Antonio Neto: Sindicatos devem aproveitar tecnologias e se adaptar para sobreviver

A inovação na forma de atuar a partir da utilização de novas tecnologias implementada pelo Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo) nos últimos anos foi destaque durante o 7º Movimento Sindis, evento voltado a sindicalistas realizado na terça-feira (19) em Belo Horizonte (MG).

O presidente do Sindpd e da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto, foi convidado pelos organizadores do evento para contar como foi o processo de adaptação do sindicato às mudanças no mercado de trabalho e nas leis trabalhistas e como a tecnologia vem sendo utilizada para reaproximar o sindicato da base e otimizar sua atuação.

Panorama

Ele iniciou apontando como as tecnologias disruptivas têm transformado o mercado de trabalho rapidamente, mudando ou até eliminando setores inteiros, mas também criando novos mercados. Alguns exemplos de mudanças citados foram:

  1. Automação: substituição de tarefas repetitivas por máquinas e inteligência artificial, especialmente em fábricas e setores administrativos;
  2. Teletrabalho (home office): a digitalização permite a descentralização do trabalho, com mais pessoas trabalhando remotamente. O antigo “chão de fábrica” agora é um grupo no Whatsapp;
  3. Novas profissões: surgimento de novas funções ligadas a IA, ciência de dados, segurança cibernética e desenvolvimento de softwares.

Tecnologia em prol dos trabalhadores

Neto destacou que agora os sindicatos precisam repensar seu papel atuar para garantir que os direitos dos trabalhadores sejam adaptados às novas realidades tecnológicas, incluindo regulamentação do trabalho remoto, proteção contra a automação descontrolada e acesso à qualificação.

Para ele, a redução da jornada de trabalho é uma das principais propostas para garantir que os trabalhadores também se beneficiem do avanço tecnológico.

“Em vez de concentrar os benefícios da tecnologia apenas em aumento de lucros, a redução da jornada oferece mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional e maior qualidade de vida para os trabalhadores. Mas cada vez mais empresas têm visto que elas também podem se beneficiar com a redução da jornada, reduzindo afastamentos, a rotatividade, estimulando a inovação e a produtividade sustentável”, disse.

Adaptar-se e sobreviver

O processo de reestruturação interna e redesenho do seu papel e forma de atuar foi iniciado no Sindpd-SP durante a pandemia de Covid-19, mas começou a ser planejado desde que a reforma trabalhista de 2017 mergulhou todo o movimento sindical brasileiro em uma crise profunda, retirando repentinamente mais de 90% da sua fonte de sustento.

“O primeiro passo é entender que o passado não volta. Não devemos abrir mão dos nossos princípios, mas precisamos estar dispostos a pensar em alternativas que nos fortaleçam e construam sindicatos fortes. A Teoria das Espécies de Darwin já dizia: sobrevive aquele que melhor se adapta às mudanças, é isso que precisamos fazer para seguir cumprindo nosso papel na defesa dos trabalhadores”, afirmou Antonio Neto.

Ele destacou cinco medidas que foram implementadas pelo Sindpd aproveitando as possibilidades criadas pela tecnologia:

  1. Plataformas de denúncia: o sindicato criou diversas plataformas e canais digitais de denúncias, facilitando o acesso e a segurança dos trabalhadores ao denunciar irregularidades.
  2. Pesquisa: foi criada uma equipe voltada apenas para pesquisa, investigação, avaliação e acompanhamento das denúncias que agora chegam de forma mais rápida e em maior volume ao sindicato.
  3. Business Inteligence (BI): utilização de ferramenta de BI para levantamento de informações e dados para amparar a atuação sindical.
  4. Redes sociais e comunicação: foi implementada uma nova estratégia de comunicação, mais rápida e acessível, com ampla presença nas redes sociais.
  5. Sindplay: plataforma de streaming de qualificação profissional disponível gratuitamente para sócios e contribuintes.

O Sindplay foi destacado como um exemplo de como o sindicato pode expandir seu papel para além da negociação coletiva e suporte jurídico aos trabalhadores. A plataforma, que reúne cerca de 100 cursos na área de TI e é atualizada semanalmente, foi premiada na categoria Inovação do Sindimais 2024 – maior prêmio do meio sindical – e foi construída inteiramente com recursos do sindicato.

Leia também: Sindplay é destaque no Sindimais 2024: ‘na crise emergem as grandes ideias’

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