Para dirigentes sindicais, desvalorização ameaça os trabalhadores e o desenvolvimento da educação no Brasil
Comemorado neste domingo (15), o dia do professor, que nasceu de um decreto do Imperador D. Pedro I, criador do Ensino Elementar no Brasil, tem sido uma data muito além de celebrações. A data é ferramenta de protesto e reivindicação por mais dignidade e melhores condições de trabalho. Se a desvalorização continuar, podem faltar profissionais para lecionar no futuro.
Preocupada, a professora e diretora do Sindicato dos Servidores Públicos dos Municípios de Carpina Tracunhaém, Lagoa do Carro, Paudalho, Itaquitinga, Aliança, Vicência Macaparana e Buenos Aires (SINDEMUC), Maria Mercês, diz que, apesar de pequenos avanços, existem muitos prefeitos descumprindo Lei Federal.
[quote]“Essa é uma data de muita luta, embora nós, professores, tenhamos conseguido avançar na questão de um piso nacional, através do direito adquirido na Lei Federal 11.738 de 2008, muitos prefeitos não têm cumprido o que determina esta lei. Já entramos com ação de quase 400 professores, que procuraram o sindicato reivindicando o direito pelo piso digno”[/quote]
Apesar de sua importância na formação de profissionais de diversas áreas do conhecimento, os professores sofrem com aumento de casos de violência dentro e fora das salas de aulas, por alunos e pais de alunos.
Em pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, mais da metade dos professores de escolas estaduais paulistas já sofreu agressão dentro do ambiente de trabalho.
Segundo o professor e presidente do Sindicato dos Professores das Escolas Municipais de Barueri e Região (SIPROEM), Adenir Segura, a entidade busca ajudar o profissional contra qualquer tipo de agressão.
“Nosso sindicato vem de forma sistemática conversando com os professores e a sociedade em si, no intuito de estabelecer uma nova ordem, um novo relacionamento social para com a educação, que hoje é discurso para todo administrador, mas que depois fica em segundo plano. Por isso, estamos conversando com o professor e com os pais dos alunos para que cobrem das administrações públicas a valorização não só do professor, mas, sim, da educação”, disse Segura.
Além da desvalorização da educação, existe, segundo a professora Mercês, uma mudança de mentalidade dos pais.
“Muitos pais dos alunos perderam a noção de educar os filhos, eles querem passar para os professores toda a responsabilidade de educação, quando na verdade é a família que deve educar os filhos, enquanto a escola vai complementar essa educação. A gente vê muitos pais que não fazem este trabalho na criança, e quando eles crescem faltam com respeito aos professores, que muitas vezes correm risco de vida”, completou a também vice-presidente da CSB, que acredita que a falta de investimento na infraestrutura também contribui para a desvalorização da educação.
Realidade profissional
Levantamento feito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), entre 2011 e 2017, mostra que a insatisfação do professor brasileiro chegou a nível alarmante. Durante a pesquisa realizada no estado paranaense, 35% dos professores, com menos de 10 anos de carreira, das escolas visitadas, já estavam em um nível de stress de quase exaustão. Dentro deste grupo, 59% declararam ter depressão.
Com todos estes problemas enfrentados pelos professores, os dirigentes sindicais entrevistados se mostraram muito preocupados com o futuro da profissão.
“O número de professores que se forma no magistério vem diminuindo a cada ano. Haverá em um futuro, que talvez não seja muito distante, o encontro da falta de profissional de educação com a tecnologia que substitui o professor ou alguns deles”, disse Adenir Segura.
“Eu amei ser professora, mas, pela questão que estamos vivendo hoje, eu pensaria duas vezes em ser professora novamente. Corremos o risco de ter escassez de professores no futuro”, lamentou Maria Mercês.
Sancionada e com data para entrar em vigor, a reforma trabalhista também promete ser outro obstáculo para os profissionais de educação.
“A reforma trabalhista e a da Previdência vêm ferir frontalmente os professores. Mexe no tempo de trabalho e na carga horária do professor. Desvaloriza muito mais ainda financeiramente quando você diz que ele pode negociar diretamente com o patrão, ainda mais lembrando que grande parte dos profissionais são do setor público, e é exatamente o administrador público o que menos tem se mostrado interessado em desenvolver a educação”, argumentou Segura.
Apesar de todas as adversidades, os representantes da categoria demonstraram muito amor ao falar da profissão.
“Ser professor hoje é ser pai, educador, orientador e psicólogo. Hoje, estamos exercendo as funções de pai, pois eles estão deixando a desejar na educação de seus filhos”, finalizou Mercês.