Professor e filósofo atraiu a atenção com a palestra ‘A arte de liderar’ no Seminário de Pauta
“Sou da área de filosofia e, de maneira geral, as pessoas acham que filósofos não trabalham, afinal, nunca ouviram falar do sindicato dos filósofos ou sequer se depararam com uma manifestação de filósofos buscando melhorias para a categoria, por exemplo. Além disso, outra ocupação minha, que para muitos também não significa trabalho, é dar aulas, costumo ouvir a pergunta: Professor, você só dá aula ou também trabalha?”, brincou Mario Sergio Cortella, ao se apresentar no seminário de pauta do Sindpd. Foi com esse bom humor, que o professor deu início a sua palestra, cujo tema é “A arte de liderar”.
Ainda no começo, o filósofo lançou um primeiro alerta: “uma palestra boa é uma palestra insatisfatória”, disse. Logo em seguida, fez-se entender. “quando um filme, um livro ou uma palestra for insatisfatória, no sentido positivo, significa que você pedirá por mais quando o conteúdo chegar ao fim”, explicou.
Diferente da insatisfação negativa, aquela do resmungo e da chateação, a insatisfação positiva, de acordo com o professor, é a alma do negócio no que se refere à liderança. “Essa inquietação leva adiante a vida, a história e todo o processo de trabalho” disse, citando o ambiente sindical: “um sindicato inteligente, com lideranças inteligentes, leva em conta a insatisfação positiva de seus funcionários”, alertou ele, que fez menção a um texto de Guimarães Rosa: “Um animal satisfeito dorme. Pois a satisfação adormece, paralisa e entorpece”.
Quando há inquietação, o profissional vai querer algo a mais e melhor. Essa insatisfação, segundo Cortella, significa que querer mais e melhor é uma virtude. “O nome disso é ambição. O que precisa ter muito cuidado para não ser confundido com ganância”.
O professor e filósofo usou de sua bagagem sobre religião e filosofia para esclarecer a diferença entre ganância e ambição. Para ele, o excesso de ambição pode levar à ganância, esta, por sua vez, existe quando o indivíduo busca atingir objetivos somente para si e a qualquer custo, inclusive passando por cima de outras pessoas. Já a ambição é querer mais estrutura, capacidade, conhecimento e outras melhorias para si e para aqueles que estão ao seu redor.
“O bom líder é aquele que desenvolve a capacidade ambiciosa e rejeita a ganância”, disse Cortella lembrando a crise de 2008, que foi chamada de sexta-feira negra, no dia 24 de outubro, quando a bolsa americana começou a gerar uma crise mundial com a quebra de alguns bancos.
“Não foi uma crise de crédito, e sim de credibilidade. Eles faziam qualquer negócio. A aceleração falsa do crescimento imobiliário deu fundamento àquele episódio”, disse. “Essa diferença entre ganancioso e ambicioso fica claro nesse caso, pois o grande lema das lideranças naquele momento era justamente o “faço qualquer negócio”, e esse pensamento, de que tudo pode ser feito a qualquer custo, traduz um ganancioso”, alertou o palestrante.
Participante de grandes movimentos sindicais desde o início de sua história acadêmica, Mario Sergio Cortella, atualmente professor do curso de doutorado em educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC), garante: “Um sindicato inteligente é aquele que possui capacidade de formação continuada que, portanto, não é uma entidade que apenas possui uma pauta, e sim uma instituição que se prepara para proteger a categoria na qual atua e, uma maneira de protegê-la é o debate e a reflexão, inclusive, com pessoas que possuem ideias diferentes à ideologia política seguida. Pois quando os pensamentos ficam fechados dentro do mesmo lugar, você fica repetitivo e diminui seu repertório. Por isso, um seminário como esse, tem um leque amplo de debates e discussões, o que é muito produtivo pensando nos benefícios ao trabalhador”.
Cortella atraiu a atenção de todos os presentes com seus ensinamentos e conseguiu introduzir a cultura da boa liderança nos dirigentes. Segundo o diretor do Sindpd Waldir Ferreira de Souza, “a palestra dele [Cortella] te eleva como pessoa, como profissional e, no nosso caso, como defensor do trabalhador. Já tive aulas com ele na época que estudei filosofia na PUC. A palestra é uma hora e meia de puro conhecimento e, sem dúvida, um dos melhores convidados que o Sindpd trouxe até hoje, garantiu.
“Eu não conhecia o trabalho do Cortella, e foi excepcional vê-lo aqui falando sobre o nosso trabalho, afinal, temos um líder que é o presidente Antonio Neto. Além disso, todos nós devemos buscar ser um bom líder para as nossas comunidades, aplicando esses mandamentos no nosso dia a dia, disse a diretora do Sindpd de Jundiaí Loide Belchior.
Entre os pontos abordados, o professor enalteceu o que ele chamou de cinco princípios essenciais que todo líder deve ter, são eles:
Abrir a mente: “É quando o indivíduo envelhece sem perder sua juventude mental. O mundo muda o tempo todo e com velocidade, os jovens que estão ingressando no ensino superior hoje não presenciaram a virada do ano 2000. Eles simplesmente não sabem o que é viver sem a presença dos celulares ou dos smartphones, por exemplo. Por isso é preciso acompanhar as gerações”.
Elevar a equipe: “Este tópico exprime o trabalho em grupo e quando o líder motiva seus liderados e possibilita o crescimento de seus liderados. Ora, uma vez motivado e fiel ao seu líder, este indivíduo produzirá mais e trará melhores resultados ao grupo”.
Inovar a obra: “Aqui, estamos falando desse mundo que muda rapidamente e exige adaptações. Para um bom líder, significa poder se reinventar com frequência e facilidade, mesmo em ambientes tradicionais e estáticos. Por exemplo, uma criança, hoje, tem acesso a mais de cinco mil horas de TV antes de ser alfabetizado, o que, automaticamente, exige uma mudança no sistema de ensino”.
Recrear o espírito: “O líder que é capaz de alegrar o espírito de seus seguidores obteve êxito em sua liderança. E isso significa o oposto de seriedade; é o descompromisso. Eu, por exemplo, quero que você tenha vontade de continuar me ouvindo depois desse encontro, mesmo que você esteja cansado, com fome e com sono. Afinal, independente disso, você deve permanecer animado e motivado por seu líder”.
Empreender o futuro: “Por último, diferente do que diz a música de Zeca Pagodinho, deixar a vida te levar não vai te garantir uma boa liderança, pelo contrário, seus seguidores vão ficar à mercê das intempéries. Fazendo uma boa comparação, a letra da música de Geraldo Vandré, que diz, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” representa o modelo de pensamento ideal. Isto é a diferença entre ser proativo e reativo”.
Fonte: Sindpd