O Brasil está próximo dos 50 mil mortos por covid-19, já são 47 mil, e a contagem registra mais de mil óbitos todo dia. Esse é o momento chamado de “platô” da curva estatística, quando o crescimento do contágio atinge o pico e continua alto por um tempo, ou seja, é o auge pandemia do coronavírus. O Brasil é o epicentro mundial dessa que é a maior pandemia em um século, tendo mais casos países que sofreram muito Itália, Reino Unido, e a China, onde o surto começou. Somente os EUA tem mais casos que o Brasil, mas os números apontam a probabilidade de passarmos os americanos se continuarmos com esse nível de contágio.
É diante desse cenário catastrófico que o governador de São Paulo, João Doria, e o prefeito da capital, Bruno Covas, anunciaram um plano de reabertura do comércio e flexibilização da quarentena. O plano é gradual e dividido em cinco fases com diferentes níveis de liberação, e envolve não apenas o comércio, como espaços públicos e outro serviços.
Os governos estaduais vinham oferecendo importante resistência ao descalabro do governo federal ao buscarem orientar suas ações no sentido indicado pelos técnicos da área de saúde, ou seja, do isolamento social como principal medida de contenção da crise sanitária. Sob o comando tresloucado de Bolsonaro e seus militares, o Ministério da Saúde não apenas não contribui com o isolamento social necessário para frear a pandemia, como atrapalha receitando remédios sem comprovação científica de eficácia. Já o Ministério da Economia de Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, tenta chantagear estados e municípios com os repasses federais, cria empecilhos para os auxílios emergenciais para os trabalhadores e para os socorros às pequenas empresas, e tenta forçar uma reabertura precoce das atividades econômicas.
No entanto, diante das pressões de parte da população que de fato não pode ficar sem trabalhar e não recebe nenhum suporte do governo federal, dos empresários, sejam aqueles também deixados de lado pelo governo ou aqueles muito beneficiados mas que não são capazes de se sacrificar em nada pelo restante do país, os tucanos, Doria e Covas, cedem e iniciam a reabertura no auge da pandemia. O próprio plano de flexibilização em si é problemático.
O sistema escalonado em fases de liberação para diferentes cidades não leva em conta o profundo adensamento da região metropolitana da capital que aglomera praticamente metade da população do estado. A cidade de São Paulo e as cidades metropolitanas são totalmente conectadas, com livre circulação da população, como não poderia ser diferente, tendo em vista que muitas pessoas cruzam as fronteiras municipais para trabalhar ou mesmo frequentar o comércio, visitar familiares e etc. Portanto, para impedir o contágio não adianta liberar uma cidade e não outra com base em estatísticas pouco confiáveis.
O fato é que o governo nem mesmo conseguiu impor o isolamento nas metas necessárias de 70% das pessoas em casa, atingindo um máximo de 58%, ficando na média em 50%. O sistema de saúde também se encontra sobrecarregado, com ocupação média dos leitos de UTI em torno de 90%, mesmo com os hospitais de campanha e a liberação de leitos privados. Ou seja, estamos próximos do colapso do sistema, e a liberação do isolamento social vai pressionar essa situação precária até o limite.
Portanto, é preciso repudiar a abertura iniciada por Doria e Covas em São Paulo. Os dois tucanos se juntam a Bolsonaro no desastre sanitário causado por incompetência, negacionismo da ciência, e capitulação aos interesses econômicos privados das grandes empresas.
Por Antonio Neto, presidente nacional da CSB