Empoderar as mulheres rurais

Michelle Bachelet  (*) 

No campo, elas trabalham muitas horas e recebem pouca ou nenhuma remuneração, mas produzem grande parte dos alimentos colhidos no mundo

Neste Dia Internacional da Mulher, solidarizo-me com as mulheres do mundo todo pelos direitos humanos, pela a dignidade e pela a igualdade, um sentimento que milhões de pessoas compartilham.

Neste primeiro aniversário da ONU Mulheres, saúdo a todas as pessoas, governos e organizações que trabalham pelo empoderamento das mulheres e pela igualdade de gênero.

A criação da ONU Mulheres coincidiu com profundas mudanças no mundo, que vão desde os crescentes protestos contra a desigualdade até as mobilizações pela liberdade e a democracia no mundo árabe.

Tais eventos reafirmaram nossa convicção de que um futuro sustentável só poderá ser alcançado por mulheres, homens e jovens que desfrutem da igualdade plena.

Desde os governos que modificam leis até empresas que oferecem empregos decentes e remunerações iguais, passando por pais e mães que ensinam seus filhos e filhas que todos os seres humanos têm que ser tratados do mesmo modo, a igualdade depende de cada um de nós.

No século passado, desde que se começou a celebrar o Dia Internacional da Mulher, testemunhamos transformações nos direitos legais, bem como avanços na educação e na participação das mulheres na vida pública. Atualmente, há mais mulheres liderando na política e nos negócios, mais meninas frequentando a escola, mais mulheres sobrevivendo aos partos e podendo planejar suas famílias.

No entanto, apesar dos enormes avanços, nenhum país pode se declarar totalmente livre da discriminação de gênero. Essa desigualdade manifesta-se em persistentes hiatos de gênero nos salários e oportunidades, na baixa representação de mulheres nos postos de liderança, nos casamentos precoces e na violência contínua contra as mulheres, em todas as suas formas.

Em nenhum contexto as disparidades e obstáculos são mais importantes para as mulheres e meninas do que nas áreas rurais. Trabalham muitas horas com pouca ou nenhuma remuneração e produzem uma grande parte dos alimentos colhidos. São agricultoras, empresárias e líderes. Suas contribuições mantêm famílias, comunidades, países e todos nós.

Apesar disto, elas enfrentam algumas das piores desigualdades no acesso aos serviços sociais, à terra e a outros bens de produção. Isso impede a elas e ao mundo o desenvolvimento do seu potencial pleno, o que me leva ao tema principal desde Dia Internacional da Mulher.

Nenhuma solução duradoura será encontrada para as principais mudanças que enfrentamos -desde mudanças climáticas até a instabilidade política e econômica- sem o pleno empoderamento e sem a participação das mulheres do mundo todo.

Sua participação plena na esfera política e econômica é fundamental para a democracia e a justiça. A igualdade de direitos e oportunidades é a base das economias e sociedades saudáveis.

Dar às agricultoras o mesmo acesso aos recursos oferecido aos homens tiraria da fome entre 100 e 150 milhões de pessoas.

Se dessem renda, direito à terra e crédito às mulheres, haveria menos meninas e meninos desnutridos. Estudos demonstram que os maiores níveis de igualdade de gênero guardam uma correlação positiva com números mais elevados de Produto Interno Bruto per capita. Abrir as oportunidades econômicas às mulheres incrementaria o crescimento econômico e reduziria consideravelmente a pobreza.

Hoje, Dia Internacional da Mulher, reafirmemos nosso compromisso com os direitos das mulheres e caminhemos em direção ao futuro com coragem e determinação. Defendamos os direitos humanos, a dignidade e o valor inerente a todas as pessoas, bem como os mesmos direitos para homens e mulheres.

MICHELLE BACHELET, 60, é diretora-executiva da ONU Mulheres. Foi presidente do Chile (2006-2010)

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