Representante da CSB faz parte do Grupo de Trabalho da Comissão Nacional da Verdade e destaca o papel de reparação política às vítimas do regime militar
O Coletivo Sindical de Apoio ao Grupo de Trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e aos Movimentos Sindicais”, que integra os grupos de trabalho da Comissão Nacional da Verdade (CNV), iniciou suas atividades na manhã de 22 de julho, no Sindicato Nacional dos Aposentados, em São Paulo. O auditório ficou lotado, e o evento proporcionou o encontro das antigas e novas gerações sindicais. A abertura dos trabalhos foi marcada por homenagens aos 30 anos da Greve Geral de 1983.
Além da CSB, mais nove centrais foram convocadas para fazer parte do grupo: CUT, Força Sindical, CSP-Conlutas, CTB, Intersindical 1, Intersindical 2, NCST, UGT e CGTB. O representante da CSB é o diretor do Sindpd Campinas/SP, Ismael Antonio de Souza.
Militante de movimentos organizados contra a ditadura militar, sofrendo prisão e exílio por conta disso, o diretor se comprometeu a contribuir com sua experiência nos objetivos de trabalho do grupo. “A nossa luta não é só pela reparação material por parte do Estado, mas também pelo reconhecimento político da luta dos trabalhadores. É em memória daqueles que tombaram que não devemos nos satisfazer com que alcançamos até aqui”, salientou.
Vários participantes do evento, como os ex-sindicalistas Djalma Bom, Arnaldo Gonçalves e Jozé Luis Del Roio, relembraram que a repressão policial às greves na ditadura, com prisões indiscriminadas e violência desnecessária, se repetiu nas manifestações de junho deste ano pelo país. Foram citados também os trabalhadores que sofreram tortura, prisão, os que desapareceram, além do fechamento de centrais sindicais.
Um dos momentos mais emocionantes foi a exibição de vídeos com imagens da repressão empregada por policiais e militares aos trabalhadores em 1983. Nas imagens em preto e branco, foi possível relembrar cenas de perseguição, ataques e espancamentos sofridos por aqueles que se opusessem ao regime. Os depoimentos de líderes sindicais, como José Maria de Almeida (Zé Maria), Derly Carvalho, Eustaquio V. Nolasco e Raphael Martinelli, também arrancaram aplausos calorosos de todos que assistiam, refletindo a importância e o papel decisivo que líderes sindicais tiveram na convocação da massa trabalhadora contra o aparelho da repressão.
No encontro foram explanados os objetivos e metodologias de trabalho, além do compromisso e respeito que o grupo terá com a reconstituição da memória dos fatos ocorridos nas diferentes fases da ditadura. A coordenadora da CNV e do GT Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, Rosa Cardoso, afirmou ser um privilégio estar à frente desse grupo. “Eu considero esse o grupo de trabalho o mais importante. Os trabalhadores foram o principal grupo que o golpe militar quis atingir. Foi um golpe contra uma república sindical”, ressaltou.
Rosa também reforçou o conceito de que o principal objetivo do golpe militar foi a instauração de um projeto de Estado que suprimisse a classe operária. “Não era a questão política que estava em pauta naquele momento, era a questão dos trabalhadores. Quando a gente contabiliza, percebemos que a repressão se abateu principalmente contra a classe trabalhadora”, afirmou.
Em nota, o Coletivo Sindical de apoio ao Grupo de Trabalho ressaltou a importância histórica da Comissão Nacional da Verdade. Foi comunicado o compromisso dos participantes em dar prioridade aos trabalhos do grupo. Comprometeram-se também a entregar um levantamento de dados dos arquivos de órgãos de repressão e informação da ditadura, além da realização de audiências públicas com agentes do Estado e empresas se forem comprovadas ligações e conivência com os atos de repressão do regime militar. As vítimas, testemunhas, familiares e sobreviventes também serão convocados para prestar depoimento.
O próximo encontro do Grupo de Trabalho será no próximo dia 30, às 9h30, no Escritório da Presidência da República, em São Paulo.
Veja na íntegra a nota do Coletivo Sindical:
Nota do Coletivo Sindical de Apoio ao GT- Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical.
O Coletivo Sindical de Apoio ao GT – Trabalhadores, consciente da importância histórica que a Comissão Nacional da Verdade tem para a sociedade brasileira e, especificamente, para os trabalhadores, vem por meio desta nota reforçar o apoio a Rosa Cardoso, atual coordenadora da CNV. Apoiamos as iniciativas, objetivos e metodologia de trabalho com as quais a coordenadora pretende imprimir ritmo de trabalho para atender as expectativas do conjunto dos movimentos que lutam por memória, verdade, justiça e reparação. Entendemos para isso ser necessário:
1. A imediata recomposição da Comissão Nacional da Verdade (substituição do dr. Gilson Dipp que solicitou afastamento por problemas de saúde), pois a CNV tem tempo limitado de trabalho e contas com apenas 7 integrantes e uma grande tarefa perante a sociedade brasileira;
2. Reivindicamos a volta do dr. Cláudio Fonteles para continuar seu importante trabalho como membro na CNV;
3. A garantia de que todos os integrantes estejam voltados prioritária e realmente para os trabalhos da CNV e que estejam ainda comprometidos não apenas com o direito à verdade, memória e justiça, mas também com uma concepção de Comissão que trabalhe com e para a sociedade, entendendo que o processo é tão importante quanto o relatório final;
4. Que a CNV intensifique as audiências públicas, devidamente organizadas, convocando agentes do Estado e empresários envolvidos nas graves violações aos direitos humanos, bem como as testemunhas, vítimas, familiares e sobreviventes;
5. Que a CNV se transforme num coletivo forte o suficiente para garantir a abertura total dos arquivos dos órgãos de repressão e informação da ditadura, tanto a nível federal como estadual.
São Paulo 16 de julho de 2013
Central dos Sindicatos Brasileiros – CSB
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
CSP – Conlutas
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Força Sindical
Intersindical
Central Geral dos Trabalhadores do Brasil – CGTB