Para Zilmara Alencar, reforma trabalhista “é uma forma de escravidão contemporânea”

Advogada e consultora de relações sindicais criticou durante os retrocessos que o PLC 38 estabelecerá na vida dos trabalhadores

“Se essa reforma vem sendo criticada sobre a pecha de que ela fere direitos constitucionais, ela está tirando o mínimo. Quem precariza o que já é precário escraviza”. Com essa máxima, Zilmara Alencar, advogada e especialista em Direito Processual, apresentou aos dirigentes do Congresso Estadual do Mato Grosso as consequências da reforma trabalhista.

Segundo a consultora de relações sindicais e trabalhistas, o PLC 38 “traz prejuízo à relação capital-trabalho, aprofunda a insegurança jurídica e facilita a fraude nas relações de trabalho”. “É uma outra forma de escravidão, é uma escravidão contemporânea. Para sobreviver, o trabalhador está disposto a fazer o que oferecerem a ele em troca de uma mera sobrevivência”, disparou. “E vêm dizer que isso não é escravidão? Que essa proposta não viola a dignidade da pessoa humana? É uma escravidão velada”, completou a palestrante.

Zilmara Alencar criticou duramente o negociado sobre o legislado, o trabalho intermitente, a precarização do trabalho das mulheres e alertou que o projeto incentiva a demissão imotivada. “Essa reforma que dizem que não tira nenhum direito já é posta num cenário precário, de desemprego, informalidade, trabalho escravo, práticas antissindicais, assédio moral. Tudo isso agravado por ilícitos e crimes disfarçados. O mero não recolhimento de previdência, do FGTS, impacta na vida dos trabalhadores”, argumentou a advogada.

Para a consultora, a reforma trabalhista viola a Constituição Federal e convenções internacionais ratificadas pelo Brasil, como as Convenções, 98 e 154 – que têm o objetivo de promover a negociação coletiva para a melhoria das condições de trabalho, para que essas condições alcancem patamares superiores aos previstos na legislação – e a Convenção 155, que trata da saúde e segurança do trabalhador. “A Constituição trouxe um patamar mínimo civilizatório. Ela [a reforma] não respeita sequer direitos adquiridos. O PLC 38 vem desconstruindo todo cenário de proteção ao trabalhador, acarretando grave violação a princípios e regras previstos na Constituição Federal de 1988, excluindo limites constitucionais e legais necessários para um trabalho digno, decente e protetivo”, declarou.

Coisificação do trabalhador

De acordo com pesquisa do portal Poder360, 62% dos entrevistados são contra a reforma trabalhista. Ao traçar uma linha do tempo da tramitação da proposta, desde o envio pelo Executivo à Câmara até a atual tramitação no Senado Federal, Zilmara criticou o relator do projeto na Casa, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES). A consultora afirmou que o parlamentar “abriu mão das suas competências de legislar e joga para o Executivo” e lembrou a falta de diálogo com a sociedade sobre o tema. “Na tramitação junto à Câmara dos Deputados, o projeto recebeu 840 emendas, sendo aprovado substitutivo sem amplo debate social com os setores interessados”, salientou a especialista em Direito Processual.

Alertando para o aprofundamento da insegurança jurídica, a palestrante classifica a reforma como a “coisificação do trabalhador”. “Não há dúvidas, o trabalhador é tratado, agora de forma legal, como mercadoria, com a diminuição da proteção social e uma visível reformulação do direito coletivo do trabalho”, sentenciou.

O projeto, para Zilmara Alencar, representa uma verdadeira falácia. “Essa reforma trabalhista fragmentada traz uma alteração da estrutura sindical e tira as prerrogativas que antes eram de exclusividade do movimento sindical”, alerta a consultora, que lembrou a rejeição à proposta na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, em sessão realizada nesta terça-feira, 20. Entretanto, a palestrante criticou o novo relatório, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), apresentado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e que propõe a aprovação do PLC 38 com todos os retrocessos à classe trabalhadora.

Clique aqui e veja a apresentação completa 

Veja a galeria de fotos

Compartilhe:

Leia mais
Sinplalto filiação CSB
Sindicato dos Servidores Municipais da Microrregião de Araxá anuncia filiação à CSB: "nova fase"
vagas emprego sine carteira de trabalho digital
Vagas de emprego do Sine estão disponíveis na Carteira de Trabalho Digital
emprego e beneficios sociais reduzem pobreza no brasil
Luiz Marinho destaca conquistas lideradas pelo Ministério do Trabalho em 2024
Sindpd aciona empresas que usam desoneração sem enquadramento sindical
Sindpd-SP inicia processos contra empresas que utilizam desoneração sem enquadramento correto
intercambio sindical em Washington
Sindicalistas do Brasil e dos EUA trocam experiências em programa de intercâmbio em Washington
INSS pagamento automatico auxilio doença
INSS suspende bloqueio de pagamento do benefício por falta de comprovação de vida
fake news não há nova contribuição sindical
Ao contrário do que diz a imprensa, não há nova contribuição sindical em discussão no país
reunião dieese servidores públicos
Servidor público, participe de reunião estratégica na defesa de seus direitos; acesse o link
Fessergs toma posse no conselho do IPE Saude
Presidente e vice-presidente da Fessergs tomam posse como conselheiros do IPE Saúde
TST novas regras recursos
Admissibilidade de recursos no TST tem novas regras a partir de fevereiro; saiba o que muda