O crescimento da produção e do uso de inteligência artificial nas empresas e na economia traz impactos sobre o mundo do trabalho. Apesar de ter o potencial de substituir ou reduzir a quantidade de mão de obra em determinadas ocupações, os especialistas ouvidos pela reportagem sugerem que, ao mesmo tempo, a inteligência artificial, também chamada de IA, cria novas necessidades no mercado de trabalho.
O presidente da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro, Ruben Delgado, aposta que o potencial de criação de empregos é maior que o de fechamento de vagas.
“Quando chegaram os computadores, todo mundo falava que os computadores iam tirar empregos. Depois veio a internet, e a internet ia tirar empregos. Hoje todo mundo está preocupado com o número de emprego que a inteligência artificial vai tirar. Sim, IA vai destruir empregos, mas vai construir outros. Então, é muito importante que essa migração dos trabalhos seja suportada por políticas públicas”.
Ao tornar a cadeia produtiva mais complexa, a inteligência artificial cria novos empregos no próprio desenvolvimento e administração dos dispositivos, segundo argumenta o neurocientista e especialista na tecnologia, Álvaro Machado Dias. Por outro lado, algumas funções mais bem remuneradas estariam mais vulneráveis à introdução da inteligência artificial na economia.
“Quais são as profissões mais ameaçadas pelo avanço da inteligência artificial? Não são as profissões de base, mas são, por exemplo, na área da medicina, na área de engenharia, na própria ciência da computação, fortemente. São profissões muito bem remuneradas – até porque existe o interesse de substituir tarefas e funções bem remuneradas do que mal remuneradas”.
O perfil profissional que a inteligência artificial necessita para seu desenvolvimento e aplicação é aquele ligado à tecnologia da informação, cibersegurança, ou o especialista em transformação digital e digitalização industrial, segundo identificou o gerente de Inovação e tecnologia do Serviço de Aprendizagem Industrial (SENAI) de São Paulo, Osvaldo Lahoz Maia.
“Cientista de dados, especialista em Big Data… esses são os novos perfis estão nascendo agora e já que tem uma procura imensa. O mercado de trabalho está absorvendo (esses profissionais) a peso de ouro (…) a necessidade que as empresas estão apontando é muito grande”.
O projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados que discute o Marco Regulatório da Inteligência Artificial no Brasil inclui como diretriz para atuação da União, dos estados e dos municípios o estímulo à capacitação e a preparação das pessoas para essa reestruturação do mercado de trabalho. A previsão é que seja votado ainda neste ano.