As revelações sobre atos de espionagem cometidos pelos EUA têm o potencial de provocar grandes danos à competitividade
O ultraje internacional com os atos de espionagem da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) na internet está afetando as vendas globais das companhias de tecnologia americanas e prejudicando os esforços do país para promover a liberdade na internet.
As revelações de espionagem em várias partes do mundo poderão custar às empresas americanas até US$ 35 bilhões em receitas perdidas até 2016, em razão das dúvidas quanto à segurança das informações que circulam por seus sistemas, afirma a Information Technology & Innovation Foundation, um centro de estudos políticos de Washington, de cujo conselho de administração participam representantes de companhias como a IBM e a Intel.
“As possíveis consequências são enormes, uma vez que nossa economia depende muito da economia da informação para seu crescimento”, diz Rebecca MacKinnon, membro emérito da News America Foundation, um grupo de estudos políticos de Washington. “É onde está cada vez mais a vantagem dos EUA.”
Qualquer contratempo no esforço americano de manter a internet aberta também poderá provocar danos diretos a companhias como a Apple e o Google, que se beneficiam das redes globais com poucas restrições nacionais.
A Cisco Systems, maior fabricante de equipamentos para redes de computadores do mundo, disse este mês que as revelações envolvendo a NSA estão provocando uma certa hesitação entre os clientes de mercados emergentes.
Na China, os pedidos caíram 18% nos três meses até 26 de outubro. Robert Lloyd, um diretor de desenvolvimento e vendas, disse em uma conferência telefônica em 13 de novembro que “não está havendo um impacto material, mas certamente está fazendo as pessoas pararem para repensar suas decisões”.
As revelações sobre atos de espionagem cometidos pelos EUA, vazadas por Edward Snowden, ex-colaborador terceirizado da NSA, “têm o potencial de provocar grandes danos à competitividade” de empresas americanas como a Apple, o Facebook e a Microsoft, disse Richard Salgado, diretor de aplicação da lei e segurança da informação do Google, ao Senado dos EUA em 13 de novembro. “A confiança, que está ameaçada, é essencial para essas empresas.”
As revelações de espionagem estão levando governos de todas as partes do mundo a considerar “propostas que limitariam o livre fluxo de informações”, disse Salgado. “Isso poderá ter consequências indesejadas, como uma redução na segurança dos dados, aumento dos custos, menos competitividade e prejuízos para os consumidores”.
O alvoroço provocado na Alemanha deverá afetar os negócios da Akamai Technologies no país, segundo Tom Leighton, diretor-presidente desta companhia de Cambridge, Massachusetts, que ajuda clientes corporativos a fornecer conteúdo online mais rapidamente. “A situação está claramente ruim para as empresas americanas”, diz Leighton. “E está particularmente ruim na Alemanha agora, onde o sentimento antiamericano aumentou. Provavelmente vamos perder alguns negócios lá.”
As companhias de tecnologia não são as únicas que enfrentam potenciais danos com o escândalo da espionagem envolvendo a NSA, afirma Myron Brilliant, vice-presidente executivo da Câmara do Comércio dos Estados Unidos em Washington. Estudos mostram que os produtos e serviços que dependem de fluxos de dados internacionais deverão acrescentar um valor estimado de US$ 1 trilhão ao ano à economia dos EUA nos próximos dez anos, observa ele.
“Esta é uma questão prioritária, não só para as companhias de tecnologias e as baseadas na internet, mas também para as pequenas e médias empresas”, continua Brilliant, listando as empresas dos setores de finanças, manufatura, cuidados com a saúde, ensino, navegação “e outras áreas comumente não lembradas como companhias da internet”.
Enfrentando uma reação que já está prejudicando suas vendas na China, a Cisco Systems poderá perder negócios se o governo chinês alegar preocupações com a segurança e favorecer as companhias domésticas em um projetado aumento dos gastos com Tecnologia da Informação (TI) para US$ 520 bilhões em 2015, para aumentar as velocidades de banda nas áreas urbanas e ampliar o acesso á internet nas áreas rurais.
Uma pesquisa feita pela Cloud Security Alliance, uma organização setorial, constatou que 10% de seus associados não americanos cancelaram contratos com provedores de serviços de computação em nuvem baseados nos EUA desde maio. Cinquenta e seus por cento deles disseram que a probabilidade de eles usarem um desses provedores é agora menor.
“As pessoas não vão mais confiar tanto nos EUA e nas companhias americanas”, diz Jason Healey, diretor da Cyber Statecraft Initiative do Atlantic Council, um centro de estudos políticos de Washington. “Começaremos a ver o surgimento de fronteiras nacionais no espaço cibernético.”
O Brasil, por exemplo, está cogitando implementar uma legislação que passaria a exigir de empresas como o Google, o uso de centros de dados locais ou equipamentos desenvolvidos pelo governo. Uma preferência por provedores não americanos poderia afetar empresas como a Juniper Networks, que respondeu por 10% da receita com roteamento do Brasil no primeiro semestre, ou a Cisco, que detém 56% desse mercado. Na Alemanha, a Deustche Telekom é parte de uma aliança de empresas que promove um sistema que iria manter as buscas na internet e o tráfego de e-mails locais dentro do país.
Fonte: Por Nicole Gaouette | Bloomberg
Valor Econômico