A retomada do crescimento do crédito imobiliário é observada desde 2008
O crédito habitacional deve reassumir, até o fim do primeiro trimestre, o posto de principal modalidade de crédito utilizada por pessoas físicas no país.
A liderança havia sido perdida em meados de 2001, para o segmento de veículos, depois que o governo reestruturou os contratos de financiamento imobiliário, cujos valores estavam distorcidos por anos de hiperinflação.
A pequena diferença de participação para o atual primeiro colocado –o crédito pessoal, que inclui empréstimos consignados, descontados diretamente dos salários– deve ser superada até março, na avaliação de economistas ouvidos pela Folha.
O financiamento habitacional representava, em novembro de 2012, uma fatia de 24,8% do total de R$ 1,1 trilhão em crédito a pessoas físicas, segundo os dados mais recentes do Banco Central.
A parcela era um ponto percentual maior que a do crédito pessoal (25,8%). O nicho de veículos aparecia em terceiro lugar, com 18,5%.
A retomada do crescimento do crédito imobiliário é observada desde 2008, favorecida pelas mudanças nas regras de financiamento –que ampliaram o limite e o prazo dos empréstimos, por exemplo–, pela estabilidade econômica e pelo aumento do emprego e da renda.
QUALIDADE
Mas essa tendência ganha mais força no momento, afirmam especialistas, pelo esforço dos bancos em melhorar a qualidade das carteiras de crédito priorizando linhas com menor índice de calotes, como a habitacional.
“Os bancos, em geral, têm preferido reduzir a exposição a financiamentos como o de veículos, com taxa de inadimplência maior”, diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, empresa de informações financeiras, que avaliou a série histórica do BC sobre os dados de crédito.
“Considerando também que ainda há demanda por residências, a perspectiva é que o crédito imobiliário cresça acima da média das demais modalidades em 2013.”
Rabi ressalta que a parcela do financiamento imobiliário no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, de cerca de 6%, ainda é muito baixa na comparação com a de países desenvolvidos, como EUA (76%) e Reino Unido (84%).
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, afirma que, no cenário de juros mais baixos, os bancos precisam ir atrás de segmentos mais rentáveis, e os consumidores começam a entender melhor e utilizar mais dívidas de longo prazo.
MAIS BARATO
“É um processo natural, mas ainda é novidade no Brasil. Planejar o futuro está mais barato no país hoje, e o crédito imobiliário cai como uma luva”, afirma.
Uma preocupação recorrente no mercado em relação ao crescimento do crédito imobiliário é quanto aos recursos para sustentá-lo –basicamente, os da poupança.
A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) afirma, no entanto, que a captação líquida da poupança habitacional quadruplicou de 2011 para 2012, de R$ 9,3 bilhões para R$ 37,2 bilhões.
“Considerando essa expansão, não há perigo de um eventual esgotamento desses recursos até meados de 2015″, diz Octavio de Lazari Junior, presidente da instituição.
“Mas, mesmo que a perspectiva mude e a captação da poupança diminua, temos outras fontes de recursos que podem financiar o mercado habitacional, como as LCIs [Letras de Crédito Imobiliário] e os CRIs [Certificados de Recebíveis Imobiliários], que têm se desenvolvido.”
Fonte: Folha de São Paulo