Emprego sobe com inflação menor e ganho de renda

Mais de 200 mil vagas formais foram geradas em setembro; comércio e serviços lideram contratações 

A inflação mais controlada e a recuperação da renda média real podem ter influenciado as contratações de setembro mostradas ontem pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), na avaliação de economistas consultados pelo Valor. De acordo com a pesquisa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no mês houve geração líquida de 211 mil vagas formais, número superior às expectativas e ao apurado em setembro do ano passado (150 mil).

O resultado foi puxado pelos setores de comércio e serviços, responsáveis por mais da metade dos empregos criados no período – 53,8 mil e 70,6 mil, respectivamente. Para Fabio Romão, da LCA Consultores, essas altas são reflexo de um aumento da confiança do consumidor, que voltou a movimentar mais os setores ao sentir a inflação acomodada abaixo de 6% e, por consequência, a menor volatilidade na desaceleração do aumento da renda média real vista desde o começo do ano.

Os salários, lembra o economista, têm avançado em patamar bastante inferior ao do ano passado – cerca de 1,5% ao mês na comparação com o mesmo período do ano anterior, contra 4,1% em 2012, na mesma comparação. A trajetória mais clara do comportamento dos ganhos reais nos últimos meses, porém, tem conseguido estimular o consumidor, na avaliação de Romão.

Gráfico

Os dois últimos resultados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) corroboram com a análise. Os dados do varejo restrito (que exclui as vendas de automóveis e de material de construção) de agosto, divulgados na terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apuraram alta de 0,9% ante julho, feito o ajuste sazonal, e de 6,2% contra agosto de 2012. Em julho, o avanço dessazonalizado sobre o mês anterior foi de 1,9% e, ante o mesmo período de 2012, de 6%. Não por acaso, em agosto e setembro o comércio contratou 87,9% do total de vagas abertas no acumulado do ano. Foram 103,8 mil novos empregos em dois meses e 118 mil entre janeiro e setembro.

A abertura de vagas no setor de serviços, por sua vez, foi disseminado entre os segmentos. Os destaques, comércio e administração de imóveis, valores mobiliários, serviços técnicos (20,5 mil) e serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação (22,6 mil), por serem bastante pulverizados, sinalizam um mercado de trabalho mais dinâmico no mês.

O Banco Fator destacou ainda, em nota, o desempenho da construção civil, que gerou 29,8 mil empregos em setembro, contra 11,2 mil em agosto e 10,2 mil de setembro de 2012. A alta foi disseminada entre todas as regiões, puxada pelo Nordeste, que respondeu por 10,5 mil do total de vagas no setor. Esse é o melhor desempenho para os meses de setembro desde 2010 e ligeiramente inferior às máximas observadas entre 2007 e 2009. Para o vice-presidente de economia do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Eduardo Zaidan, o resultado não indica um ponto de inflexão nas contratações do setor, que considera estáveis, ou um aumento expressivo dos investimentos. “Esses números são reflexo de decisões tomadas há dois ou três anos”, pondera.

A indústria teve resultado pior do que o apurado no ano anterior pelo sexto mês seguido. Para Romão, no entanto, o setor “deu uma resposta positiva quando precisava”. Ainda que o número seja menor do que em setembro de 2012 – 63,3 mil e 66,2 mil postos, respectivamente -, ele sugere que a indústria está aumentando o quadro de funcionários para compor os estoques para as vendas de fim de ano, movimento que ocorre geralmente entre agosto e outubro, e mostra, de certa forma, um restabelecimento da confiança dos empresários. As contratações foram disseminadas em 11 dos 12 segmentos industriais analisados.

O Banco Fator avalia ainda que o panorama mostrado pelo Caged “sugere uma pequena melhora nas condições do mercado de trabalho”. Pelas contas dessazonalizadas da instituição, a criação líquida de empregos subiu de 65,6 mil em agosto para 102,2 mil em setembro. A média móvel trimestral dessazonalizada, por sua vez, avançou de 55 mil para 68,9 mil no mesmo período.

Para Felipe Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, o resultado surpreendente de agosto e setembro deixa pouco espaço para um crescimento mais forte na criação de vagas no mercado de trabalho. O economista projeta taxa de desemprego para 2013 de 5,6%, ligeiramente maior do que no ano passado.

As 211 mil vagas formais abertas em setembro no país marcaram o melhor mês para a geração de emprego desde 2010. No acumulado do ano, foram criados 1.037.752 empregos celetistas, na comparação sem ajuste, e 1.323.461 na série ajustada – que engloba os dados informados pelas empresas fora do prazo.

O Nordeste foi a região que mais gerou empregos em termos absolutos em setembro, com saldo de 78,1 mil postos, superando os 71,2 mil de setembro de 2012 e os 33,1 mil de agosto. A região Sudeste foi responsável pela criação de 72,6 mil empregos no mês passado, e a região Sul, 38 mil.

Entre os Estados, os destaques positivos foram São Paulo, com 45,3 mil vagas, Pernambuco, com 29,9 mil postos, e Alagoas, com 16,3 mil empregos – nos dois últimos, a criação de vagas foi concentrada na indústria de alimentos e bebidas, puxada pelo setor de álcool. Com recordes para o período, o Pará teve 7,3 mil postos abertos – 4,9 mil só na construção civil. 

Fonte: Camilla Veras Mota/ Valor

Colaborou: Eduardo Campos

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