Representantes do IPEA e do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário destacaram como a PEC 287 afeta setores fundamentais da sociedade
No último dia do seminário “Reforma da Previdência: desafio e ação sindical”, promovido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em parceria com as centrais sindicais, a mesa de abertura abordou o impacto das mudanças no sistema previdenciário para os servidores públicos, os professores, as mulheres e os rurais.
Debateram sobre os temas Jane Benwanger, advogada e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário; Joana Mustafa, pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); e Evandro Morello, assessor jurídico da Contag.

A advogada explica que as dificuldades criadas com a proposta do Projeto de Emenda Constitucional 287 obrigará as pessoas a correrem atrás da aposentadoria sem nunca saberem ao certo se conseguirão alcançá-la. “Além da ampliação da idade, do tempo mínimo de contribuição e do tempo necessário para se obter benefício integral, teremos o gatilho na idade mínima adiando a hora da aposentadoria de acordo com as pesquisas de expectativa de vida”, avaliou.
Outro ponto apontado como um problema na reforma previdenciária está na alternativa apresentada, que é a previdência privada. “Os programas de aposentadorias fechados ou abertos ofertados pelas instituições não oferecem nenhum tipo de garantia dos valores a receber pelos contribuintes. Nem os bancos e nem as empresas que oferecem programas de aposentadorias privadas oferecem algum tipo de lastro que garanta o recebimento integral do que está previsto. Então todos dos regimes de aposentadorias complementares são um risco para os trabalhadores”, completou Jane.
Diferenças de gênero
De acordo com a pesquisadora Joana Mustafa, as mudanças nas regras farão com que quase metade das mulheres contribuintes não consiga se aposentar, especialmente as que trabalham em piores condições. Para Joana, a PEC 287 irá afetar diretamente as mulheres. Durante o debate, ela destacou que a nova regra proposta pelo governo retira garantias e compensações sociais históricas do sistema previdenciário brasileiro e não apresenta nenhuma contrapartida social ou econômica.
“As compensações existentes – como menos anos de trabalho para se aposentar – não são privilégios, mas regras para corrigir distorções do próprio mercado de trabalho. As mulheres, com o trabalho doméstico e maternidade, trabalham mais que o dobro da jornada de trabalho masculina”, diz Joana.
Segundo o Ipea, um homem e uma mulher de 22 anos e que se aposentam aos 65 têm, portanto, 43 anos de contribuição. Mas, dada a diferença de jornadas, a mulher têm 7,8 anos a mais de trabalho efetivo. A pesquisadora também explica que o argumento de que a tendência mundial é igualar o tempo de trabalho para concessão de aposentadoria tanto para homens como mulheres não é válido para o Brasil. “Os países que fizeram reformas, a desigualdade entre homens e mulheres não é tão grande. Além disso, o sistema previdenciário brasileiro é ‘solidário’, não de ‘equidade individual’, de capitalização”, destaca a especialista.
Trabalhadores rurais

“A PEC tira a expectativa de mais de 70% dos trabalhadores rurais de alcançar a aposentadoria. Isso afeta a economia dos municípios, a produção de alimentos. O governo deveria olhar a reforma pelo critério do financiamento, e não pelo corte de direitos”, afirmou Morello.
Além disso, o assessor jurídico também destacou que a questão da expectativa de vida é um dos pontos que mais afetam os trabalhadores e trabalhadoras rurais. “Os brasileiros do nordeste, por exemplo, vivem em média cinco anos menos que os brasileiros do sul e do sudeste. Não tem como ter uma expectativa de vida homogênea em um país com desigualdades sociais tão grandes”.








