capital culminam com as insistentes e permanentes crises, que, nos últimos 30 anos, se tornaram uma constante. Para Ernesto Parrez, o neoliberalismo produz o chamado “precariado”, denominação dada por ele para a classe operária precarizada. “Esses trabalhadores não têm seus direitos assegurados e garantidos. Grande parcela da classe trabalhadora brasileira está nessas condições, e no México a situação é muito parecida”, explicou.

IMG_6377Diante desta realidade, o cientista afirma que o movimento sindical mundial hoje tem desafios imediatos, que passam pela defesa da igualdade de oportunidades, do trabalho ideológico com os trabalhadores, do aumento da representatividade e da estrutura sindical.

“As entidades precisam estar preparadas para estimular os trabalhadores, dar a eles um conhecimento histórico sobre a importância do movimento sindical. Além disso, é preciso que os sindicatos criem mecanismos de trocas de experiências, bem como fortaleçam essa rede de informações para que o trabalhador não vire massa de manobra”, sentenciou Ernesto Parrez.

Relações de trabalho no México

Para expor a realidade sindical mexicana, Antonio Sparza, coordenador da delegação mexicana no evento, apresentou um retrospecto das relações de trabalho no México desde a escravidão no país.

A constituição mexicana de 1917 forneceu as bases para a formação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), segundo Sparza. “Esse modelo era uma revolução que tentava moderar os excessos e a opulência, além de buscar o progresso por meio da intervenção do Estado nos fatores da produção para o equilíbrio entre patrões e trabalhadores”, explicou.

Com a invasão neoliberal, a incorporação internacional e a substituição do modelo econômico nacional, diminuiu-se o Estado e, segundo Sparza, 1.200 empresas estatais foram privatizadas a preços baixíssimos. O governo, então, abandonou a economia.

IMG_6412Ao longo dos anos, as grandes crises econômicas e financeiras mundiais foram destruindo as empresas mexicanas. “Junto com elas, caíram o PIB, e o desemprego chegou a níveis alarmantes. Em suma, a política de mercado afundou as relações de trabalho no meu país”, lamentou o dirigente.

Antonio Sparza revelou que a unidade e a solidariedade regional trabalhista foram esquecidas. “O capital nunca olha para o lado de baixo, o lado dos trabalhadores. E para mudar esta realidade, precisamos de união, diálogo e muita luta. Brasileiros e mexicanos, vamos caminhar juntos para defender os trabalhadores”, reiterou.

Histórico brasileiro

Juvenal Pedro Cim, diretor de finanças da CSB, expôs aos mexicanos a evolução do sistema econômico e político brasileiro desde a colonização. O dirigente destacou a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, pelo presidente Getúlio Vargas, como o marco histórico do trabalho no Brasil, além do desenvolvimento promovido à época com a industrialização do País.

Sob este contexto, Juvenal Cim criticou os setores da sociedade brasileira que acusam a CLT de prejudicar os investimentos no Brasil. “As teses de que as leis de proteção ao trabalho dificultam o investimento é pura mentira, porque quando tivemos o maior crescimento econômico, essa legislação trabalhista já existia”, argumentou o dirigente, salientando que de 1930 a 1980, o Brasil cresceu, em média, 7% ao ano.

A melhora da condição de vida de parte da população brasileira nos últimos dez anos, especialmente os mais pobres, também foi lembrada pelo diretor. Entretanto ele enfatizou que o País ainda tem desafios estruturais enormes. “O Brasil precisa investir na indústria nacional, melhorando a infraestrutura dos serviços e gerando emprego. Esse investimento interessa ao trabalhador, porque dá oportunidade de trabalho e, consequentemente, de melhora do padrão de vida dele”, pontuou Juvenal Cim.

IMG_6425

O trabalho do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) também foi lembrado. “O Dieese tem muita credibilidade junto aos trabalhadores porque é apoiado pelos sindicatos e trabalha para mostrar a realidade econômica do Brasil”, finalizou o diretor da CSB.

Importância da OIT

Em sua exposição, Francisco Antonio Feijó, presidente da União Mundial das Profissões Liberais (UMPL), destacou a importância da OIT na apuração das questões que envolvem as relações de trabalho no mundo.

Para o dirigente, esta relevância tornou-se ainda mais latente com a ascensão das mulheres ao mercado de trabalho. “A mulher não é mais só mãe ou uma dona de casa. Ela passou a ser um componente do trabalho como o homem. E a OIT precisa se adaptar a esta realidade”, alertou Francisco Feijó.

IMG_6433

União Brasil-México

Os três dias do Fórum Sindical Brasil-México 2013 permitiu uma profunda reflexão sobre como o neoliberalismo, a globalização econômica e a força do capital corroem os países e as populações pobres.

Luiz Sergio Lopes, vice-presidente da CSB, afirma que os movimentos sindicais têm de combater as leis que tiram direitos. “No Brasil precisamos manter a CLT. A nossa missão é defendê-la com unhas e dentes, impedindo que ela seja flexibilizada. Devemos caminhar juntos”, propôs.

Para a delegação mexicana, o evento mostrou que a união latino-americana é essencial para o desenvolvimento e a justiça social na região. “Precisamos ter o sentido de unidade e solidariedade. Há uma chamada para a nossa responsabilidade coletiva, e é nela que devemos concentrar nossos esforços em prol da classe trabalhadora”, concluiu Antonio Sparza.

Veja a galeria de fotos do último dia do Fórum Sindical Brasil-México 2013

Compartilhe:

Leia mais
contra a pec 662023
PEC 66/2023 tenta impor a estados e municípios Reforma da Previdência de Bolsonaro
seca região norte auxílio pescadores
Pescadores afetados pela seca na região Norte receberão auxílio extraordinário
CARF
Empresas do mesmo grupo são solidárias por obrigações previdenciárias, decide Carf
grávida pedido demissão anulado tst
TST anula pedido de demissão de grávida feito sem participação do sindicato
Aloysio correa da veiga presidente tst
Empregado não pode ser PJ, diz próximo presidente do Tribunal Superior do Trabalho
inclusão pessoas com autismo mercado de trabalho
Nova lei promove inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho
Assédio eleitoral trabalhador indenização
Assédio eleitoral: trabalhador demitido por negar apoio a Bolsonaro será indenizado
Lula precisa dar mais segurança aos trabalhadores
Lula precisa honrar seus compromissos e dar mais segurança aos trabalhadores
Golpe internet indenização trabalhista
Justiça alerta para novo golpe sobre pagamento de indenizações trabalhistas
ataque israel líbano beirute 2024
Nota: centrais pedem diálogo pela paz em meio à escalada de conflitos pelo mundo