Desvalorização, violência e propostas de retrocesso dos direitos marcam a realidade da categoria
O dia 25 maio não é atualmente uma data de comemoração para os trabalhadores rurais. Os mais de 14 milhões de trabalhadores da categoria, regulamentada pela Lei 5.889, de 1973, enfrentam um cenário de retrocessos causados, entre outros pontos, pela reforma da Previdência, pelo Projeto de Lei 6.442/16 – que pretende remunerar os trabalhadores com comida e moradia no lugar do salário –, pela informalidade, a mecanização do campo e a violência.
Maria Lucinete Nicacio de Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Careiro, Manaus e Iranduba e 1ª Secretária do Meio Ambiente, acredita que falta respeito por parte dos governantes, e faz um alerta.
“Estamos retroagindo e sem perspectiva. Não temos negociação, não temos financiamento, o dinheiro para o trabalhador é pouco e, além de tudo, acabaram com o nosso Ministério. Para mudar esta situação, precisamos de respeito por parte do governo. Se o campo não produzir, a cidade não terá alimento. Se cada vez mais o trabalhador for para cidade, o País vai virar um caos. Somos um país de produção mundial e visto assim pelas outras nações. Se não houver a gente do campo, vamos nos transformar em um país importador. Alimentamos a Nação e estão retirando nossa aposentadoria especial, não temos o que comemorar, e sim muito o que reclamar”, criticou a dirigente.
Segundo Silvana Cândido, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sapopemba (PR), o cenário é sombrio.
“Poderíamos estar comemorando os assalariados com carteira assinada, segurança e saúde no trabalho. Poderíamos estar comemorando o fim do trabalho escravo e informal e que os trabalhadores da agricultura familiar tivessem mais acesso à terra, sem tanta burocracia. Mas, infelizmente, só temos retrocessos aos direitos trabalhistas, direitos estes conquistados através de mobilizações, lutas e muito sangue do homem do campo. Hoje, assistimos um Congresso submisso aos mandos dos banqueiros e de grandes empresários. Assim, estão jogando no lixo anos de muito trabalho dessa gente de mão calejada e pele queimada do sol, que não cansa de trabalhar para alimentar a Nação. Nossa categoria sempre foi desvalorizada, mas desta vez estamos sendo massacrados”, lamentou.
O presidente da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), Jotalune Dias dos Santos, concorda que as condições da categoria são gravíssimas.
“Estamos em um período de muita violência contra o trabalhador do campo, a mecanização chega de forma definitiva e em quase na sua totalidade, o que causa muito desemprego e enfraquecimento das organizações sindicais. Temos também projetos de leis que retiram nossos direitos. Este é um ano para se contabilizar muito prejuízo, mas, ao mesmo tempo, é um período de muita luta e de reorganização da categoria, para que no futuro a gente consiga algo melhor para contar”, falou Santos.
Ao contrário de toda tecnologia e propaganda em torno do agronegócio, o trabalhador rural ainda é tratado como há décadas atrás.
“Hoje nós temos tecnologia de primeiro mundo no campo, o agronegócio do Brasil é pioneiro, somos exemplos para o mundo, mas, infelizmente, temos as mesmas práticas dos anos 60 quando se trata dos trabalhadores envolvidos neste processo. Parece que estamos no período da escravidão. Somos desvalorizados e estamos desestimulados, mas quando você pensa que está ruim, aparece alguém para tentar piorar”, finalizou o presidente da Feraesp, se referindo ao PL 6442/16, de autoria do deputado federal Nilson Leitão (PSDB/MT).