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China corta juros novamente diante de desaceleração da economia

China corta juros novamente diante de desaceleração da economia

O banco central informou que continuará a tomar medidas para garantir uma liquidez adequada no sistema financeiro, mas ao mesmo tempo evitando uma “flexibilização excessiva”

A China está intensificando as medidas de flexibilização monetária para enfrentar uma desaceleração econômica pior que o previsto, enquanto as autoridades do país batalham para aliviar as pesadas dívidas de empresas e governos.

O Banco Popular da China divulgou ontem um corte de 0,25 ponto percentual nos juros de referência sobre empréstimos e depósitos, que passa a vigorar hoje. É o terceiro corte que o banco central faz na taxa de juros em seis meses. A medida ressalta o receio crescente dos líderes chineses que o endividamento elevado, resultante da rápida expansão do crédito ao longo dos últimos anos, ameaça minar os esforços do governo para reanimar a segunda maior economia do mundo.

Em um de seus alertas mais claros sobre a piora dos problemas de endividamento na China, o BPC informou, em seu relatório de política monetária divulgado na sexta-feira, que o “o aumento crescente no nível de endividamento está forçando a China a usar uma grande quantidade de recursos para o pagamento e rolagem de dívidas”, limitando o espaço de manobra para uma maior expansão fiscal. O The Wall Street Journal relatou anteriormente que o banco central também está considerando adotar uma ferramenta de relaxamento do crédito que permitirá que governos locais reestruturem suas pesadas dívidas.

Ao mesmo tempo, as medidas adotadas pelo banco central — incluindo dois cortes nas taxas de juros desde novembro — não conseguiram estimular nova demanda por empréstimos. Em vez disso, desencadearam uma forte alta do mercado de ações da China nos últimos meses, o que ajudou as autoridades a impedir uma fuga de capitais, mas também gerou preocupações com operações especulativas. As ações chinesas caíram na semana passada, depois que os reguladores tomaram medidas para limitar a capacidade dos investidores de comprar ações com recursos emprestados.

Pessoas a par das discussões dentro do governo dizem que as autoridades estão cada vez mais preocupadas com o risco de o país não conseguir cumprir suas previsões já reduzidas de crescimento — cerca de 7% para este ano, o nível mais baixo em cerca de 25 anos. Esse mais recente corte de juros ocorreu após a divulgação de dados decepcionantes sobre o comércio, na sexta-feira, e a inflação, no sábado, dados esses que ressaltaram a fraqueza da demanda doméstica e a perda de fôlego da manufatura. O mercado imobiliário, que junto com o setor de construção e indústrias relacionadas responde por 25% do PIB da China, continua em ritmo lento, gerando temores sobre a saúde da economia em geral.

Ao mesmo tempo, o nível de inadimplência de empréstimos está crescendo no vasto sistema bancário da China, alimentando a preocupação das autoridades com o agravamento dos riscos financeiros. Segundo a comissão regulatória do setor bancário da China, os empréstimos inadimplentes subiram em 140 bilhões de yuans (US$ 22,6 bilhões) desde o início do ano, para 982,5 bilhões de yuans em 31 de março, o maior salto trimestral em mais de uma década.

O aumento da inadimplência começa a afetar os lucros dos bancos num momento em que eles estão sendo convocados a tornar o crédito mais acessível. Os cinco maiores bancos estatais da China, por exemplo, viram o lucro do primeiro trimestre crescer menos de 2%, o que se compara a uma taxa de crescimento de dois dígitos normalmente registrada nos anos anteriores.

O corte reduziu em 0,25 ponto percentual tanto a taxa de empréstimo de referência de um ano, para 5,1%, quanto o juro sobre depósitos de um ano, para 2,25%. Em um comunicado divulgado ontem, o banco central destacou a baixa inflação como uma razão para o corte, afirmando que os juros reais, ajustados pela variação de preços, permanecem em níveis historicamente elevados. Além disso, em outro passo para baixar os juros sobre depósitos bancários, o BPC permitiu que os bancos chineses tenham uma maior flexibilidade em decidir o quanto pagam aos depositantes. De acordo com a medida mais recente, os bancos podem aumentar as taxas de depósitos de um ano para até 3,375%.

Uma preocupação particular do BC chinês e outros reguladores é um potencial congelamento do crédito como resultado da alta da inadimplência, dizem autoridades e economistas chineses. Com base em estimativas de economistas do Royal Bank of Scotland, RBS.LN +0.68% mais de US$ 300 bilhões em fundos já deixaram a China nos últimos seis meses, em parte devido ao fortalecimento do dólar e em parte por uma queda na confiança dos investidores na economia do país. Mais capital pode deixar o país se a inadimplência continuar subindo, o que secaria as fontes de recursos para empréstimos.

Como resultado, as autoridades chinesas estão tentando ajudar a aliviar os níveis de endividamento de diversas maneiras, mesmo que isso signifique que o governo tenha que assumir um papel direto em decidir quem serão os vencedores e os perdedores. Em alguns casos, Pequim tem se envolvido diretamente nas renegociações de dívidas de empresas.

Além da dívida corporativa, os líderes chineses também têm atacado as dívidas cada vez maiores em vários níveis do governo. Mas um plano para o swap de dívida por títulos novos, cuja meta é dar a províncias e cidades um pouco de alívio financeiro, enfrenta dificuldades porque muitos bancos comerciais estão se recusando a comprar os papéis novos.

Isso levou o BC a cogitar mais seriamente uma estratégia similar à usada em resgates na Europa, dizem autoridades a par do assunto. Segundo o plano, o BPC permitirá que os bancos comerciais troquem títulos de governos locais que comprarem por empréstimos do banco central, com o objetivo de manter nos trilhos o esforço de reestruturação de dívida sem causar uma crise de crédito dolorosa.

Muitos economistas dizem que a desaceleração acentuada do crescimento econômico da China e a necessidade de solucionar o alto nível de endividamento poderia levar o banco central a lançar mais medidas de flexibilização nos próximos meses. O BC, por sua vez, mantém-se cauteloso.

No relatório de política monetária divulgado na sexta-feira, o BPC informou que continuará a tomar medidas para garantir uma liquidez adequada no sistema financeiro da China, mas ao mesmo tempo evitando uma “flexibilização excessiva”.

Fonte: Valor Econômico