Em palestra na abertura do Congresso do Mato Grosso, ex-ministro da Fazenda expôs os entraves ao crescimento do País
A política de desenvolvimento nacional, o combate às exorbitantes taxas de juros e a estagnação da indústria brasileira foram o cerne da palestra de Ciro Gomes, ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará, na abertura do Congresso Estadual do Mato Grosso. Ao escancarar os pilares que travam o crescimento do Brasil, o também ex-ministro da Integração Nacional foi categórico. “O Brasil abriu mão de ter um projeto nacional de desenvolvimento”.
Para o palestrante, há um “desmonte do Estado para entregar a forças de mercado”. “O neoliberalismo foi um mecanismo estúpido. Regredimos aos valores de 1910, hoje a indústria não chega a 9% do PIB”, criticou.
Segundo Ciro Gomes, também é inaceitável que a União gaste 48,3% do Orçamento para pagar juros da dívida. Nesta análise, o ex-ministro destacou o grave desequilíbrio fiscal do País. “ É a maior encalacrada de finanças públicas da história do Brasil”, disparou. O palestrante afirmou que o orçamento previsto como investimento no País em 2017 “dá o menor volume desde a Segunda Guerra Mundial”, o que equivale a 0,4% do PIB. Para o político, o colapso nas contas públicas é um pilar fundamental para a estagnação econômica. “De juro para banco, o Brasil gasta 11% do PIB”, contrapôs Gomes.
Lembrando o atual cenário de desemprego, no qual 14,3 milhões de pessoas estão sem trabalho e outras 9 milhões estão na informalidade, o ex-ministro ressaltou o pífio crescimento desde a década de 1980. “O Brasil cresceu 2% de lá para cá. Na média, o País está estagnado pelo ponto de vista da sua renda relativa”, apontou.
Saídas
Ao criticar duramente o processo de desnacionalização da produção brasileira, Ciro Gomes revelou setores fundamentais que têm seus materiais vindos de fora do País. “80% da química fina de nossos remédios são importados. As fibras que fazem as nossas roupas são estrangeiras. Os celulares são importados. O resultado prático disso é a geração de um desequilíbrio nas contas externas que não temos como pagar”, salientou.
Na análise do ex-ministro, a defesa, saúde, o agronegócio e os setores de petróleo e gás são os grandes complexos com força suficiente para mudar o atual panorama. “Com isso, o Brasil sai do desequilíbrio e a gente pode então imaginar uma moeda estável e aí podemos tratar de uma reforma tributária mais agressiva, de uma reforma da Previdência que não tire direitos e siga uma temática de financiamento para o futuro”, argumentou Ciro, que condenou a PEC 287 ao afirmar que a reforma previdenciária proposta pelo governo mantém os privilégios em detrimento das mulheres e dos trabalhadores rurais.
Ciro Gomes destacou o papel do movimento sindical, especialmente o da CSB na promoção de eventos que proponham o debate da conjuntura social, política e econômica do País. “O Brasil precisa organizar sua classe trabalhadora a partir da lógica dos interesses dos trabalhadores. A participação do povo trabalhador há de ser para lutar. Nesse momento estamos com uma chance de ganhar a parada da reforma trabalhista, que retorna práticas selvagens do século 19. E a luta da CSB está sendo exemplar”, atestou.