Segundo estudo feito pelo IPEA, 7,3 milhões de pessoas estão trabalhando em casa durante a pandemia. Mas a maioria dos trabalhadores do país não tem como realizar as tarefas pela internet.
Em muitas empresas, a pandemia forçou a adoção do trabalho à distância, com profissionais com maior qualificação e carteira assinada.
A jornada de contadora do setor da agroindústria e de mãe de um bebê de um ano e dois meses é dupla e puxada, mas a Priscila reconhece o privilégio de estar há mais de um ano isolada fazendo trabalho remoto em casa.
“É muito bom, porque a gente não precisa se preocupar nessa questão da pandemia, de afetar os nossos familiares ou até a gente mesmo”, explica a contadora Priscila Rocha.
A Priscila se encaixa no perfil de um estudo feito pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) do Ministério da Economia, com dados do IBGE.
Ela mostra que 9% dos trabalhadores que não foram afastados estavam em home office, no fim do primeiro ano da pandemia. Deste total de 7,3 milhões de pessoas trabalhando em casa, a maior parte é de mulheres; 65% são pessoas brancas, 76% completaram o ensino superior e 84% têm contrato ou carteira assinada.
“Você tendo oportunidade de se formar, de ter o estudo, é super importante para você conseguir ter algum benefício”, completa Priscila.
O coordenador do estudo diz que 58% das pessoas em teletrabalho estão no Sudeste do país e só 3%, na região Norte. “O teletrabalho não alterou o nível de desigualdade no país. Essa desigualdade, no sentido de que quanto maior a escolaridade, maior renda per capita, maior formalidade no mercado de trabalho, maior o potencial de ser exercido esse trabalho remoto”, explica Geraldo Góes, pesquisador do IPEA.
Para a maioria dos trabalhadores do país, a segurança de exercer as atividades em casa usando a internet tem sido impossível. Para manter comércio, fábricas e os serviços básicos funcionando, mais de 80 milhões de brasileiros continuam indo e vindo para o trabalho todo dia. E, por causa disso, muitos deles se tornaram vítimas da Covid.
Um levantamento feito pelo Jornal Nacional revela que a maior parte dos desligamentos por morte, em 12 meses de pandemia, aconteceu entre aqueles que exerciam atividades essenciais. No topo da lista estão motoristas de ônibus urbanos e cobradores, seguidos por vigias, porteiros e zeladores, motoristas de ônibus rodoviários, vigilantes e motoristas de carros, caminhões e vans.
A festa de aniversário, antes da pandemia, mostra como o motorista de ônibus, José Nascimento Júnior, era querido pelos colegas, que o chamavam de Maguila. Mas, mesmo com a crise sanitária, os ônibus continuaram cheios de gente e o coração do motorista e da família dele, de preocupação.
“Ele falou assim: essa semana entrou uma pessoa no ônibus, estava com uma tosse. Nossa, eu fiquei preocupado. Aí eu falei assim: confia, não vai ser nada não. Ele foi internado na segunda-feira e eu fui levar ele, porque ele não estava bem, não queria faltar no serviço, porque a empresa não queria que ficasse faltando. E ele também não gostava”, conta a viúva do motorista, Dilma Passos.
Maguila morreu de Covid, aos 54 anos, enquanto a mulher estava internada e o filho, sozinho em casa, se recuperando. Os dois ainda esperam receber uma parte das verbas trabalhistas de quem era essencial para a população e mais ainda para eles.
“Era uma pessoa maravilhosa. A gente tinha 33 anos de casado, nós nunca brigamos, a gente era feliz. Eu vou falar pra você, no fundo do meu coração, fui feliz”, diz Dilma.
A empresa Viação Metrópole Paulista, onde Maguila trabalhou, disse que o pagamento das rescisões é feito no prazo legal. Os motoristas e cobradores de ônibus do estado de São Paulo vão ser vacinados a partir do dia 18 de maio.
Fonte: Jornal Nacional