A categoria luta para que malha ferroviária brasileira aumente e o transporte de passageiros se torne prioridade
Há 163 anos, no dia 30 de abril, era inaugurada a primeira estrada de ferro do Brasil. Este marco oficializou a data como Dia do Ferroviário. A ferrovia era um trecho de apenas 15 km ligando o porto de Mauá até Raiz da Serra, no Rio de Janeiro. Em 1858, D. Pedro II inaugurou a estrada de ferro que levava o seu nome. Após a Proclamação da República, a linha teve seu nome alterado para Estrada de Ferro Central do Brasil.
Atualmente, a malha ferroviária do País é ineficiente. As ferrovias estão irregularmente distribuídas pelo território nacional. Enquanto a região Sudeste concentra quase metade (47%) das ferrovias, as regiões Norte e Centro-Oeste, juntas, concentram apenas 8%, de acordo com dados do Centro de Estudos e Pesquisas Ferroviárias (CEPEFER). O Brasil possui hoje 30.000 km de ferrovias para tráfego, o que dá uma densidade ferroviária de 3,1 metros por km² – bem pequena em relação aos EUA (150m/km²) e à Argentina (15m/km²).
Segundo Francisco Aparecido Felício (França), presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas (Sindpaulista) e vice-presidente da CSB, as ferrovias estão sucateadas em detrimento das rodovias. O País se afastou dos trilhos nos anos 1950, com o plano de crescimento rápido do presidente Juscelino Kubitschek, que priorizou rodovias. A construção de ferrovias era lenta para fazer o Brasil crescer “50 anos em cinco”, como ele queria. Em seis meses, você faz 500 quilômetros de estrada de terra. Isso em ferrovia leva três anos”, disse.
De acordo com dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), uma única linha de metrô transporta até 60 mil passageiros por hora, enquanto um corredor de ônibus leva 6,7 mil. No Brasil, metrôs e trens tiram das ruas 14 mil ônibus e 1 milhão de carros ao dia. “Trens são imbatíveis em carregar muita gente de uma vez . Com mais linhas, o efeito se alastraria para as rodovias. Com mais trens de passageiros, as pessoas gastariam menos tempo no trânsito e a poluição também seria menor”, afirma o dirigente.
Um trem lança na atmosfera dez vezes menos gás carbônico por tonelada do que um caminhão. Isso porque, no Brasil, trens usam uma mistura que tem 20% de biodiesel, enquanto caminhões costumam usar outra com 5%, segundo relatório da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). “Além disso, caminhão vira sucata cedo. Sua vida útil é de dez anos em média. A do trem, 30 anos. Os políticos precisam começar a olhar para os trilhos. O Brasil tem que se tornar, enfim, um país de ferrovia”, ressaltou França.
Bandeira de luta
De acordo com França a palavra chave e meta para esse ano é luta. “Muita luta pela manutenção dos direitos conquistados ao longo de mais de 100 anos de história. Luta também no sentido de sensibilizar as autoridades, no processo de revitalização do sistema ferroviário no modal de cargas e de passageiros. É impossível ficar alheio à necessidade de se ter um transporte ferroviário eficaz em todo território nacional,” explica.
Nos últimos anos, o Sindpaulista tem desenvolvido alguns trabalhos visando a valorização do setor. Uma das bandeiras levantadas pela entidade é a extensão dos serviços da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até a cidade de Campinas (SP). “Essa extensão serviria as cidades de Louveira, Vinhedo e Valinhos, trazendo grandes benefícios aos seus moradores, visto que ganhariam mais uma boa opção de transporte. A extensão também teria reflexo na melhoria do sistema rodoviário, com uma redução considerável de veículos que viajam até São Paulo, principalmente pelas rodovias Anhanguera e Bandeirantes, que hoje se encontram saturadas”, diz o presidente França, que trabalha para que o setor seja valorizado como no passado.
“Cabe a lembrança que onde os trilhos da Cia Paulista de Estrada de Ferro chegavam, cresciam as cidades, fato de fácil constatação. Como brasileiro e principalmente representando milhares de trabalhadores ativos, aposentados e pensionistas ferroviários, tenho esperança que ainda ouviremos os apitos das locomotivas transportando a riqueza nacional,” completa o presidente.